sábado, 31 de maio de 2008

Navegar é impreciso

Minha cyber filha reclamou que estão levando tudo muito a sério neste blog. E ela tem razão. Eu achei que ela tinha feito uma piada com John Cage. O que era verdade. Mas aí o Westinhouse, desculpe, Servio, não consigo decorar o nome desse seu alterego, rsrs, achou que era a sério. (Logo o Sérvio, sério? Sério Tulio?! Nunca. Em nome de nossa last lost generation, protesto. It was certainly a misunderstanding, sweetie darling.) Aí, eu, que sou muito burra, fiquei na dúvida. Enfim, showbusiness não é sério. Quem é que ainda pode acreditar nas boas intenções de um artista dos mass (class) media, seja ele quem for? Eu, particularmente, sou uma marketeira. Madonna também é. Eu penso no produto a partir do apelo de mercado que ele pode vir a ter. Madonna é muito mais compentente do que eu, porque ela nasceu e foi criada no país do marketing. Eu sou aprendiz. Ainda assim, me considero vitoriosa, porque inventei, há quase trinta anos, um personagem em que muita gente acredita até hoje.

Eu ainda sinto vontade de rir ao ouvir o nome Mathilda, quando alguém se dirige a mim. A primeira vez, foi impagável. Em 1985, eu estava num aniversário bizarro de uma amiga. Ela deu um chá só pras mulheres, cujo acepipe mais freqüente eram uns baseados poderosos. A mãe, que era careta, fingia o tempo todo que estava achando tudo ótimo. E esta minha amiga, que nunca me chamava de Mathilda, ia me apresentando às amigas, um bando de socialites das artes cariocas, por esta alcunha, e eu prestes a explodir numa gargalhada. Minha mãe, por sua vez, dizia: "minha filha, eu me arrependi do nome que te dei e concordo que você mude pra outro. Mas Mathilda?! Isso não é pseudônimo que se apresente! É uma caricatura!" E, de fato, era. Eu fiz um corte de cabelo, à la Betty Boop, passei a usar roupas de brechó, bem Ab Fab, e inventei uma biografia maluca para um personagem insano. Mathilda Kóvak é minha Edina Monsoon. O problema é que eu nunca tive um palco pra ele e fui obrigada a encená-lo na vida. Meu projeto era, passados alguns anos, escrever um livro: "Mathilda Kóvak, faça você mesma o seu mito." Mas Mathilda me tomou tanto que eu nunca tive nem tempo nem disponibilidade para escrever este que acreditava ser um best seller. Mathilda virou uma compositora pop, com 200 músicas no mercado. Eu mal sabia fazer dois acordes no violão e fui elogiadíssima pelo Jacques Morelembaum, que, portando uma penca de partituras, me explicava a complexidade melódica de minhas canções e eu, com cara de Lucille Ball, aliás, Lucy Ricardo, sem entender uma linha sequer do que eu mesma tinha escrito, começando a me convencer de que ou era um gênio involuntário ou eu tinha psicografado aquilo tudo. De fato, eu acho que psicografo tudo o que escrevo e, durante anos, eu passei a assinar, por exemplo, Alfred Hitchcock, com a explicação: mensagem psicografada. Porque, já que é pra falar a verdade, eu não passo de uma imbecil carismática. E, se carisma fosse virtude, Adolf Hitler seria um santo. Sou uma paspalha. Inventei uma expressão, que Rita Lee citou numa letra, "fogo de Camille Paspaglia", pra designar esse tipo de armação que eu e ela somos. Um fogo fátuo. Não deixaremos rastros. Mas como não aconteceu nada de verdadeiramente importante depois de Shakespeare, eu até que quebro um galho neste universo de falsificações prêt-a-porter. Mas, sim, eu queria ser couture. Mas não dá Chanel no mundo como mato em Teresópolis. Então, sigo com meu mito de quinta, no meu Olimpo de Terceiro Mundo. Porém, yes, banana is my business, e eu já tenho dados para escrever minha sonhada autobiografia! Tudo o que fiz na vida foi para incluir nela. E hoje eu me orgulho de ser a verdadeira Mathilda falsa. Sou fake, sem falsidade.
Agora, não sei navegar nessas circunavegações cibernautas. Sou neófita porque velhófita. Então, me desculpem leitores e cyber filha - momento Clodovil arrependido - mas não quis tornar este blog enfadonho, como, aliás, são os blogs. Ainda leio livros, não porque os considere superiores, mas porque eles podem ser lidos na cama, na horizontal, que sempre foi minha posição predileta, Hans Castorp de Niterói que sou. Tesa e tísica.

Eis-me, pois, despida finalmente, ainda que, admito, minha silhueta já tenha visto melhores dias. Sou violonista auricular. Otorrina literária. Orelhas e lombadas são o meu forte. Recolhidas as informações necessárias... em breve, não percam a morte retumbante de Mathilda Kóvak nestas mal-digitadas páginas. Mas do meu caos, creiam-me, maravilhosos leitores, linda filha, nascerá uma fulgurante bailarina.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Fãs e afãs

Eu acho que, desde a adolescência, que não sei o que é ter um ídolo. Alguém que eu coloque em um pedestal e do qual não queira que saia nunca. Mas meu primeiro ídolo, aos 12 anos, foi Ingrid Bergman. Eu tinha por ela a idolatria que Woody Allen tinha por Humphrey Bogart e foi por isto que fui ver "Sonhos de um sedutor - Play it again, Sam - e passei a idolatrar também Woody Allen. Porém, quando Woody Allen traiu Mia Farrow com a filha adotiva, eu estava em Nova York e fui até a porta do prédio em que ele morava, onde a imprensa e fãs se reuniram para baixar-lhe o cacete, e gritei, a plenos pulmões: "pervert." Achei, ainda, o máximo, quando Frank Sinatra, ex-marido de Mia, que lhe tinha muito afeto, perguntou a ela se ela queria que ele mandasse quebrar as pernas de Woody. Contudo, a imensa sacanagem que Woody Allen fez com a mulher não impediu que eu continuasse a idolatrá-lo. Artistas são pessoas vulneráveis, capazes de vilezas maiores do que as de seres humanos comuns. Todo artista é mau caráter. Não porque tenha má índole, mas porque não sabe sequer o que seja ter caráter. Um artista é um amoral, melhor dizendo. Um ser que desconhece a moral. Assim, Ingrid Bergman largou a filha por Rosselini. Depois largou os três filhos com o Rosselini por um outro amante... A história do showbusiness é cheia de episódios imorais. Eu sou apaixonada por Mick Jagger, mas tenho certeza de que ele é um babaca. Investigo à exaustão a vida de Jennifer Saunders e não consigo encontrar uma mácula em sua história. Mas não me surpreenderei se, numa crise de idade, ela sair fazendo coisas malucas. A única superstar com quem tive oportunida de conviver era uma chata. E eu demorei uns 10 anos para me dar conta de que ela ficava em último ou penúltimo lugar na lista de pessoas interessantes com quem cruzei na vida. Mas entendo que minha cyber filha não tenha gostado da entrevista de Ruby Wax com a Madonna. Não sei se ela viu toda, porque aqui eu sou colei duas partes e tem cinco. Mas eu acho uma das melhores entrevistas que já vi. Exatamente pelas mesmas razões que a Mary Fê não gosta. Madonna ali aparece como uma chata. Uma mulher insegura e preocupadíssima com a beleza. E é exatamente isto o que ela é. Eu adoro Madonna. Nunca tive um disco sequer dela. Mas seria capaz de comprar todos os DVDs. Acho que ela canta mal, não escreve bem, dança pessimamente, e não é nada bonita. Mas ela é como Marlene Dietrich, que dizia não ser nem atriz nem cantora, mas apenas uma personalidade. E isto, não canso de falar, é artigo de luxo, hoje em dia. O que me interessa e sempre me interessou na Madonna é sua personalidade controvertida. Acho que ela representa bem a virada do século XX pro XXI, a era de Aquarius, o individualismo, a cobiça, a armação, mas ela sabe perfeitamente disto tudo e, ao receber um prêmio, admite que tem que ser muito filha da puta pra chegar onde chegou. E revela que trocaria dinheiro e sucesso pela mãe que perdeu aos seis anos. Madonna é, para mim, uma heroína trágica, cuja tragédia maior foi, talvez, não ter se suicidado como seu grande ídolo Marilyn Monroe. Se o fizesse, ela provavelmente não seria chamada de grife, como fez um leitor muito perspicaz aqui do blog. Ela não teria virado este tipo de grife. Teria virado uma grife cult como Marilyn. Eu não levo Madonna a sério. Acho-a engraçadíssima. Para mim, ela tem a importância de ser a derradeira representante da cultura de massa, do superstar system. Madonna é competente. E esta é a palavra de ordem do século XXI. Então, ao vê-la tão frágil, tão fêmea, tão sem poder, na entrevista de Ruby Wax, sofri o mesmo impacto que me abateu, ao ler o livro de Norman Mailer sobre Norma Jean Backer, Marilyn Monroe. Eu achava Marilyn uma comédia. Adorava-a, mas não a levava a sério. Até que vi uma foto sua, morena e sem maquiagem. Ali, eu vi a mulher Marilyn Monroe. E me apaixonei perdidamente por ela. O Baudrillard dizia que o poder da mulher é o não-poder. Para mim, o poder da Madonna é o seu não-poder. Não poder ser Marilyn. Não poder ser a estrela de cinema que ela queria ser e que Hollywood impediu. E, nesta entrevista, Madonna aparece maquiadíssima, mas, simultaneamente, sem maquiagem alguma. Madonna aparece de cara limpa, vaidosa, insegura, mulher. Mais adiante, ela fala que gosta de apanhar, que a gente se apaixona por quem nos bate a porta na cara... Madonna é uma vadia. E eu me identifico inteiramente com ela. Temos a mesma idade. Eu a vi atravessar a Thompkins Square, em NY, levando um pão numa sacola. Entrou numa deli. Entrei depois que ela saiu. Todos se perguntaram: "é a Madonna?" Até hoje tenho dúvidas, mas já passou a ser pra mim. Uma tampinha, igual a milhares de americanas. Igual a milhares de brasileiras. Bing Crosby dizia que o segredo de seu sucesso era o fato de ele cantar tão mal que qualquer um achava que poderia cantar como ele. Madonna sabe que canta mal e que não é bonita. E seu nervosismo na entrevista se deveu ao fato de se saber somente uma imagem. E que imagem. Desde os áureos tempos desta Hollywood que a desprezou, o mundo todo se curva ante uma imagem perfeita. Greta Garbo era canastrona, falava um inglês macarrônico, mas era uma imagem perfeita. Madonna é uma imagem perfeita que, na entrevista de Ruby Wax, pode ser afetada. E isto a afeta igualmente. Não porque ela padeça de falta de personalidade. Mas porque ela é dona de seu produto. É ele que lhe assegura a liberdade de ser vadia, mulher de malandro, mãe de família, aspirante a avó... A superstar Madonna é o superhomem de Clark Kent. A superstar Madonna protege a mulherzinha Madonna. E ela, a mulherzinha, é adorável. Madonna, sem os músculos do palco, ao se preocupar com a câmera, não é mais o andróide másculo que encanta multidões, mas, sim, a mulher, o eterno feminino, a flor do asfalto que zela por sua redoma de vidro, para que não lhe roubem o tesouro de sua fragilidade.

Quanto a John Cage, também acusado de grife por nosso leitor, nunca gostei, mas aqui é um banheiro em que duas gerações marcam encontro. Nós que fomos dos eighties fazíamos piada de sua música contemporânea. Mas, de algum modo, ela hoje influencia jovens que também foram influenciados por nós. Assim como Burt Bacharah me influenciou e isto me custou o dissabor da patrulha roqueira dos anos 80. Adoro Madonna. Detesto John Cage. Mas o que amo, de fato, é não ter razão e usufruir plenamente do gozo da discussão.

No mais, acho bonito sair em defesa de um ídolo, ou em ataque de outro. Mas, como dizia Rhett Butller, frankly, my dear, I don´t give a damn. Nem Madonna nem John Cage saem por aí falando a meu respeito, seja bem, seja mal. Eles sequer sabem da nossa existência. Então, se eles passam sem nós, estou convencida de que podemos passar sem eles. Porque esta é a única vantagem de se viver num mundo superpopuloso. Todos somos facilmente substituíveis. Suspeito que, daquei a cem anos, ninguém saberá de nenhuma dessas pessoas que comentamos aqui no blog. Mas seus descendentes contarão suas histórias uns aos outros. É por isto que tenho uma cyberfilha. Para que ela conte minha história para sua filha. E a sua filha a sua para a filha dela. Porque desde que o mundo é mundo o que é verdadeiramente importante consiste apenas no que está perto de nós, ao alcance de nossas mãos e diante de nossos olhos. O resto é só coleção de álbum de figurinhas, vendido, no futuro, numa feirinha de antigüidades.

Beijos,
Mathilda.

Detesto pobre e detesto rico

Norman Mailer dizia que a única diferença entre pobres e ricos era que os ricos tinham mais dinheiro. Concordo inteiramente com ele. Pobres e ricos são faces da mesma moeda. Pobre tem muito filho. Rico também. Pobre acha que é pobre por decisão divina. Rico está convencido de que foi eleito pelos céus. Pobre detesta gente de classe média. Rico, idem. E pobres e ricos se adoram. Entendem-se plenamente. O pobre admira o rico. O rico paternaliza o pobre. E, calcados neste binômio, eles representam, hoje, o futuro, onde não haverá mais classe média, esta classe tão atacada a que pertenço.
Sou pequeno-burguesa, filha de um pai médico, que atendia em consultório, com horário integral, durante o dia, e dava plantão em hospital público, durante a noite. E de uma mãe professora, que acordava às cinco da manhã, pra dar aula, e só voltava às 10 da noite. Foi assim que eu e meu irmão conseguimos estudar, comer, vestir, sobreviver... Herdeira da "classe média alienada", como diz minha canção com Suely Mesquita, "Filhote da ditadura", passei a vida sonhando com vôos rasantes. Queria ser professora de português e me formei em jornalismo, porque minha mãe, que acabou com sua linda voz de Julie London dando aula de inglês, me pediu que não repetisse o seu destino. Casei-me cedo, na Igreja Católica Apostólica Romana, não porque eu tivesse formação religiosa, mas porque meu avô português havia me pedido, e minha avó me subornado com uma pequena quantia de dinheiro. O início do meu casamento foi de muita dureza. Ganhávamos pouco, não tínhamos automóvel, dividíamos um apartamento de quarto e sala. Mas éramos jovens e eu corria pra casa do meu primo, no fim da tarde, para ouvir Fleetwood Mac, fumando uma erva que passarinho não bebe, à qual eu não estava muito acostumada, menina conservadora de Niterói que eu era. Dávamos boas risadas e eu voltava pra casa, pra jantar com meu marido arquiteto e ouvir, com ele, Thelonius Monk. Sim, eu era pequeno-burguesa, mas de uma família de intelectuais. Cultura, quase erudição mesmo, nunca me faltou. Faltavam muito itens de consumo, mas minha minúscula casa era abarrotada de livros e Lps. E cinema, na época muito barato, no mínimo, duas vezes por semana. Em virtude de ter crescido nesta família intelectualizada, eu era de esquerda, marxista-leninista e nunca sonhei que, um dia, ia me admitir membro da classe média, com tanto fervor, chegando mesmo a implorar pela volta da vassourinha de Jânio Quadros. Quando releio o manifesto comunista, hoje, tenho a impressão de que Marx e Engels acalentavam sonhos semelhantes aos meus e ao de seu colega opositor, Max Weber. Educação e saúde para todos eram palavras de ordem para esquerda e direita. Tanto Marx quanto Weber se posicionavam contra a monarquia, este regime de duas classes apenas: a rica e a pobre. E, no fundo, ambos queriam que toda a humanidade fosse apenas o que sou: classe média. Gozado imaginar que a classe média, de hoje, era o proletariado de ontem. A gente não recebe bolsa família, e paga IPTU, luz, gás, telefone, celular... Trabalha cada vez mais, para receber cada vez menos. E está ameaçada de extinção, porque ou vai pro alto ocupar o trono dos muito ricos, ou vai pra baixo, tomar cerveja nos botecos com os pobres, batucar um samba e ver novela. Coisa que pobres e ricos adoram fazer, neste país. Então, eu evoco uma revolução menchevique. Ou uma revolução burguesa francesa. Qualquer ação que nos salve. Nós, intelectuais de classe média, que sonhamos e lutamos por uma sociedade mais justa e que, em troca, recebemos dos injustiçados uma raiva deletéria. Esta mesma raiva com que minha empregada doméstica, que ganha um terço do que ganho, desligou o aquecedor velho a gás do meu apartamento, me privando de tomar um mísero banhozinho quente, depois de passar o dia inteiro num salão de literatura infanto-juvenil, autografando camisas de crianças de colégio público. Ao ver aquelas crianças, tão felizes, eu me senti making a difference, como nos meus tempos de esquerdista. Aceditei, de novo, no socialismo. E quase cantei a internacional comunista no microfone, durante a palestra que eu e a Suely fizemos. "Operários de todo mundo: uni-vos!" Mas aí, chego em casa, ligo o chuveiro e recebo uma ducha de água fria. A classe operária me traiu de novo. O Cazuza talvez tivesse razão ao dizer que a burguesia fedia, porque esta pequeno-burguesa, diante da sabotagem do lumpen local, está mesmo fedendo, sem seu banhozinho antes de se recolher à cama. Eu sou pequeno-burguesa e não sou artista. Porque detesto ricos e pobres, mas sou favorável á extinção dos artistas. Porque o artista é o grande responsável por este sonho milionário que se construiu nesta nação. Eu me dizia membro da última banda classe média, na mesma época em que Cazuza lançava sua canção-desabafo. Cazuza que tinha ficado rico e deixado de ser classe média. Cazuza que veio no bojo de um movimento roqueiro tipicamente classe média. Cazuza também me traiu. Woody Allen era de classe média. Dorothy Parker era de classe média. Clarice Lispector, Fran Lebowitz...e até meu amigo Luís Capucho, que um dia foi pobre, virou professor de literatura de classe média. Então, eu devo muito a esta minha classe e, salvo Cole Porter, e Clementina de Jesus, não costumo ter ídolos nem da classe dominante, nem da classe dominada. Ana Cristina César já dizia que o Altman era muito cruel com a classe média americana. Assisto à decadência do American Way of Life e do sonho americano. A América sonhou com os valores da classe média. Muitos cretinos, mas outros, como justiça, ombridade, ética, muito louváveis. Os soviéticos também se empenharam em constituir uma nação classe média, trazendo o proletariado para o conforto mínimo da pequeno-burguesia. América e a URSS não se sabiam tão aliadas. E, na ignorância menchevique-bolchevique de ambas, tornaram-se inimigas. O resultado foi o fim do socialismo, de um lado. E agora, o fim do capitalismo, do outro. Marx e Weber eram irmãos e não sabiam. A Europa monarquista e colonizadora renasce, revigorada. A Ásia imperial ressurge das cinzas.

Intelectuais de classe média, de todo o mundo, uni-vos! Antes que a corte dos Luíses nos atire brioches dormidos e as luzes se extinguam de vez. Nesta treva idade média sem classe, onde nossos apontadores, lápis, borracha e cadernos de apontamentos serão atirados ao esquecimento. Nossos livros à decoração das estantes coroadas. E nosso banho quente confortável, nosso único momento de nobreza, convertido num choque térmico traumático que, entretanto, talvez nos desperte para a injustiça de que, pasmem!, somos afinal as maiores vítimas.

Mathilda Kóvak

quinta-feira, 29 de maio de 2008

3 x 4'33'' de silêncio

Concerto (com c ou com s?) de John Cage para não cantar no banheiro.








Uma obra q atravessa o tempo, literalmente né gente?
Eu ano muda no blog, mas não é relaxamento, é CONCEEEEITO, arrrrte!!!! haha
Bjs!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Ruby Wax na cama com Madonna

Esta é a melhor entrevista que já vi com a Madonna. Só podia ser obra de Ruby Wax, parceira de Jennifer Saunders. Na cama, literalmente, com Madonna, ela consegue arrancar da superstar o seu lado Norma Jean Baker. Madonna aparece ali, como uma menina tímida, do interior, que só quer casar e ter filhos. Muito preocupada em ser fotografada apenas de seu melhor ângulo, porque sabe que não é tão bonita quanto revelam seus produzidíssimos clipes. Mas Ruby lembra a ela que ela tem talento e é isto o que importa. Nunca vi Madonna tão sem jeito e sem controle da situação. E, por isto mesmo, tão adorável. Mas não há muito o que dizer. Vejam que Madonna e Marilyn são mesmo a mesma pessoa. Copiamos aqui apenas dois trechos. Vale a pena acompanhar tudo pelo youtube.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um lugar ao fog

Eu sempre vivi entre Paulo Francis e Elsie Lessa. Dorothy Parker e Virginia Woolf. Woody Allen e Hitchcock. Lucille Ball e Jennifer Saunders. Entre Nova York e Londres. Agora, que o reino voltou para a realeza, mais Londres. Comentava com Mary Fê, hoje, no chuveiro, que acho que sou Jennifer Saunders, no Bizarro World. Canceriana como ela, nasci um ano depois. E num país careta, enquanto ela nasceu na Inglaterra, onde quanto mais louco melhor. Jen é a típica canceriana: louca e família. Tudo o que eu tentei ser e não consegui. Depois de French and Saunders e Ab Fab, esta mãe de três filhos, tímida, porém, ousada, casada a vida inteira com o mesmo homem, no melhor estilo Frank Zappa, outro canceriano louco e família, ela assoma com a melhor série de TV em que pus meus saturados olhos. A comparação com Woody Allen procede. Jen, depois das maravilhosas chanchadas-sitcom que a consagraram, partiu para um tipo de comédia dramática, na qual ela interpreta, mais um vez, um personagem criado por ela para ela. Desta feita, ela se chama Vivianne Vyle e é uma apresentadora de talk shows desses que exploram a miséria humana. Casada de mentirinha com um gay, ela quer engravidar do esperma do marido morto, num draminha semelhante aos dramalhões que instiga na tellie. O marido é uma bichona que faz tudo o que ela quer e era seu melhor amigo. Por que não casar, então, em comunhão de frescuras? Diva com tiete. Quantas histórias dessas a gente não conhece...A série tem seis episódios e pode ser vista no youtube na íntegra. A direção de arte é impecável. O roteiro, escrito por Jen e Tanya Byron, uma psicóloga da BBC, é obra-prima. A direção toda, digna de Bergman-meets-Allen, com cor local, Londrina. Mas Jen, depois de encarnar heroínas bitchie, volta pra Devon, sua cidadezinha natal, onde cria as três meninas e é feliz. Abaixo os links para o primeiro capítulo de The life and times of Vivianne Vyle, com esta que é o meu ídolo absoluto, absolutely fabulous. Nossas diferenças não são apenas geográficas. Ela é um gigante. Uma atriz fenomenal. Quem conheceu a impagável comediante há de se surpreender com a profundidade de sua interpretação dramática. E, enquanto espero meu lugar ao fog, me distraio com Jennifer Saunders, a fase inglesa hitchcokiana de Woody Allen, e as crônicas de Clarice Lispector, sobre a cidade da pessoas feias e, simultaneamente, lindas. London, London. Entre elas, esta fusão de Vivien Leigh com May West, a bela mais brilhante do mundo, mais louca e mais certinha... doce na vida. Cáustica na arte. Jennifer Saunders é meu role model tardio. Quando crescer, quero ser exatamente como ela. Por enquanto, só os quilinhos a mais seguiram o desejo. O resto talvez não dê tempo. Então, fiquem com ela, nesta master piece, da melhor TV do mundo.
http://www.youtube.com/watch?v=IHqiC7yenO0

http://www.youtube.com/watch?v=IjadDIjvifs&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=MAom8N1oCLc&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=4wXCpgaoI0c&feature=related

terça-feira, 20 de maio de 2008

Aqueles tempos que não voltam mais...

Pessoal, esse vídeo é pra matar as saudades, porque todo mundo já teve seu momento retardado!

domingo, 18 de maio de 2008

Fechada pra balada

Em breve, esta colunista com bico de papagaio voltará à rede. Por enquanto, vocês ficam com o charme e o veneno de Marie Feau.

Obrigada pelos comments, cada vez mais edificantes e ilustrados.

Beijos mis!
Miss Math

quinta-feira, 15 de maio de 2008

É voltando que se percebe...

Oi, pe-pessoal!
Desculpem o sumiço, mas é que fui passear com o ciclone extra-tropical que me buscou em Porto Alegre e me levou para umas voltinhas pela estratosfera!
Olha, o que tem de balões de festa no céu, não está no gibi. Mas padre q é bom, não vi.

Ao girar e girar, encotrei Berenice, que me mostrou esta novidade: se segura pessoarrrr!


Crianças, hoje aprendemos aonde 3 faculdades podem nos levar.

Obrigadíssima pelos parabéns todos de aniversário. Espero ouvir muitos ainda :)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Abalo sís...mico

Hoje é aniversário de minha cyber filha adorada e eu gostaria de lavrar aqui algumas palavras de júbilo por efeméride nada efêmera. Não posso revelar quantos aninhos esta moça que tem a aparência de eterna adolescente, com cabeça, entretanto, de mulherão, ostenta! Não vou dizer muito, por ora, porque je suis tres tres fatiguée, depois de uma temporada animadíssima na Paulicéia, em que, o pudor da modéstia que me perdoe, abalei literalmente as estruturas. Curiosamente, hoje é também o lançamento de um CD, que leva o título de uma letra de minha autoria "Abalo sísmico." Glauco lourenço assina a música e é o titular da bolacha, que vai sacudir as Casas Casadas de Laranjeiras, às vinte horas. Esperemos que as Casadas não se separem com o fenômeno. Da última vez em que estive em SP, já contei em outra publicação, um poste desabou na Rua Cardeal Arcoverde, onde eu me apresentei com Zeca Baleiro, e o quarteirão inteiro ficou sem luz. Fui igualmente responsabilizada pela catástrofe. Por falar em catástrofe, este é o título de uma outra letra de minha autoria, musicada por Suely Mesquita. Quando a lancei em meu CD, ocorreu a famosa tsunami. A canção começa com os versos "que um tornado de arraste, que um maremoto te dizime, que um tufão te devaste, que um terremoto te reduza a escombros...darei de ombros..." O curioso foi que escrevi esta letra num bar de New Orleans, no ano de 1995. Acham que eu estava a fim de me vingar de alguém, mas eu estava apenas ouvindo o weather report e imaginando que um dia aquele lugar ia dançar. E dançou mesmo, infelizmente, com o furacão Katrina, que, por sinal, é uma cantora de lá, que gravou um CD só com canções minhas, produzido por Paulo Fortes. A despeito de o filme "O bebê de Rosemary" sustentar que a besta 666 nasceu no dia 28 de junho, data de meu nascimento e o de Raul Seixas, é uma infâmia eu ser responsabilizada por tais desastres. Não fui eu que inventei o global warming. Bem verdade que previ também a queda das torres gêmeas, em setembro de 1999, quando estive, pela última vez, em NY. E sonhei com pessoas se atirando de um prédio em Wall Street, e ouvi a palavra "crash". Pensei que seria um novo crash da bolsa e corri ao local com meus amigos e tiramos várias fotos ali, comigo apontando pro prédio. Fora outra que tirei na companhia de Ana Pinta, com as twin towers ao fundo e nossos polegares pra baixo. Também escrevi, anos antes, uma canção em NY, que se intitulava "Ninguém está seguro ou Benjamim Constant" e que arrolava uma série de fatos que foram se confirmando com o tempo. Mas eu nunca atribuí nada disto a um poder do outro mundo. Eu leio, absorvo informações e meu inconsciente tira suas conclusões. Não sou vidente. Sou, como diz meu amigo Carlos Calado, uma visionária míope. Lembro-me de que escrevi, para a revista Casseta Popular, ou Porrada, não me lembro mais, uma HQ, com César Lobo, depois também de uma ida nossa a NY, em 1986. Todas as pessoas a quem homenageamos na história foram morrendo, uma a uma, sucessivamente. Portanto, eu acho melhor que me tratem bem, porque, ainda que Raul, nascido no dia 28, cuja soma é seis, do seis, de 1946, tenha dito que nós que nascemos nesta data somos os profetas do Apocalipse, eu prefiro pensar que sou apenas uma repórter do tempo e dos tempos. Porém, não me responsabilizo pela manifestação involuntária de meus poderes. Eu amo São Paulo, Nova York e Nova Orleans e jamais desejei que nada de ruim acontece nestes que são meus lugares favoritos neste mundo. Talvez algum engraçadinho tenha acreditado mesmo nesta baboseira e eu seja o alvo...Seja como for, como vocês podem notar, ainda não acertaram. Isto significa que quem fica perto de mim não é atingido. Mas quem me sacaneia...bom, se vocês olharem para a cara de uma certa cantora do showbiz, verão o que acontece. Não sou de rogar pragas. Mas já percebi que pessoas que tentam me atingir acabam fulminadas por alguma desgraça. Sei lá eu por quê. Também "prevejo" coisas boas e este poder de destruição é inversamente proporcional quando se trata de meus queridinhos. Meus amigos verdadeiros estão cada vez mais prósperos, bem-casados, felizes. E eu acho que, se sou bruxa desta Idade Mídia, daprès Millôr, ou besta, ou metida a besta, ou profeta do Apocalipse, quero crer que seja também fada, foda, bela, profeta do Renascimento.

E prevejo que Mary Fê, ou Marie Feau, vai incendiar, com fogo brando e constante, os corações do mundo. Porque a água ferve bem assim: aos poucos. E, quando eferevesce, borbulha e soa, como um fenômeno da Natureza.

Feliz anivesário, Filha. Se sua mothern é anjo do inferno, tenha certeza de que você é anjo dos céus. E o que minha iconoclastia demole hoje, amanhã, será refeito, muito melhor por você e sua geração de querubins, que quero bem e, se assim desejo, assim o será. Amém!

Mathilda Nostradamus pra Deus e todo mundo...