Contei pra minha cyberfilha um cyberfenômeno que testemunhei, depois do post sobre os Stones. Talvez tenha parecido ali que eu estivesse fazendo a apologia do demo, ou o contrário. Nem uma coisa, nem outra. Mas o fato é que, assim que postei a elegia stoniana, recebi um email ameaçador, que jurava me tirar do ar, no mesmo instante, e observei que o número, na caixa postal era 666. Brrrrrr! Ou foi uma dessas sincronicities, advogadas por Carl Jung, ou cutuquei mesmo a besta com vara curta. Então, como não sou mulher de retirar o dito por medo, prefiro, antes, explicar:
Nos anos 60/70, revoluções ocorriam a cada minuto. Recentemente, Catherine Millet, considerada a sucessora de Foucault, comentou que as revoluções daquela época derrubaram padrões para instituir outros. Isto é, viraram instituições rígidas, como as que almejavam demolir. Assim, você era obrigada a perder a virgindade, a se drogar, a ser de esquerda, a ser hippie, enfim, uma patrulha ideológica chatíssima. Mas, ao mesmo tempo, havia quem andasse ao largo disto. Os Stones nunca carregaram bandeira. Eis por que sempre os preferi aos Beatles, que tinham aquela máscara ideológica, do tipo, abram alas para nossa limusine passar, porque nós acreditamos na luta de classes. Já os Stones queriam apenas ser. Na época, o tinhoso estava em baixa. Mesmo as religiões diziam que ele não existia. Porque, com o (desodorante) avanço da ciência, quem é que iria acreditar numa criatura com chifres, rabo, e pés de cabrito?! Então, se dizia que o que se lia na Bíblia era simbólico. Foi assim, creio, que tanto Raul Seixas, que afirmou ser o diabo o pai do rock, quanto Jagger, com seu "Simpathy for the devil", brincaram com fogo, no melhor estilo Brasinha.
Mick esteve no Brasil, nos sixties, e adorou um ponto de macumba que ouviu na Bahia. Assimilou o ritmo e fez esta que é uma de suas canções carro-chefe. Em "Gimme Shelter", concerto que fez em Altamont, durante a execução da música, um Hell`s (brrrr!) Angel, responsável pela segurança da banda, esfaqueou um sujeito da platéia, e o gesto foi considarado o fim do flower power, porque, dali em diante, os shows passaram a ser em palcos distantes da multidão que, antes, ficava colada a ele, juntinho dos ídolos. Não raro, subia um no palco e agarrava Mick (ai, o que eu perdi!!!!)etc. Mick Jagger repudiou o ato e teceu duras críticas aos Hell´s Angels, que o juraram de morte. Dizem que foi tudo obra da música, que tanto garante até hoje o sucesso do grupo, quanto o obriga a se apresentar, já sexy-agenário, em tours gigantes.
Como neoiluminsta que sou, tendo a repudiar estas crendices. Acho que, se é pra acreditar nos mitos defendidos pelas religiões oficiais, então, há que se crer em mula-sem-cabeça e que-tais, posto serem tão inverossímeis quanto. Mas Jung já explicava e defendia a força dos mitos e símbolos. Então, a palavra com sua estanha potência é capaz de portar e transportar toda a energia de uma simbologia antiga e causar alguns estragos. Portanto, lavro aqui minhas desculpas ao oculto, seja ele quem for, e espero não pronunciar seu nome em vão, doravante. Não sou grande como Mick Jagger, para mexer com tais mitos e me safar, vitoriosa.
Contei tudo isto a Mary que me aplicou, no sábado, obras completas de Madonna, para me purificar. Observei que Madonna evoluiu muito como performer e personalidade. Mas eu curtia mais o som que ela fazia no início. Ela cresceu muito como atriz e foi conquistando formas muito interessantes, do ponto de vista audiovisual. Mas sou mais fã de suas letras antigas. Acho que Madonna é uma grande atriz, uma estrela, como Marlene e Marilyn, mas ela foi sacaneada por Hollywood, só porque falou mal de Kevin Costner, membro da máfia hollywoodiana. Então, não se fez de rogada. Tratou de criar seu próprio cinema, maravilhoso, que podemos ver nos DVDs. Mick sofre a mesma descriminação. Os machões que tomaram Hollywood, de uns tempos pra cá, transformando-a numa fábrica de tédio, não querem bichas, como Busby Berkeley, Cecil B. De Mille, Esther Williams...Mick e Madonna. Então, fica esse troço enfadonho de homem. Qualquer dia, a gente só vai ver futebol no cinema. O mundo todo está se masculinizando, ao contrário do que nós, dos 60/70, imaginávamos. Então, louvo, muito, a existência de uma Madonna que, ainda que vítima de uma musculatura masculina, e de uma certa atitude macha, é muito fêmea e mulher. O mesmo digo de Mick. E é interessante notar como eles são antíteses que, um dia tocadas, possivelmente farão a síntese, por que todos nós, mortais, esperamos. Mick é tão macho que pode se vestir de mulher, rebolar, o diabo, oops, que ele abre a boca e sai aquele vozeirão de bofe, que não deixa dúvidas sobre sua virilidade. Madonna, por sua vez, por mais que faça o bofão, tem uma silhueta tão feminina, que não deixa dúvidas de que é a mulher, em seu eterno feminino. Bem que eles podiam fazer um filme juntos!
Enfim, quando penso que Nietzsche decretou a morte de Deus e morreu pedindo perdão ao Criador, quando lembro que Schopenhauer proclamava que o mundo era um lugar habitado por demônios e seres atormentados, quando rememoro Pitágoras, que sustentava ter Ele criado a luz e o homem, enquanto o Outro houvera criado a treva e a mulher...chego a achar que somos um pouco de ambos e que o negócio é a gente saber usar as porções do jeito mais positivo possível. Evitar os pecados capitais, principalmente, os pecados do capital, mas "pecar na viola", como Servio Túlio diz, citando Dietrich na impagável interpretação de "Luar do Sertão". Pequemos, pois, na viola, como Mick. Oremos, outrossim, como Madonna. E assim tudo há de se resolver em paz.
Falei demais? E porque sou, como Madonna e Mick, muito bicha! E muito bicha louca!
Beijos, cherrie, amore, amado, amada, quérida, darling, sweetie...
segunda-feira, 7 de abril de 2008
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