sábado, 31 de maio de 2008

Navegar é impreciso

Minha cyber filha reclamou que estão levando tudo muito a sério neste blog. E ela tem razão. Eu achei que ela tinha feito uma piada com John Cage. O que era verdade. Mas aí o Westinhouse, desculpe, Servio, não consigo decorar o nome desse seu alterego, rsrs, achou que era a sério. (Logo o Sérvio, sério? Sério Tulio?! Nunca. Em nome de nossa last lost generation, protesto. It was certainly a misunderstanding, sweetie darling.) Aí, eu, que sou muito burra, fiquei na dúvida. Enfim, showbusiness não é sério. Quem é que ainda pode acreditar nas boas intenções de um artista dos mass (class) media, seja ele quem for? Eu, particularmente, sou uma marketeira. Madonna também é. Eu penso no produto a partir do apelo de mercado que ele pode vir a ter. Madonna é muito mais compentente do que eu, porque ela nasceu e foi criada no país do marketing. Eu sou aprendiz. Ainda assim, me considero vitoriosa, porque inventei, há quase trinta anos, um personagem em que muita gente acredita até hoje.

Eu ainda sinto vontade de rir ao ouvir o nome Mathilda, quando alguém se dirige a mim. A primeira vez, foi impagável. Em 1985, eu estava num aniversário bizarro de uma amiga. Ela deu um chá só pras mulheres, cujo acepipe mais freqüente eram uns baseados poderosos. A mãe, que era careta, fingia o tempo todo que estava achando tudo ótimo. E esta minha amiga, que nunca me chamava de Mathilda, ia me apresentando às amigas, um bando de socialites das artes cariocas, por esta alcunha, e eu prestes a explodir numa gargalhada. Minha mãe, por sua vez, dizia: "minha filha, eu me arrependi do nome que te dei e concordo que você mude pra outro. Mas Mathilda?! Isso não é pseudônimo que se apresente! É uma caricatura!" E, de fato, era. Eu fiz um corte de cabelo, à la Betty Boop, passei a usar roupas de brechó, bem Ab Fab, e inventei uma biografia maluca para um personagem insano. Mathilda Kóvak é minha Edina Monsoon. O problema é que eu nunca tive um palco pra ele e fui obrigada a encená-lo na vida. Meu projeto era, passados alguns anos, escrever um livro: "Mathilda Kóvak, faça você mesma o seu mito." Mas Mathilda me tomou tanto que eu nunca tive nem tempo nem disponibilidade para escrever este que acreditava ser um best seller. Mathilda virou uma compositora pop, com 200 músicas no mercado. Eu mal sabia fazer dois acordes no violão e fui elogiadíssima pelo Jacques Morelembaum, que, portando uma penca de partituras, me explicava a complexidade melódica de minhas canções e eu, com cara de Lucille Ball, aliás, Lucy Ricardo, sem entender uma linha sequer do que eu mesma tinha escrito, começando a me convencer de que ou era um gênio involuntário ou eu tinha psicografado aquilo tudo. De fato, eu acho que psicografo tudo o que escrevo e, durante anos, eu passei a assinar, por exemplo, Alfred Hitchcock, com a explicação: mensagem psicografada. Porque, já que é pra falar a verdade, eu não passo de uma imbecil carismática. E, se carisma fosse virtude, Adolf Hitler seria um santo. Sou uma paspalha. Inventei uma expressão, que Rita Lee citou numa letra, "fogo de Camille Paspaglia", pra designar esse tipo de armação que eu e ela somos. Um fogo fátuo. Não deixaremos rastros. Mas como não aconteceu nada de verdadeiramente importante depois de Shakespeare, eu até que quebro um galho neste universo de falsificações prêt-a-porter. Mas, sim, eu queria ser couture. Mas não dá Chanel no mundo como mato em Teresópolis. Então, sigo com meu mito de quinta, no meu Olimpo de Terceiro Mundo. Porém, yes, banana is my business, e eu já tenho dados para escrever minha sonhada autobiografia! Tudo o que fiz na vida foi para incluir nela. E hoje eu me orgulho de ser a verdadeira Mathilda falsa. Sou fake, sem falsidade.
Agora, não sei navegar nessas circunavegações cibernautas. Sou neófita porque velhófita. Então, me desculpem leitores e cyber filha - momento Clodovil arrependido - mas não quis tornar este blog enfadonho, como, aliás, são os blogs. Ainda leio livros, não porque os considere superiores, mas porque eles podem ser lidos na cama, na horizontal, que sempre foi minha posição predileta, Hans Castorp de Niterói que sou. Tesa e tísica.

Eis-me, pois, despida finalmente, ainda que, admito, minha silhueta já tenha visto melhores dias. Sou violonista auricular. Otorrina literária. Orelhas e lombadas são o meu forte. Recolhidas as informações necessárias... em breve, não percam a morte retumbante de Mathilda Kóvak nestas mal-digitadas páginas. Mas do meu caos, creiam-me, maravilhosos leitores, linda filha, nascerá uma fulgurante bailarina.

3 comentários:

Renan Sanves disse...

Mathilda, vc é a coisa mais verdadeira de que tive notícias de uns dois anos pra cá

Servio Tulio disse...

OH ELETRODOMÉSTICO AMIGO!
(It’s Magiclick!)
lETRA E MÚSICA: eDGARD wESTINGHOUSE

Enquanto somos fabricados em provetas
Enceradeiras dão mais brilho ao chão do planeta
E quando formos atingidos pelo mal da solidão
Deus virá nos confortar em cores na televisão

Quando estamos mui cansados para fazer o que comer
Temos freezer para gelar e micro-ondas para aquecer
Enxuguemos nossas lágrimas com um Braun secador
Arejemos nossas mentes com um bom ventiladorrrrrrr

It’s Magiclick! It’s Magiclick!
Não devemos temer mais o perigooooo!
It’s Magiclick! It’s Magiclick!
Oh! Eletrodoméstico amigooooo!

Faet Telefunken Frigidaire Arno
Mitsubishi Sony Sanyo Philco Philips Aiko
Britânia GE Elektrolux Wallita
É a mágica da vida, La dolce Vita!

It’s Magiclick! It’s Magiclick! (etc... refrão)
Oh! Eletrodoméstico amigooooo!

Pois a tal felicidade consiste no frescor
De um ar refrigerado quando estamos com calor
Emoções que se misturam num liquidificador
Tudo funciona direito quando é feito com amor!
AAAAAAAAAMMMOOOOOOORRRRRRR!!!!!!!!

Renan Sanves disse...

Eu adoraria ler ''Mathilda Kóvak, faça você mesma o seu mito''
......................
Edgard Westwind, gostei da música