sexta-feira, 6 de junho de 2008

Um dia sex and the city absolutely fabulous

Minha sitcom de cabeceira é "Ab Fab", não é "Sex and the city." Aliás, "Sex and the city" não é sitcom, é uma excelente soap opera, o que equivale às nossas telenovelas lá nos States. Ab Fab é muito mais requintada e inteligente, com referências do universo pop dos anos 20 aos 90, que são para iniciados. Quem não distingue Baader Meinhof de Beatles, dificilmente pegará sua infinidade de impagáveis gags, produzidas pela cabeça de gênio de Jennifer Saunders, esta inglesa cultíssima de Devon, que, para mim, é forte candidata a Shakespeare da neo-renascença, e, no entanto, de uma despretensão e um humor brit e de um escracho chanchadesco que só ela pra conciliar. Eu já fui meio Edina Monsoon e já tive minha Patsy Stone e mais todas aquelas amigas loucas de Eddy. Mas também fui Samantha, no meio de Carrie, Charlotte e Miranda. Edina foi minha fase porralouca. Samantha foi minha fase pré-porraloucura e pós-casamento. Ou seja, minha fase madura. Amo tanto um personagem quanto o outro. Há 10 anos, quando "Sex and the city" estreou nos EUA, uma produtora de cinema me pediu para escrever um roteiro inspirado na série, mas adaptado para a minha vida com minhas amigas de infância. Ou seja, ela queria fazer de mim uma Carrie Bradshaw. Mostrou-me o piloto e eu quase caí dura quando vi Sarah Jessica Parker naquele papel. Sarah, Jen e eu, guardando as devidas proporções, porque não passo de uma third world victim, temos em comum a adoração por Woody Allen. O primeiro filme de Sarah, inteiramente escrito, produzido e dirigido por ela, é um pastiche dos filmes de Allen. Péssimo. Ela imita os caoetes, o jeito, as idiossincrasias, mas não funciona. Judia novaiorquina, do Brooklyn, como ele, era natural que Woody fosse seu paradigma. Mas Sarah não é boa roteirista. É ótima comediante. Então, desistiu de jogar nas 11 e catou um argumento que ela pudesse produzir para estrelar. Encontrou no livro homônimo de Candice Bushnell seu alter ego perfeito. Ou seu ego modelo, porque Sarah tem um metro e cinqüenta, cabelo Sarah-Rá, e sempre se vestiu com as roupas mais esculhambadas do norte americano. Mas ali ela identificou a heroína que a iria livrar dos papéis secundários em sua já longa carreira cinematográfica e a alçar à categoria de superstar da TV americana. Acertou em cheio na escolha. O roteiro muito bem construído de Sex, as supporting actresses excelentes, a produção e o assunto foram ingredientes de uma receita infalível. Quando quatro mulheres se juntam, o assunto, em geral, abarca compras e sexo. Isto é com qualquer mulher, de qualquer idade, de qualquer orientação sexual, que tenha uma turma. Pois hoje, por uma dessas felizes coinciências da vida, eu tive um dia totalmente "Sex and the city", que só poderia terminar numa sessão do longa-metragem, que acabou de estrear. Fui almoçar com minhas oito amigas - quatro é pouco pra mim - de infância, como fazemos toda semana, sempre num restaurante diferente. Hoje, aniversário de uma delas, o encontro foi no Roberta Sudbrack, onde degustamos seu menu surpresa, regado a vinhos franceses divinos. Para ser franca, não achei lá essas coisas, mas a Roberta é educadíssima, simpatissíma, afável, e o décor combinava com a situação. Parece mesmo um desses restaurantes clean de NY, que não fazem muito o meu gênero, porque morei lá e são points de patricinhas, e eu preferia lugares mais autênticos e antigos. Mas combina com um dia sex and the city. A comida, apenas correta, foi compensada pelo vinho e pela sobremesa, dos deuses. Já meio tipsy, resolvemos rumar, não as oito, mas apenas quatro, para ficar mais comme il faut, para o cinema, para celebrar nossa amizade. Apesar de curtir horrores a série, fui munida de alguma desconfiança protetora. Mas, já nos primeiros planos, eu estava adorando. Ri, chorei, me diverti muito, porque, sim, eu e minhas amigas somos exatamente como elas. Não era à toa que eu, quando morava em NY, confundia Nova Iorque com Niterói, porque afinal são palavras quase homófonas. Minhas amigas de Niterói são todas do ramo da moda. Vestem-se com roupas semelhantes às da protagonista. Enquanto Jen/Edina caricaturiza este universo, Sarah/Carrie o celebra. Eu fico ora na sátira, ora na devoção. Sou uma perua outsider. Mas há dias em que estou mais outsider. Outros, mais perua. E hoje foi meu dia de perua. Adoro fazer compras e falar de sexo, bebendo champagne e comendo em restaurante. E, desde a mais tenra infância, eu e minhas amigas fazemos isto. Basta dizer que, no intervalo do colégio, nós líamos "120 dias de Sodoma", ao som de John Lennon. Pensando bem, nesta época, nós éramos mais Ab Fab. Passamos pelos eighties, fumamos muita cannabis sativa. Mas acabamos virando coroas bem-sucedidas e nossa futilidade, não raro, nos toma e redime. "Sex and the city" é um conto de Cinderella, que só poderia ser plenamente compreendido para aqueles que tivessem vivido na América. Eu só compreendi Madonna, quando morei nos Estados Unidos. Aqui, todo mundo trepa com todo mundo. Sexo é uma banalidade. Mas, lá, uma mulher misturar religão com sexo é uma transgressão tremenda. Madonna foi a Adélia Prado norte-americana. O mesmo se dá com sex and the city. Aquelas trepadas e os papos sobre sexo, numa tv americana, são de grande ousadia. A sociedade protestante é muito pudica. Entreanto, o longa, talvez em função de as protagonistas se encontrarem mais velhas, suaviza um pouco a sacanagem. Outro dado a se considerar, além de sexo ser um tabu nos EUA muito maior do que aqui, passa pelo fato de casamento lá ser uma instituição seríssima. Um casal sob o mesmo teto, que não seja casado no papel, é tratado como boy friend and girl friend. Eu tenho dois amigos coroas, que moram há 12 anos juntos, e ainda se tratam deste modo. Casamento só no papel. Então, americano só se casa se tiver muita certeza de que irá passar o resto da vida com aquela pessoa. Amaziar é temporário. Casar é pra sempre. Então, entende-se porque Carrie quer casar com Mister Big. E, no fim das contas, é uma novela e novelas têm happy ending conservador. A lei do concubinato no Brasil é fortíssima. Uma concubina tem muito mais direitos até que uma mulher legítima. Porque o Brasil gosta de prestigiar a putaria. Mas nos EUA se você não assina os documentos todos e, por exemplo, seu parceiro ou parceira morrem, bye bye bens. Você não direito a um centavo. Vai tudo pra família do companheiro/companheira. Eis a razão de o movimento gay, por exemplo, urrar pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Um casal gay não tem direito a nada lá. Aqui tem. A lei do concubinato protege o casal gay também. Saibam disto, GLBT friends!!!!
Contudo, o personagem que mais curto e com o qual eu mais me identifico em Sex é mesmo a Samantha. Tenho a mesma idade que ela, 49 anos, e, apesar de ter sido casada durante 25 deles, eu não gosto de me amarrar em relacionamentos. Como Samantha Jones, eu adoro experimetar. E como experimentei. Salvo animais irracionais e invertebrados, mamíferos bípedes, de diversos sexos, cores e credos, já passaram por, como direi?, meu crivo degustador. Como Samantha, também acabei na companhia de um cachorro que é a criatura ideal pra quem não gosta de se amarrar, mas gosta de f.... Não sei o que irá acontecer conosco, na velhice, mas suspeito que ela vá viver com as outras amigas, já viúvas, e que eu vá morar com Sandra, Nina, Ilana, Clarice, Patrícia, Guida e Claudia, numa casa que já escolhemos na Provence, onde a Nina, que é a maior chef de cuisine do Hemisfério Sul, costuma trabalhar uma vez por ano, cozinhando para banquetes dignos de Babette. Ou, então, eu vou acabar como Patsy e Edina, com minha grande amiga também, Dulce, vizinha de minha cyber filha e de sua filha, Alice. Não sei o que prevalecerá. Se Ab Fab ou Sex and the city. Ou ambos! Mas é interessante notar que, de Lucy e Ethel, passando por Mary e Rhoda, a Eddy e Patsy e Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda, a sitcom celebra a sisterhood. E a vida me brindou com esta dádiva: amigas que são capazes de largar tudo para vir me socorrer, que ficam sempre do meu lado, mesmo que eu esteja errada, que torcem por mim, que sofrem, quando eu sofro, e que se alegram, quando eu estou feliz. Tenho colecionado amigas assim, vida afora, quando não são mulheres, são bichas maravilhosas, mas hoje estou sex and the city e, nos créditos finais do filme,eu e minhas amigas de infância e adolescência e juventude e maturidade...estávamos todas de mãos dadas, aos prantos. Os machos que me desculpem, mas amizade, ao contrário da propaganda da oposição, é coisa de mulher. E esta, coincidentemente, foi uma semana em que tive contato com quase todas as minhas grandes amigas e, tenho que ser justa, alguns bons amigos homens também. E, assim imbuída pelo espírito da amizade verdadeira, eu me sinto neste dia, primeiro do fim de uma semana ótima, a pessoa mais sortuda de todo o mundo, porque from Niterói to L.A., do mais alternativo ao mais mainstream, do mais pobre ao mais bem-aquinhoado, eu tenho amigos, que de tão bons, sejam de que sexo for, são, para mim, amigas para o resto de minha absolutely fabulous life. Quanto ao sex and the city, este vai, este volta...mas amizade é, de todos, o maior e mais duradouro tesão. Thanks, my fabulous fantastic friends, I love you all and forever... (e, sim, eu vou fazer o roteiro destas oito mulheres que nunca se separaram, durante as últimas cinco, God!, décadas, e vai ser absolutely fabulous sexy and in the city of Niterói!)

terça-feira, 3 de junho de 2008

O funk invadiu, cumpadi

Está em todo canto, está em toda parte. Eu canto no chuveiro, vcs tudo se debate.

A influência da literatura funk no cinema francês:



A influência da música funk na animação de massa, digo massinha!



e cruz créu! créu créu créu

sábado, 31 de maio de 2008

Navegar é impreciso

Minha cyber filha reclamou que estão levando tudo muito a sério neste blog. E ela tem razão. Eu achei que ela tinha feito uma piada com John Cage. O que era verdade. Mas aí o Westinhouse, desculpe, Servio, não consigo decorar o nome desse seu alterego, rsrs, achou que era a sério. (Logo o Sérvio, sério? Sério Tulio?! Nunca. Em nome de nossa last lost generation, protesto. It was certainly a misunderstanding, sweetie darling.) Aí, eu, que sou muito burra, fiquei na dúvida. Enfim, showbusiness não é sério. Quem é que ainda pode acreditar nas boas intenções de um artista dos mass (class) media, seja ele quem for? Eu, particularmente, sou uma marketeira. Madonna também é. Eu penso no produto a partir do apelo de mercado que ele pode vir a ter. Madonna é muito mais compentente do que eu, porque ela nasceu e foi criada no país do marketing. Eu sou aprendiz. Ainda assim, me considero vitoriosa, porque inventei, há quase trinta anos, um personagem em que muita gente acredita até hoje.

Eu ainda sinto vontade de rir ao ouvir o nome Mathilda, quando alguém se dirige a mim. A primeira vez, foi impagável. Em 1985, eu estava num aniversário bizarro de uma amiga. Ela deu um chá só pras mulheres, cujo acepipe mais freqüente eram uns baseados poderosos. A mãe, que era careta, fingia o tempo todo que estava achando tudo ótimo. E esta minha amiga, que nunca me chamava de Mathilda, ia me apresentando às amigas, um bando de socialites das artes cariocas, por esta alcunha, e eu prestes a explodir numa gargalhada. Minha mãe, por sua vez, dizia: "minha filha, eu me arrependi do nome que te dei e concordo que você mude pra outro. Mas Mathilda?! Isso não é pseudônimo que se apresente! É uma caricatura!" E, de fato, era. Eu fiz um corte de cabelo, à la Betty Boop, passei a usar roupas de brechó, bem Ab Fab, e inventei uma biografia maluca para um personagem insano. Mathilda Kóvak é minha Edina Monsoon. O problema é que eu nunca tive um palco pra ele e fui obrigada a encená-lo na vida. Meu projeto era, passados alguns anos, escrever um livro: "Mathilda Kóvak, faça você mesma o seu mito." Mas Mathilda me tomou tanto que eu nunca tive nem tempo nem disponibilidade para escrever este que acreditava ser um best seller. Mathilda virou uma compositora pop, com 200 músicas no mercado. Eu mal sabia fazer dois acordes no violão e fui elogiadíssima pelo Jacques Morelembaum, que, portando uma penca de partituras, me explicava a complexidade melódica de minhas canções e eu, com cara de Lucille Ball, aliás, Lucy Ricardo, sem entender uma linha sequer do que eu mesma tinha escrito, começando a me convencer de que ou era um gênio involuntário ou eu tinha psicografado aquilo tudo. De fato, eu acho que psicografo tudo o que escrevo e, durante anos, eu passei a assinar, por exemplo, Alfred Hitchcock, com a explicação: mensagem psicografada. Porque, já que é pra falar a verdade, eu não passo de uma imbecil carismática. E, se carisma fosse virtude, Adolf Hitler seria um santo. Sou uma paspalha. Inventei uma expressão, que Rita Lee citou numa letra, "fogo de Camille Paspaglia", pra designar esse tipo de armação que eu e ela somos. Um fogo fátuo. Não deixaremos rastros. Mas como não aconteceu nada de verdadeiramente importante depois de Shakespeare, eu até que quebro um galho neste universo de falsificações prêt-a-porter. Mas, sim, eu queria ser couture. Mas não dá Chanel no mundo como mato em Teresópolis. Então, sigo com meu mito de quinta, no meu Olimpo de Terceiro Mundo. Porém, yes, banana is my business, e eu já tenho dados para escrever minha sonhada autobiografia! Tudo o que fiz na vida foi para incluir nela. E hoje eu me orgulho de ser a verdadeira Mathilda falsa. Sou fake, sem falsidade.
Agora, não sei navegar nessas circunavegações cibernautas. Sou neófita porque velhófita. Então, me desculpem leitores e cyber filha - momento Clodovil arrependido - mas não quis tornar este blog enfadonho, como, aliás, são os blogs. Ainda leio livros, não porque os considere superiores, mas porque eles podem ser lidos na cama, na horizontal, que sempre foi minha posição predileta, Hans Castorp de Niterói que sou. Tesa e tísica.

Eis-me, pois, despida finalmente, ainda que, admito, minha silhueta já tenha visto melhores dias. Sou violonista auricular. Otorrina literária. Orelhas e lombadas são o meu forte. Recolhidas as informações necessárias... em breve, não percam a morte retumbante de Mathilda Kóvak nestas mal-digitadas páginas. Mas do meu caos, creiam-me, maravilhosos leitores, linda filha, nascerá uma fulgurante bailarina.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Fãs e afãs

Eu acho que, desde a adolescência, que não sei o que é ter um ídolo. Alguém que eu coloque em um pedestal e do qual não queira que saia nunca. Mas meu primeiro ídolo, aos 12 anos, foi Ingrid Bergman. Eu tinha por ela a idolatria que Woody Allen tinha por Humphrey Bogart e foi por isto que fui ver "Sonhos de um sedutor - Play it again, Sam - e passei a idolatrar também Woody Allen. Porém, quando Woody Allen traiu Mia Farrow com a filha adotiva, eu estava em Nova York e fui até a porta do prédio em que ele morava, onde a imprensa e fãs se reuniram para baixar-lhe o cacete, e gritei, a plenos pulmões: "pervert." Achei, ainda, o máximo, quando Frank Sinatra, ex-marido de Mia, que lhe tinha muito afeto, perguntou a ela se ela queria que ele mandasse quebrar as pernas de Woody. Contudo, a imensa sacanagem que Woody Allen fez com a mulher não impediu que eu continuasse a idolatrá-lo. Artistas são pessoas vulneráveis, capazes de vilezas maiores do que as de seres humanos comuns. Todo artista é mau caráter. Não porque tenha má índole, mas porque não sabe sequer o que seja ter caráter. Um artista é um amoral, melhor dizendo. Um ser que desconhece a moral. Assim, Ingrid Bergman largou a filha por Rosselini. Depois largou os três filhos com o Rosselini por um outro amante... A história do showbusiness é cheia de episódios imorais. Eu sou apaixonada por Mick Jagger, mas tenho certeza de que ele é um babaca. Investigo à exaustão a vida de Jennifer Saunders e não consigo encontrar uma mácula em sua história. Mas não me surpreenderei se, numa crise de idade, ela sair fazendo coisas malucas. A única superstar com quem tive oportunida de conviver era uma chata. E eu demorei uns 10 anos para me dar conta de que ela ficava em último ou penúltimo lugar na lista de pessoas interessantes com quem cruzei na vida. Mas entendo que minha cyber filha não tenha gostado da entrevista de Ruby Wax com a Madonna. Não sei se ela viu toda, porque aqui eu sou colei duas partes e tem cinco. Mas eu acho uma das melhores entrevistas que já vi. Exatamente pelas mesmas razões que a Mary Fê não gosta. Madonna ali aparece como uma chata. Uma mulher insegura e preocupadíssima com a beleza. E é exatamente isto o que ela é. Eu adoro Madonna. Nunca tive um disco sequer dela. Mas seria capaz de comprar todos os DVDs. Acho que ela canta mal, não escreve bem, dança pessimamente, e não é nada bonita. Mas ela é como Marlene Dietrich, que dizia não ser nem atriz nem cantora, mas apenas uma personalidade. E isto, não canso de falar, é artigo de luxo, hoje em dia. O que me interessa e sempre me interessou na Madonna é sua personalidade controvertida. Acho que ela representa bem a virada do século XX pro XXI, a era de Aquarius, o individualismo, a cobiça, a armação, mas ela sabe perfeitamente disto tudo e, ao receber um prêmio, admite que tem que ser muito filha da puta pra chegar onde chegou. E revela que trocaria dinheiro e sucesso pela mãe que perdeu aos seis anos. Madonna é, para mim, uma heroína trágica, cuja tragédia maior foi, talvez, não ter se suicidado como seu grande ídolo Marilyn Monroe. Se o fizesse, ela provavelmente não seria chamada de grife, como fez um leitor muito perspicaz aqui do blog. Ela não teria virado este tipo de grife. Teria virado uma grife cult como Marilyn. Eu não levo Madonna a sério. Acho-a engraçadíssima. Para mim, ela tem a importância de ser a derradeira representante da cultura de massa, do superstar system. Madonna é competente. E esta é a palavra de ordem do século XXI. Então, ao vê-la tão frágil, tão fêmea, tão sem poder, na entrevista de Ruby Wax, sofri o mesmo impacto que me abateu, ao ler o livro de Norman Mailer sobre Norma Jean Backer, Marilyn Monroe. Eu achava Marilyn uma comédia. Adorava-a, mas não a levava a sério. Até que vi uma foto sua, morena e sem maquiagem. Ali, eu vi a mulher Marilyn Monroe. E me apaixonei perdidamente por ela. O Baudrillard dizia que o poder da mulher é o não-poder. Para mim, o poder da Madonna é o seu não-poder. Não poder ser Marilyn. Não poder ser a estrela de cinema que ela queria ser e que Hollywood impediu. E, nesta entrevista, Madonna aparece maquiadíssima, mas, simultaneamente, sem maquiagem alguma. Madonna aparece de cara limpa, vaidosa, insegura, mulher. Mais adiante, ela fala que gosta de apanhar, que a gente se apaixona por quem nos bate a porta na cara... Madonna é uma vadia. E eu me identifico inteiramente com ela. Temos a mesma idade. Eu a vi atravessar a Thompkins Square, em NY, levando um pão numa sacola. Entrou numa deli. Entrei depois que ela saiu. Todos se perguntaram: "é a Madonna?" Até hoje tenho dúvidas, mas já passou a ser pra mim. Uma tampinha, igual a milhares de americanas. Igual a milhares de brasileiras. Bing Crosby dizia que o segredo de seu sucesso era o fato de ele cantar tão mal que qualquer um achava que poderia cantar como ele. Madonna sabe que canta mal e que não é bonita. E seu nervosismo na entrevista se deveu ao fato de se saber somente uma imagem. E que imagem. Desde os áureos tempos desta Hollywood que a desprezou, o mundo todo se curva ante uma imagem perfeita. Greta Garbo era canastrona, falava um inglês macarrônico, mas era uma imagem perfeita. Madonna é uma imagem perfeita que, na entrevista de Ruby Wax, pode ser afetada. E isto a afeta igualmente. Não porque ela padeça de falta de personalidade. Mas porque ela é dona de seu produto. É ele que lhe assegura a liberdade de ser vadia, mulher de malandro, mãe de família, aspirante a avó... A superstar Madonna é o superhomem de Clark Kent. A superstar Madonna protege a mulherzinha Madonna. E ela, a mulherzinha, é adorável. Madonna, sem os músculos do palco, ao se preocupar com a câmera, não é mais o andróide másculo que encanta multidões, mas, sim, a mulher, o eterno feminino, a flor do asfalto que zela por sua redoma de vidro, para que não lhe roubem o tesouro de sua fragilidade.

Quanto a John Cage, também acusado de grife por nosso leitor, nunca gostei, mas aqui é um banheiro em que duas gerações marcam encontro. Nós que fomos dos eighties fazíamos piada de sua música contemporânea. Mas, de algum modo, ela hoje influencia jovens que também foram influenciados por nós. Assim como Burt Bacharah me influenciou e isto me custou o dissabor da patrulha roqueira dos anos 80. Adoro Madonna. Detesto John Cage. Mas o que amo, de fato, é não ter razão e usufruir plenamente do gozo da discussão.

No mais, acho bonito sair em defesa de um ídolo, ou em ataque de outro. Mas, como dizia Rhett Butller, frankly, my dear, I don´t give a damn. Nem Madonna nem John Cage saem por aí falando a meu respeito, seja bem, seja mal. Eles sequer sabem da nossa existência. Então, se eles passam sem nós, estou convencida de que podemos passar sem eles. Porque esta é a única vantagem de se viver num mundo superpopuloso. Todos somos facilmente substituíveis. Suspeito que, daquei a cem anos, ninguém saberá de nenhuma dessas pessoas que comentamos aqui no blog. Mas seus descendentes contarão suas histórias uns aos outros. É por isto que tenho uma cyberfilha. Para que ela conte minha história para sua filha. E a sua filha a sua para a filha dela. Porque desde que o mundo é mundo o que é verdadeiramente importante consiste apenas no que está perto de nós, ao alcance de nossas mãos e diante de nossos olhos. O resto é só coleção de álbum de figurinhas, vendido, no futuro, numa feirinha de antigüidades.

Beijos,
Mathilda.

Detesto pobre e detesto rico

Norman Mailer dizia que a única diferença entre pobres e ricos era que os ricos tinham mais dinheiro. Concordo inteiramente com ele. Pobres e ricos são faces da mesma moeda. Pobre tem muito filho. Rico também. Pobre acha que é pobre por decisão divina. Rico está convencido de que foi eleito pelos céus. Pobre detesta gente de classe média. Rico, idem. E pobres e ricos se adoram. Entendem-se plenamente. O pobre admira o rico. O rico paternaliza o pobre. E, calcados neste binômio, eles representam, hoje, o futuro, onde não haverá mais classe média, esta classe tão atacada a que pertenço.
Sou pequeno-burguesa, filha de um pai médico, que atendia em consultório, com horário integral, durante o dia, e dava plantão em hospital público, durante a noite. E de uma mãe professora, que acordava às cinco da manhã, pra dar aula, e só voltava às 10 da noite. Foi assim que eu e meu irmão conseguimos estudar, comer, vestir, sobreviver... Herdeira da "classe média alienada", como diz minha canção com Suely Mesquita, "Filhote da ditadura", passei a vida sonhando com vôos rasantes. Queria ser professora de português e me formei em jornalismo, porque minha mãe, que acabou com sua linda voz de Julie London dando aula de inglês, me pediu que não repetisse o seu destino. Casei-me cedo, na Igreja Católica Apostólica Romana, não porque eu tivesse formação religiosa, mas porque meu avô português havia me pedido, e minha avó me subornado com uma pequena quantia de dinheiro. O início do meu casamento foi de muita dureza. Ganhávamos pouco, não tínhamos automóvel, dividíamos um apartamento de quarto e sala. Mas éramos jovens e eu corria pra casa do meu primo, no fim da tarde, para ouvir Fleetwood Mac, fumando uma erva que passarinho não bebe, à qual eu não estava muito acostumada, menina conservadora de Niterói que eu era. Dávamos boas risadas e eu voltava pra casa, pra jantar com meu marido arquiteto e ouvir, com ele, Thelonius Monk. Sim, eu era pequeno-burguesa, mas de uma família de intelectuais. Cultura, quase erudição mesmo, nunca me faltou. Faltavam muito itens de consumo, mas minha minúscula casa era abarrotada de livros e Lps. E cinema, na época muito barato, no mínimo, duas vezes por semana. Em virtude de ter crescido nesta família intelectualizada, eu era de esquerda, marxista-leninista e nunca sonhei que, um dia, ia me admitir membro da classe média, com tanto fervor, chegando mesmo a implorar pela volta da vassourinha de Jânio Quadros. Quando releio o manifesto comunista, hoje, tenho a impressão de que Marx e Engels acalentavam sonhos semelhantes aos meus e ao de seu colega opositor, Max Weber. Educação e saúde para todos eram palavras de ordem para esquerda e direita. Tanto Marx quanto Weber se posicionavam contra a monarquia, este regime de duas classes apenas: a rica e a pobre. E, no fundo, ambos queriam que toda a humanidade fosse apenas o que sou: classe média. Gozado imaginar que a classe média, de hoje, era o proletariado de ontem. A gente não recebe bolsa família, e paga IPTU, luz, gás, telefone, celular... Trabalha cada vez mais, para receber cada vez menos. E está ameaçada de extinção, porque ou vai pro alto ocupar o trono dos muito ricos, ou vai pra baixo, tomar cerveja nos botecos com os pobres, batucar um samba e ver novela. Coisa que pobres e ricos adoram fazer, neste país. Então, eu evoco uma revolução menchevique. Ou uma revolução burguesa francesa. Qualquer ação que nos salve. Nós, intelectuais de classe média, que sonhamos e lutamos por uma sociedade mais justa e que, em troca, recebemos dos injustiçados uma raiva deletéria. Esta mesma raiva com que minha empregada doméstica, que ganha um terço do que ganho, desligou o aquecedor velho a gás do meu apartamento, me privando de tomar um mísero banhozinho quente, depois de passar o dia inteiro num salão de literatura infanto-juvenil, autografando camisas de crianças de colégio público. Ao ver aquelas crianças, tão felizes, eu me senti making a difference, como nos meus tempos de esquerdista. Aceditei, de novo, no socialismo. E quase cantei a internacional comunista no microfone, durante a palestra que eu e a Suely fizemos. "Operários de todo mundo: uni-vos!" Mas aí, chego em casa, ligo o chuveiro e recebo uma ducha de água fria. A classe operária me traiu de novo. O Cazuza talvez tivesse razão ao dizer que a burguesia fedia, porque esta pequeno-burguesa, diante da sabotagem do lumpen local, está mesmo fedendo, sem seu banhozinho antes de se recolher à cama. Eu sou pequeno-burguesa e não sou artista. Porque detesto ricos e pobres, mas sou favorável á extinção dos artistas. Porque o artista é o grande responsável por este sonho milionário que se construiu nesta nação. Eu me dizia membro da última banda classe média, na mesma época em que Cazuza lançava sua canção-desabafo. Cazuza que tinha ficado rico e deixado de ser classe média. Cazuza que veio no bojo de um movimento roqueiro tipicamente classe média. Cazuza também me traiu. Woody Allen era de classe média. Dorothy Parker era de classe média. Clarice Lispector, Fran Lebowitz...e até meu amigo Luís Capucho, que um dia foi pobre, virou professor de literatura de classe média. Então, eu devo muito a esta minha classe e, salvo Cole Porter, e Clementina de Jesus, não costumo ter ídolos nem da classe dominante, nem da classe dominada. Ana Cristina César já dizia que o Altman era muito cruel com a classe média americana. Assisto à decadência do American Way of Life e do sonho americano. A América sonhou com os valores da classe média. Muitos cretinos, mas outros, como justiça, ombridade, ética, muito louváveis. Os soviéticos também se empenharam em constituir uma nação classe média, trazendo o proletariado para o conforto mínimo da pequeno-burguesia. América e a URSS não se sabiam tão aliadas. E, na ignorância menchevique-bolchevique de ambas, tornaram-se inimigas. O resultado foi o fim do socialismo, de um lado. E agora, o fim do capitalismo, do outro. Marx e Weber eram irmãos e não sabiam. A Europa monarquista e colonizadora renasce, revigorada. A Ásia imperial ressurge das cinzas.

Intelectuais de classe média, de todo o mundo, uni-vos! Antes que a corte dos Luíses nos atire brioches dormidos e as luzes se extinguam de vez. Nesta treva idade média sem classe, onde nossos apontadores, lápis, borracha e cadernos de apontamentos serão atirados ao esquecimento. Nossos livros à decoração das estantes coroadas. E nosso banho quente confortável, nosso único momento de nobreza, convertido num choque térmico traumático que, entretanto, talvez nos desperte para a injustiça de que, pasmem!, somos afinal as maiores vítimas.

Mathilda Kóvak

quinta-feira, 29 de maio de 2008

3 x 4'33'' de silêncio

Concerto (com c ou com s?) de John Cage para não cantar no banheiro.








Uma obra q atravessa o tempo, literalmente né gente?
Eu ano muda no blog, mas não é relaxamento, é CONCEEEEITO, arrrrte!!!! haha
Bjs!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Ruby Wax na cama com Madonna

Esta é a melhor entrevista que já vi com a Madonna. Só podia ser obra de Ruby Wax, parceira de Jennifer Saunders. Na cama, literalmente, com Madonna, ela consegue arrancar da superstar o seu lado Norma Jean Baker. Madonna aparece ali, como uma menina tímida, do interior, que só quer casar e ter filhos. Muito preocupada em ser fotografada apenas de seu melhor ângulo, porque sabe que não é tão bonita quanto revelam seus produzidíssimos clipes. Mas Ruby lembra a ela que ela tem talento e é isto o que importa. Nunca vi Madonna tão sem jeito e sem controle da situação. E, por isto mesmo, tão adorável. Mas não há muito o que dizer. Vejam que Madonna e Marilyn são mesmo a mesma pessoa. Copiamos aqui apenas dois trechos. Vale a pena acompanhar tudo pelo youtube.


segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um lugar ao fog

Eu sempre vivi entre Paulo Francis e Elsie Lessa. Dorothy Parker e Virginia Woolf. Woody Allen e Hitchcock. Lucille Ball e Jennifer Saunders. Entre Nova York e Londres. Agora, que o reino voltou para a realeza, mais Londres. Comentava com Mary Fê, hoje, no chuveiro, que acho que sou Jennifer Saunders, no Bizarro World. Canceriana como ela, nasci um ano depois. E num país careta, enquanto ela nasceu na Inglaterra, onde quanto mais louco melhor. Jen é a típica canceriana: louca e família. Tudo o que eu tentei ser e não consegui. Depois de French and Saunders e Ab Fab, esta mãe de três filhos, tímida, porém, ousada, casada a vida inteira com o mesmo homem, no melhor estilo Frank Zappa, outro canceriano louco e família, ela assoma com a melhor série de TV em que pus meus saturados olhos. A comparação com Woody Allen procede. Jen, depois das maravilhosas chanchadas-sitcom que a consagraram, partiu para um tipo de comédia dramática, na qual ela interpreta, mais um vez, um personagem criado por ela para ela. Desta feita, ela se chama Vivianne Vyle e é uma apresentadora de talk shows desses que exploram a miséria humana. Casada de mentirinha com um gay, ela quer engravidar do esperma do marido morto, num draminha semelhante aos dramalhões que instiga na tellie. O marido é uma bichona que faz tudo o que ela quer e era seu melhor amigo. Por que não casar, então, em comunhão de frescuras? Diva com tiete. Quantas histórias dessas a gente não conhece...A série tem seis episódios e pode ser vista no youtube na íntegra. A direção de arte é impecável. O roteiro, escrito por Jen e Tanya Byron, uma psicóloga da BBC, é obra-prima. A direção toda, digna de Bergman-meets-Allen, com cor local, Londrina. Mas Jen, depois de encarnar heroínas bitchie, volta pra Devon, sua cidadezinha natal, onde cria as três meninas e é feliz. Abaixo os links para o primeiro capítulo de The life and times of Vivianne Vyle, com esta que é o meu ídolo absoluto, absolutely fabulous. Nossas diferenças não são apenas geográficas. Ela é um gigante. Uma atriz fenomenal. Quem conheceu a impagável comediante há de se surpreender com a profundidade de sua interpretação dramática. E, enquanto espero meu lugar ao fog, me distraio com Jennifer Saunders, a fase inglesa hitchcokiana de Woody Allen, e as crônicas de Clarice Lispector, sobre a cidade da pessoas feias e, simultaneamente, lindas. London, London. Entre elas, esta fusão de Vivien Leigh com May West, a bela mais brilhante do mundo, mais louca e mais certinha... doce na vida. Cáustica na arte. Jennifer Saunders é meu role model tardio. Quando crescer, quero ser exatamente como ela. Por enquanto, só os quilinhos a mais seguiram o desejo. O resto talvez não dê tempo. Então, fiquem com ela, nesta master piece, da melhor TV do mundo.
http://www.youtube.com/watch?v=IHqiC7yenO0

http://www.youtube.com/watch?v=IjadDIjvifs&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=MAom8N1oCLc&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=4wXCpgaoI0c&feature=related

terça-feira, 20 de maio de 2008

Aqueles tempos que não voltam mais...

Pessoal, esse vídeo é pra matar as saudades, porque todo mundo já teve seu momento retardado!

domingo, 18 de maio de 2008

Fechada pra balada

Em breve, esta colunista com bico de papagaio voltará à rede. Por enquanto, vocês ficam com o charme e o veneno de Marie Feau.

Obrigada pelos comments, cada vez mais edificantes e ilustrados.

Beijos mis!
Miss Math

quinta-feira, 15 de maio de 2008

É voltando que se percebe...

Oi, pe-pessoal!
Desculpem o sumiço, mas é que fui passear com o ciclone extra-tropical que me buscou em Porto Alegre e me levou para umas voltinhas pela estratosfera!
Olha, o que tem de balões de festa no céu, não está no gibi. Mas padre q é bom, não vi.

Ao girar e girar, encotrei Berenice, que me mostrou esta novidade: se segura pessoarrrr!


Crianças, hoje aprendemos aonde 3 faculdades podem nos levar.

Obrigadíssima pelos parabéns todos de aniversário. Espero ouvir muitos ainda :)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Abalo sís...mico

Hoje é aniversário de minha cyber filha adorada e eu gostaria de lavrar aqui algumas palavras de júbilo por efeméride nada efêmera. Não posso revelar quantos aninhos esta moça que tem a aparência de eterna adolescente, com cabeça, entretanto, de mulherão, ostenta! Não vou dizer muito, por ora, porque je suis tres tres fatiguée, depois de uma temporada animadíssima na Paulicéia, em que, o pudor da modéstia que me perdoe, abalei literalmente as estruturas. Curiosamente, hoje é também o lançamento de um CD, que leva o título de uma letra de minha autoria "Abalo sísmico." Glauco lourenço assina a música e é o titular da bolacha, que vai sacudir as Casas Casadas de Laranjeiras, às vinte horas. Esperemos que as Casadas não se separem com o fenômeno. Da última vez em que estive em SP, já contei em outra publicação, um poste desabou na Rua Cardeal Arcoverde, onde eu me apresentei com Zeca Baleiro, e o quarteirão inteiro ficou sem luz. Fui igualmente responsabilizada pela catástrofe. Por falar em catástrofe, este é o título de uma outra letra de minha autoria, musicada por Suely Mesquita. Quando a lancei em meu CD, ocorreu a famosa tsunami. A canção começa com os versos "que um tornado de arraste, que um maremoto te dizime, que um tufão te devaste, que um terremoto te reduza a escombros...darei de ombros..." O curioso foi que escrevi esta letra num bar de New Orleans, no ano de 1995. Acham que eu estava a fim de me vingar de alguém, mas eu estava apenas ouvindo o weather report e imaginando que um dia aquele lugar ia dançar. E dançou mesmo, infelizmente, com o furacão Katrina, que, por sinal, é uma cantora de lá, que gravou um CD só com canções minhas, produzido por Paulo Fortes. A despeito de o filme "O bebê de Rosemary" sustentar que a besta 666 nasceu no dia 28 de junho, data de meu nascimento e o de Raul Seixas, é uma infâmia eu ser responsabilizada por tais desastres. Não fui eu que inventei o global warming. Bem verdade que previ também a queda das torres gêmeas, em setembro de 1999, quando estive, pela última vez, em NY. E sonhei com pessoas se atirando de um prédio em Wall Street, e ouvi a palavra "crash". Pensei que seria um novo crash da bolsa e corri ao local com meus amigos e tiramos várias fotos ali, comigo apontando pro prédio. Fora outra que tirei na companhia de Ana Pinta, com as twin towers ao fundo e nossos polegares pra baixo. Também escrevi, anos antes, uma canção em NY, que se intitulava "Ninguém está seguro ou Benjamim Constant" e que arrolava uma série de fatos que foram se confirmando com o tempo. Mas eu nunca atribuí nada disto a um poder do outro mundo. Eu leio, absorvo informações e meu inconsciente tira suas conclusões. Não sou vidente. Sou, como diz meu amigo Carlos Calado, uma visionária míope. Lembro-me de que escrevi, para a revista Casseta Popular, ou Porrada, não me lembro mais, uma HQ, com César Lobo, depois também de uma ida nossa a NY, em 1986. Todas as pessoas a quem homenageamos na história foram morrendo, uma a uma, sucessivamente. Portanto, eu acho melhor que me tratem bem, porque, ainda que Raul, nascido no dia 28, cuja soma é seis, do seis, de 1946, tenha dito que nós que nascemos nesta data somos os profetas do Apocalipse, eu prefiro pensar que sou apenas uma repórter do tempo e dos tempos. Porém, não me responsabilizo pela manifestação involuntária de meus poderes. Eu amo São Paulo, Nova York e Nova Orleans e jamais desejei que nada de ruim acontece nestes que são meus lugares favoritos neste mundo. Talvez algum engraçadinho tenha acreditado mesmo nesta baboseira e eu seja o alvo...Seja como for, como vocês podem notar, ainda não acertaram. Isto significa que quem fica perto de mim não é atingido. Mas quem me sacaneia...bom, se vocês olharem para a cara de uma certa cantora do showbiz, verão o que acontece. Não sou de rogar pragas. Mas já percebi que pessoas que tentam me atingir acabam fulminadas por alguma desgraça. Sei lá eu por quê. Também "prevejo" coisas boas e este poder de destruição é inversamente proporcional quando se trata de meus queridinhos. Meus amigos verdadeiros estão cada vez mais prósperos, bem-casados, felizes. E eu acho que, se sou bruxa desta Idade Mídia, daprès Millôr, ou besta, ou metida a besta, ou profeta do Apocalipse, quero crer que seja também fada, foda, bela, profeta do Renascimento.

E prevejo que Mary Fê, ou Marie Feau, vai incendiar, com fogo brando e constante, os corações do mundo. Porque a água ferve bem assim: aos poucos. E, quando eferevesce, borbulha e soa, como um fenômeno da Natureza.

Feliz anivesário, Filha. Se sua mothern é anjo do inferno, tenha certeza de que você é anjo dos céus. E o que minha iconoclastia demole hoje, amanhã, será refeito, muito melhor por você e sua geração de querubins, que quero bem e, se assim desejo, assim o será. Amém!

Mathilda Nostradamus pra Deus e todo mundo...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Causando em Sampa e arredores

Pessoal, voltei pro Rio!
Mas, Mathilda acelerada e incansável, continua em sampa, virada em plena virada cultural.

A breve passagem por terras paulistas trouxe terremoto, sumiu com o padre noviço voador, deu disco voador em São José dos Campos e acabei de descobrir uma nova diva musical paulista a quem assisti numa tarde dessas do interior paulista. Só faltava essa: Marcia Goldschmidt em versão diva dance estaca. Bate estaca nela!

http://www.last.fm/music/Marcia+Goldschmidt

quinta-feira, 17 de abril de 2008

De Dalborga a Simonal, o mundo é trash e nós a-do-ra-mos!

Nosso banheiro acaba de ser brindado com a colaboração inestimável de nossa parceira, Patricia Wuillaume, diretamente de Los Angeles. Instigada pelo link que a Mary nos enviou do impagável Alborghetti, o popular Dalborga, que veicula seu "Cadeia Nacional", via esta máquina do tempo, que Julio Verne teria amado, se vivo. Dalborga continua dando porrada com seu cacetete infalível. Ele tinha o estilo do rádio, trash, de programas como "A cidade contra o crime" e "A patrulha da cidade", que trouxeram para o nosso vocabulário palavras como "meliante" e "indivíduo", para se referir - qual é mesmo o nome politicamente correto? - aos bandidos.
Patrícia revidou à altura com o vídeo abaixo: um clipe do maravilhoso de "Na onda do iê iê iê", com Wilson Simonal mandando a inefável "Mamãe passou açúcar ni mim." Precursor do samba-soul, Simona, como era também conhecido, foi catapultado para o ostracismo, pela esquerda festiva de então. A mesma que hoje se locupleta às nossas custas. Aproveito para lavrar aqui meu protesto. Gostaria de saber por que tenho que pagar indenização aos caras do Pasquim? Que censura eles sofreram, se na minha casa se comprava o Pasquim toda semana e eles ficaram todos famosos e ricos?! Ora, vai tomar no cu. Não dá pra dizer menos. Chega desse papo de vítima da ditadura. As vítimas da ditadura morreram na tortura. O resto foi pra swinging London passear, ou pra Paris, estudar. Que castigo horrível, né?! Também quero! Me exilem, por favor! Sempre, desde aquela época, implorei pelo degredo. Mas isto era privilégio dos radical chic. Nós, humildes representates da classe média, não gozamos de tal regalia. E o Simona dançou, com fama de dedo-duro. Uma mentira deslavada, lançada por essa mesma turma do Pasquim. Quem tinha que ter indenização era ele, que foi difamado a troco de nada. Fazia um dos melhores sons do Brasil. Ajudava a alinhar o Brasil com os países de verdade, como dizia Millôr. É por isto que a cultura nacional não sai da Idade da Pedra Lascada. A gente tem que aturar até hoje esses caipiras nouveau riche, que educaram seus filhinhos na Europa e ainda choram miséria. Porrada neles, Dalborga.
Mas vamos a este momento inesquecível de nossa cultura, antes da ditadura, cujo mal maior foi a instituição dessas vítimas oportunistas. Além de Simonal, temos ali Silvio César, galã cheio de aginomoto, num momento fossa iê iê iê, na boate enfumaçada, com aparência de tikki bar dos Trópicos. Clara Nunes em momento Elisete.
E os Trapalhões, Dedé Santana e Didi Aragão, os inventores do vídeoclipe nacional. O filme é imperdível. Não sei se a Patrícia se lembra, mas nós o vimos no hometheatre de César Lobo, há duas décadas. Tem José Augusto Branco, Wanderley Cardoso, Nestor de Montemar, Wilton Franco, bem antes de "O povo na TV", e, pasme, minha querida Mary, a nossa Leila Lopes, nos seus tenros vinte aninhos. Chacrinha também está presente, na película, emitindo uma de suas frases imemoriais, para uma chacrete boazuda, de formas violoncélicas e calipígia:"minha filha, vai ser boa assim lá em casa." Ei-lo, pois, o trecho exportado de L.A., via youtube (atentem para a presença do The Brezilian Bitles, no acompanhamento, como se dizia:

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Tou também com Silverman e não abro!

Esta minha filha é mesmo a cara do pai. Sim, Jerry Lewis, que ela homenageia abaixo. Foi com ele, sim. O problema é que nós dois somos tão trapalhões que tropeçamos na casa inteira, quebramos vasos da dinastia Kóvak e tivemos que fugir batidos, sem trocar telefones. Ficou esta lembrança de um romance clumsy. A filha palhaça de dois palhaços.
Recomendo a leitura dos comentários deste blog. Edgard Westwind continua nos enriquecendo com seu tesouro de informações preciosas. E Guilherme não é de Serpa, mas Scarpa. Perdão! Dislexia de uma imbecyber. Mas é que eu achei que ele tinha a fidalguia de uma Julieta de Serpa, em seus comentários igualmente oportunos e corteses. Porém, Scarpa lembra os escarpins do Chiquinho, e é, do mesmo modo, muito chique. Além do quê, tanto Westwind quanto Guilherme são produto de nossa Londres, nossa Mikonos, nossa Nictheroy sur mere. Mas parei aqui com o intuito de dizer exatamente o que Mary disse antes: eu também não consigo fazer mais nada, além de ver Sarah Silverman. Esta judia de New Hampshire, que, como eu, toma antidepressivos, tem o humor mais corrosivo da cultura norte-americana contemporânea. Sarah demole o politacally correct e não deixa pedra sobre pedra desta censura vernacular disfarçada. Fala mal de todas as minorias, inclusive da que ela pertence. Já foi até caricaturada com bigodinho de Hitler, mas ela é apenas uma iconoclasta, que vive num país em que o humor desapareceu, em virtude, virtude! bah!, da patrulha do politicamente correto. Sarah ataca tudo isto, depois que Howard Stern fez uma cirurgia plástica e virou um fascista sem graça. Sarah encarna apenas a menina má. E eu me identifico muito também com ela, porque sinto pela humanidade, maiorias e minorias, ódio semelhante. Não sei se isto é efeito dos antidepressivos, mas o fato é que só posso apoiar a atitude de Sarah, porque ela nada mais faz do que desmascarar a hipocrisia grassante. Então, a Mary me aplicou de Sarah ontem e eu fiquei Sarah cotiando o dia inteiro no youtube, e madrugada adentro idem. Em tempo: ela é muito bonita e elegante. Isto ajuda bastante, porque às vezes descamba pra grosseiria, mas a gente perdoa tudo naquela sua silhueta de Oona O`Neil. Canta pra chuchu também. Aproveito o Pessach, pra transcrever uma gag by Silverman: ela diz que não entende como os judeus podem dirigir carros alemães. Lembra que a Mercedes, a Porsche e a Volkswagen foram indústrias deslanchadas com o apoio dos nazistas. E os judeus são os principais compradores destes carros. Diz que se surpreende mais ainda com os alemães, que mataram seis bilhões de seus principais consumidores. "if they had talked to a jew before, he would say: don´t do it, it´s bad for the business." Porém, querida Sarah, você é a prova definitiva de que os alemães dizimaram grande parte de seu povo, mas não conseguiram exterminar seu humor, que, na minha opinião, continua a ser o melhor do mundo. So happy passover, Jewish readers! Que o mar vermelho da platitude abra alas pra o seu sense of humor passar ontem, hoje e sempre. Amen!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Viciada na prata da Sarah

Desculpem o sumiço. Estou totalmente viciada em assistir videos da Sara Silverman e não consigo fazer mais nada q envolva outras funções cerebrais, tais como lembrar o login e senha do blog.

Sei q falhei como bloguista, mas quem nunca falhou q atire o primeiro post.

E na verdade, estou sem assunto para dividir, o q é diferente da falta de assunto total. Sim, tenho diversos assuntos, MAS são todos secretos.

Inclusive Sarah. Se quiserem, procurem-na. Eu deixo com vcs, meu ídolo mór!

Jerry Lewis!

sábado, 12 de abril de 2008

Comentários de muito espírito

Antes de sair pra balada, esta escriba badalada, externa aqui seu contentamento com os comentários inteligentíssimos contidos neste banheiro-blog. Obrigada, Servio Tulio, Renan, Ricky, Guilherme Serpa, Luís Capucho, Anônimos... Um texto inteligente não vale nada sem uma interlocução genial.
Este showbathroom da histeria é o triunfo de interatividade! Adorei o comentário de Edgard Westwind sobre a arte de extrair verrugas. Não percam! Também amei seu comment sobre a tia fina e a tia grossa. Uma verdadeira crônica, muito bem escrita. Renan e Luís também afinados e surpreendentes. Ricky sempre a me puxar as orelhas! (prefiro que me puxem as orelhas a que me puxem o saco, de que sou desprovida!)

Sergio deixou um comentário muito engraçado sobre o filme dos Stones, chamando-os de Queóps, Quefrem e Miquerinos...mas registro aqui o corolário desta observação: sim, eles podem ser tão velhos quanto estes faraós, mas, tal como as pirâmides em que se encontram enterrados, farão parte da lista dos maiores colossos da humanidade. E, quando nós todos estivermos extintos e esquecidos, os livros de história falarão sobre Jagger, Richards, Watts e Wood, e eu, que ainda não desisti de ser a Nefertiti do rei Mick, também serei citada, como a última farani de sua saga.

E, Mary, você amanhã vai ficar sem sobremesa, por aquele comentário atrevido!

Beijos e merci, queridos!!!!!!!! Keep writing! I love to read all of you!!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Naturalmente fina, naturalmente grossa

Meu Tio Al costumava classificar as pessoas entre naturalmente finas e naturalmente grossas. Eu gostava desta brincadeira. Ficávamos horas a fio elaborando as listas. Só que, creio, meu conceito de finura e grossura, ou finesa e grosseria, não era muito semelhante ao dele. Porque eu acho que latino-americano não é naturalmente fino. Existem exceções, como minha filha, Mary Fê. Ela é aquele tipo de pessoa que, se prender o dedo na porta, você nem vai saber, tamanha a sua discrição. Mas ela não é travada, nem tímida. É fina, mesmo. E não vou dizer que tenha puxado à mãe, porque meus cascos são conhecidos internacionalmente. Entretanto, quando eu era criança, minha avó, que era nobre de família, dizia que eu era sua pequena lady. Segundo ela, foi a psicanálise que me transformou numa "punk", que ela pronunciava com "u". Porém, a palavra inglesa, que significa "delinqüente", não denota nem conota o que sou: um cavalo. Uma interlocutora, outro dia, me disse que este blog, salvo a delicadeza natural de minha filha, era como eu: elegante por fora, mas cheio de merda por dentro. Fiquei flattered, porque Coco Chanel ainda é meu paradigma de elegância. Mas discordo: eu acho que sou deselegante por fora. Mas algo elegante por dentro. E isto passa por minha classificação de naturalmente finos e grossos. Eu acho que sou um pouco elegante, por dentro, porque, numa sociedade cada vez mais hipócrita, eu digo o que penso, o que sinto, e não deixo pra ninguém o benefício da dúvida. Isto não significa que eu não mude de opinião. Porque, como dizia meu adorado, Paulo Francis, um gentleman, só os idiotas não mudam de opinião. E, além disto, eu tento respeitar a etiqueta, no que ela tem de mais verdadeiro e etimológico: a pequena ética. Não é que eu seja ética. Porque ninguém é ético, no Brasil. Nem no resto do mundo. Desde que nos levantamos até a hora de dormir, agredimos a ética, ao ligar um ar condicionado e aumentar, por exemplo, os gases atmosféricos. Ou a calefação a carvão, idem. Então, não existe mais ética no mundo. Este conjunto de valores que pressupõe respeitar o próximo e a natureza. Mas acho que conservo uma certa etiqueta. Não é etiqueta de loja. Não é grife. É, por vezes, gafe. Sou gaffeuse. Eu não ligo pra dizer que vou chegar atrasada. Eu costumo chegar na hora. Mesmo de táxi, agora que não tenho mais carro, dou carona. Quando posso, incluo amigos em tudo o que faço. Sou provinciana. E provinciano obedece a etiqueta, porque, numa cidade pequena, se você não faz isto, você nunca mais vai ficar em paz com a sua consciência, porque todo mundo faz, porque todo mundo se vê e se reconhece. A cidade grande brutaliza as pessoas. Ainda assim, há cidades, como São Paulo, que preservam a etiqueta, inserindo na metrópole um jeitinho caipira de ser. Refiro-me aos paulistas, mesmo, porque o pessoal de fora, com raras exceções, não tem este protocolo. Isto é coisa de quatrocentão e de quem cresceu ali. Eu adoro São Paulo e os paulistanos. E ali moram duas amigas finíssimas: Joice Niskier, que é carioca, mas adotou SP, e Valeria Dressano, paulista. As duas são naturalmente finas.
Acho que isto é um mistério tão insondável quanto a origem da vida. Quanto o fenômeno do gênio, que ninguém explica. Por que algumas pessoas nascem finas? Claro que a educação familiar contribui. Mas existe um fator imponderável.

Em compensação, do outro lado de Gotham City, a gente vê pessoas ostentando o título de bien née, que melhor fariam em comer feno. Entendo que aristocrata não tenha mesmo educação. Educação é troço burguês. Mas o que noto, salvo poucas criaturas, como as ladies supracitadas, é que a cavalgadura anda solta. E o que é pior: disfarçada. Acho que faz parte da novilíngua, de Orwell. Guerra é paz. Ódio é amor. Grosso é fino. Fino é grosso. Eu tenho uma amiga que antigamente eu chamava de "Os brutos também amam." Ela dava patadas nas pessoas a torto e a direito. Mas eu a achava fina, porque ela era nobre de sentimentos, de ações, de etiqueta. Agora, parece que ela entrou pra socila do boteco 66 ou 666, e virou uma lady às avessas. Fala fino. Voz suave. Polida. Mas internamente tem um ser que me parece muito distinto daqueles brutos também amam. Como se ela tivesse sido reeducada num reformatório e tivesse aprendido a exibir um verniz, que mascarasse as navalhadas levadas a ferro, fogo e força. Minha amiga era uma lady, quando era bruta. Porque não era bruta, era rude. E aí reside a diferença.
Agora, o pior exemplo que tenho desta deturpação é uma velha conhecida. Ela parece uma inglesa. Anda com passos de gazela. Parece que olha o mundo do belvedere de seu nariz. Mas é naturalmente grossa. Nasceu grossa. Só que aqui no Rio, principalmente, cidade muito jeca, as pessoas confundem magresa com fineza. E eu tenho outra amiga, gordinha, que eu considero a grande dama de todas as artes, a nossa Peggy Guggenheim. Elegante, por dentro e por fora.
Sabemo-nos macunaímas, heróis sem nenhum caráter, mas não custa aprender com os bons exemplos, que são exceções. Eu derrapo nos meus cascos, sobretudo quando eles me doem, como ultimamente - aliás, viva a indústria farmacêutica, estou experimetando um alívio balsâmico com uma droga nova. Porém, tenho como paradigmas minha listinha, que não divulgo, para não pecar na etiqueta. Quando penso nas listas que fazia com meu tio Al, que, por sua vez, era um cavalheiro, segredo a ele, que se foi deste planeta sem educação, aos 47 anos, num dezembro de 1978, estes nomes que aqui omito. Esses são meus naturalmente finos. Eu não sou um deles. Nasci naturalmente grossa. Mas quero aprender a transitar no mundo com a graça de uma bailariana e a força de uma guerreira, não na superfície, mas na passarela do espírito, sob os holofotes da consciência, esta provinciana vizinha, que não me deixa passear pela vida, sem lhe pedir licença.

Claudia, Ilana, Clarices, Patricias, Sandra, Nina, Guida, obrigada por me ensinar os primeiros passos, na cidade de Niterói, onde todo mundo sorri, mesmo sem razão.
Boa noite! Durmam bem! Sonhem comigo e não caiam da cama.

Luís Capucho, a nossa Julie Andrews

Histéricos e histéricas: volto a este banheiro, para dar uma mijadinha, pra não ficar tudo assim meio parado no tempo e no ciberspaço.
Amanhã, tem Luís Capucho na Casa Grande e Senzala de Clara Sandroni, a última Sinhazinha carioca, para não dizer, a última Laurinda Santos Lobo do Rio. Digo isto como elogio, é claro, Clara. Estarei lá, para ver meu amigo e parceiro tocar e cantar suas músicas sempre desconcertantes. Não sei se ele vai tocar "Máquina de escrever", uma composição nossa já gravada por Pedro Luís e a Parede, Patricia Ahmaral, ele e eu. Nossa, acho que nem "My funny valentine" teve tantas versões...

Virei uma noite outro dia, youtubando no surf virtual. E o objeto de minha pesquisa madrugal e madrigal foi ninguém menos que a maravilhosa Julie Andrews. K.D. Lang disse que você sabe se uma mulher é chegada a um velcro - bom eu sou do tempo do flanelógrafo, e não sei se ainda se usa falar assim, porque, afinal, as mulheres agora são skinheads, se entendem o que quero dizer, mas a cantora canadense afirma que gostar de Julie Andrews aponta uma tendência ao sáfico. Eu acho que ela está certa, porque Julie suscita na maioria das mulheres uma paixão capaz de fazer virar a noite. E eu me lembro que fiz minha avó rodar os Estados Unidos inteiros, na década de 60, atrás de uma boneca Mary Poppins. Minha avó, depois de uma odisséia em department stores, conseguiu a tal boneca, na Disneylândia, claro. E eu chorei de emoção quando recebi minha Julie Andrews de celulose.
Chorei agora, de novo, ao assistir a um especial sobre "The sound of music" e um programa em que Julie conta, para um sarcófago de Barbara Walters, a tragédia que foi perder a voz. Pra quem não sabe, ela fez uma cirurgia, em 1996, para extrair um nódulo da laringe e acabou, por barberagem médica, levando um bisturi nas cordas vocais. Na entrevista, logo depois que a notícia veio a público, via Blake Edwards, marido de Julie, você sente toda a dor desta mulher que, aos 13 anos, cantou para a rainha da Inglaterra e foi a cantora mais perfeita do teatro musical. Eu acho que este médico deveria ser apedrejado em praça pública. Julie Andrews ainda cantava muito, quando sofreu esta operação. Minha amiga, Claudia Barbosa, a viu na Broadway, em "Victor or Victoria", e me disse que, mesmo com todas aquelas cantoras fantásticas, que só a Broadway tem, ela está no topo, porque é única, inventou um estilo, que dizem que foi meio chupado da Marni Nixon, mas que eu considero uma invenção dela, porque ela é superior. Discutimos outro dia, eu e Servio Tulio, se era Nixon ou ela quem dublava Audrey Hepburn, em My Fair Lady, e Deborah Kerr, em "The king and I". Servio me provou que foi Marnie, através de pesquisa no Google. Mas eu vi um documentário, há anos, sobre "My fair lady", em que Julie aparece dizendo que todo mundo sabia que não era Audrey, mas ela que a estava dublando. Nos créditos, não há nada, porque queriam que a Audrey ficasse com os louros todos. A Audrey canta lindo também. Basta ver "Breakfast in Tiffany´s", onde ela entoa "Moon River", de Henry Mancini. Mas belting ela não faz. Eu só sei que impedir Julie Andrews de fazer o que é vital pra ela é um crime, que merece a pena capital.
Depois, vi outra entrevista dela, já mais conformada, e dando a volta por cima, ao se transformar em autora de livros infantis. Ela até brinca, dizendo que pensa em gravar "Old man river", com essa voz rouca que ela tem agora.

Então, penso em Luís Capucho, que também perdeu sua voz, no mesmo 1996, em outras circunstâncias e no sofrimento que foi pra ele. Do mesmo modo, ele se transformou em escritor. É, para mim, o grande romancista contemporâneo brasileiro, comparável a Machado e Lucio Cardoso. Mas ele foi muito determinado e voltou a cantar. Reinventou-se. Luís agora se firma como o nosso Bob Dylan, não apenas pela qualidade poética de suas canções, mas pelo jeito de cantar, que lembra muito Dylan, no início da carreira. Melhor, quando se tornou elétrico. Acho que Julie também irá se reinventar, em breve, e reaparecer como uma bluseira das melhores, da mesma maneira com que Doris Day é uma cantora de jazz tão poderosa que Ella Fitzgerald se dizia influenciada por ela.

Abaixo, dois momentos de Luís. Um antes. Outro depois. Tenho meu favorito, que é o depois, porque é mais rock´n roll. Como se ele tivesse feito a mesma trajetória que seu brother norte-americano. Aliás, eu sou uma, antes de Luís. E outra, depois dele. E acho que ele pode dizer o mesmo de mim, porque em arte, como dizia Mario Quintana, não há influência, mas confluência. E eu me sinto o contrário do que diz a letra de uma de nossas canções:"eu estou muito Luís..." E ele, não sei se está muito Mathilda, mas noto algumas semelhanças, sobretudo na sua postura agora mais conservadora na vida, no melhor sentido. Mas fiquem com o antes, "Velha", e o depois "Sucesso com sexo", meio cabotinagem minha. Não é uma questão de ego, porque como disse outro dia em resposta a uma interlocutora, não é meu ego que é fenomenal. Sou eu! Aos homeclips, pois, ambos realizados por Pedro Paz:



terça-feira, 8 de abril de 2008

The bad seed

O youtube é a maior invenção dos últimos anos. Curvo-me diante do responsável por este portal do paraíso. Acabo de descobrir uma pérola: "The bad seed." Vi este filme em L.A., há dois anos, em meio a muita zombaria. O filme, de 1956, hoje é um prestigiado camp movie. Mas, naquela época, era seríssimo. Adpatação de um sucesso da Broadway, ele narra a estória de uma serial killer de oito anos. Dirigido pelo excelente Mervin Leroy ele advoga que a maldade é hereditária, com uma base toda psicanalítica maluca. A atuação é ótima. Super caricatural. O filme é uma peça filmada e obedece a marcação original. O mais engraçado é o personagem central, interpretado por uma atriz, que hoje, aos cinqüenta e muitos anos, vive de dar palestras sobre este seu único sucesso juvenil, que a alçou à condição de diva, no universo gay. Eu vi uma entrevista com ela, na TV, e ela parece que não entende que é pura gozação trash. Ela conta que tinha que pintar o cabelo de um louro muito brilhante, para que ficasse com uma aparência meio angelical. Mas ela fica mesmo é sinistra. Dá medo. Eu ri muito vendo. O mais gozado foi que a peça terminava com a insinuação de que a pequena assassina iria escapar e continuar matando. Mas a censura da época achou um pouco forte e encomendou aos roteiristas um final mais adequado: ela, em vez de escapar, morre fulminada por um raio. Este filme mereceria passar numa dessas maratonas trash de cinema. Mas, por enquanto, vocês o podem ver inteiro no youtube. Confiram o trailler:

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Verruga ou não verruga: eis a questão!

Falei, alguns posts atrás, sobre o problema da calvície precoce em músicos. Agora, neste momento orkútis, internet, a manicure-vedete, faço outra reflexão, desta feita, sobre um fenômeno que me intriga do mesmo modo: a presença de verrugas nos rostos das jovens atrizes. Não me recordo de ter visto, no rosto de uma Ava Gardner, de uma Rita Hayworh, de uma Heddy Lammar, muito menos de uma Ingrid Bergman, uma única verruga sequer. E, mesmo depois da golden age de Hollywood, nunca vi nada parecido no semblante de Diane Keaton, por exemplo, ou no de, mais para cá, Naomi Watts... Agora, reparem em Natalie Portman. Ou aqui, no Brasil, aquela filha da Angela Leal...Mas com homens também: apesar de Cary Grant apresentar uma pinta cabeluda na face, a profusão de verrugas nos rostos masculinos deu-se depois de Kevin Costner. Será que foi por isto que ele sabotou Madonna?! Não que eu tenha nada contra verrugas. Ao contrário, elas me exercem certo fascínio. Tanto que escrevi uma hitória pra criança, intitulada "O ladrão de verrugas." O problema é justamente este. Elas me atraem tanto a atenção que não consigo me concentrar em mais nada. Então, não posso ver filme com atores ou atrizes portadores de verrugas, porque não consigo acompanhar a narrativa, tão fixada fico nelas. No caso de um intelectual, de um escritor, isto não tem a menor importância. Margueritte Yourcenar que o diga. Mas a gente não lê romances, pensando nem na cara, nem nas verrugas do autor. Não sei se isto é influência da corte dos Luíses, de volta nesta corte sem luzes, ou se praga do Álvaro Vale, mas a juventude anda apresentando uma profusão de verrugas nunca dantes testemunhada. E eu temo por minha saúde mental, porque sinto ganas de pular em cima de uma verruga e lhe arrancar o pêlo, quando vejo na tela do cinema. Minha obsessão por esta cartilagem é tão forte, que já houve uma época em que pensei em fazer, em sociedade com Patrícia Wuillaume, um cabeleireiro de pintas cabeludas. Ficamos horas concebendo cortes: chanel, rasta, moicano...e, no caso da verruga, uns dreads também cairiam bem. Poranto, eu rogo às atrizes e atores que extraiam suas verrugas, para que eu, cinéfila inveterada, possa ver filmes sem a aflição ameaçadora desta visão tentadora. Obrigada!

Filha, olha como ele é lindo!!!!!

Desculpem a insistência no tema, mas Marcio Paschoal, crítico de música, que teceu niagaras de elogios tanto à mãe quanto à filha, em seus respectivos trabalhos musicais, reconhecendo nossa linhagem em meio a tanta galinhagem, me enviou o clipe, que ora posto aqui. Trata-se do encontro de John Lennon, Eric Clapton, Mitch Mitchel e Keith Richards, no lendário Rolling Stones Rock and Roll Circus. Dá pra se pensar que, ali, naquele circo doido, Lennon estava muito mais em casa do que na companhia de alguns de seus parceiros, mais travadinhos. Mas o melhor é a apresentação de Mick Jagger, com Lennon com um prato de sopa, ao lado. Isso, sim, é roquenrol.

Filha, give Mick a chance, olha que lindo:

Possuída por Mick, exorcizada por Madonna

Contei pra minha cyberfilha um cyberfenômeno que testemunhei, depois do post sobre os Stones. Talvez tenha parecido ali que eu estivesse fazendo a apologia do demo, ou o contrário. Nem uma coisa, nem outra. Mas o fato é que, assim que postei a elegia stoniana, recebi um email ameaçador, que jurava me tirar do ar, no mesmo instante, e observei que o número, na caixa postal era 666. Brrrrrr! Ou foi uma dessas sincronicities, advogadas por Carl Jung, ou cutuquei mesmo a besta com vara curta. Então, como não sou mulher de retirar o dito por medo, prefiro, antes, explicar:

Nos anos 60/70, revoluções ocorriam a cada minuto. Recentemente, Catherine Millet, considerada a sucessora de Foucault, comentou que as revoluções daquela época derrubaram padrões para instituir outros. Isto é, viraram instituições rígidas, como as que almejavam demolir. Assim, você era obrigada a perder a virgindade, a se drogar, a ser de esquerda, a ser hippie, enfim, uma patrulha ideológica chatíssima. Mas, ao mesmo tempo, havia quem andasse ao largo disto. Os Stones nunca carregaram bandeira. Eis por que sempre os preferi aos Beatles, que tinham aquela máscara ideológica, do tipo, abram alas para nossa limusine passar, porque nós acreditamos na luta de classes. Já os Stones queriam apenas ser. Na época, o tinhoso estava em baixa. Mesmo as religiões diziam que ele não existia. Porque, com o (desodorante) avanço da ciência, quem é que iria acreditar numa criatura com chifres, rabo, e pés de cabrito?! Então, se dizia que o que se lia na Bíblia era simbólico. Foi assim, creio, que tanto Raul Seixas, que afirmou ser o diabo o pai do rock, quanto Jagger, com seu "Simpathy for the devil", brincaram com fogo, no melhor estilo Brasinha.

Mick esteve no Brasil, nos sixties, e adorou um ponto de macumba que ouviu na Bahia. Assimilou o ritmo e fez esta que é uma de suas canções carro-chefe. Em "Gimme Shelter", concerto que fez em Altamont, durante a execução da música, um Hell`s (brrrr!) Angel, responsável pela segurança da banda, esfaqueou um sujeito da platéia, e o gesto foi considarado o fim do flower power, porque, dali em diante, os shows passaram a ser em palcos distantes da multidão que, antes, ficava colada a ele, juntinho dos ídolos. Não raro, subia um no palco e agarrava Mick (ai, o que eu perdi!!!!)etc. Mick Jagger repudiou o ato e teceu duras críticas aos Hell´s Angels, que o juraram de morte. Dizem que foi tudo obra da música, que tanto garante até hoje o sucesso do grupo, quanto o obriga a se apresentar, já sexy-agenário, em tours gigantes.

Como neoiluminsta que sou, tendo a repudiar estas crendices. Acho que, se é pra acreditar nos mitos defendidos pelas religiões oficiais, então, há que se crer em mula-sem-cabeça e que-tais, posto serem tão inverossímeis quanto. Mas Jung já explicava e defendia a força dos mitos e símbolos. Então, a palavra com sua estanha potência é capaz de portar e transportar toda a energia de uma simbologia antiga e causar alguns estragos. Portanto, lavro aqui minhas desculpas ao oculto, seja ele quem for, e espero não pronunciar seu nome em vão, doravante. Não sou grande como Mick Jagger, para mexer com tais mitos e me safar, vitoriosa.

Contei tudo isto a Mary que me aplicou, no sábado, obras completas de Madonna, para me purificar. Observei que Madonna evoluiu muito como performer e personalidade. Mas eu curtia mais o som que ela fazia no início. Ela cresceu muito como atriz e foi conquistando formas muito interessantes, do ponto de vista audiovisual. Mas sou mais fã de suas letras antigas. Acho que Madonna é uma grande atriz, uma estrela, como Marlene e Marilyn, mas ela foi sacaneada por Hollywood, só porque falou mal de Kevin Costner, membro da máfia hollywoodiana. Então, não se fez de rogada. Tratou de criar seu próprio cinema, maravilhoso, que podemos ver nos DVDs. Mick sofre a mesma descriminação. Os machões que tomaram Hollywood, de uns tempos pra cá, transformando-a numa fábrica de tédio, não querem bichas, como Busby Berkeley, Cecil B. De Mille, Esther Williams...Mick e Madonna. Então, fica esse troço enfadonho de homem. Qualquer dia, a gente só vai ver futebol no cinema. O mundo todo está se masculinizando, ao contrário do que nós, dos 60/70, imaginávamos. Então, louvo, muito, a existência de uma Madonna que, ainda que vítima de uma musculatura masculina, e de uma certa atitude macha, é muito fêmea e mulher. O mesmo digo de Mick. E é interessante notar como eles são antíteses que, um dia tocadas, possivelmente farão a síntese, por que todos nós, mortais, esperamos. Mick é tão macho que pode se vestir de mulher, rebolar, o diabo, oops, que ele abre a boca e sai aquele vozeirão de bofe, que não deixa dúvidas sobre sua virilidade. Madonna, por sua vez, por mais que faça o bofão, tem uma silhueta tão feminina, que não deixa dúvidas de que é a mulher, em seu eterno feminino. Bem que eles podiam fazer um filme juntos!

Enfim, quando penso que Nietzsche decretou a morte de Deus e morreu pedindo perdão ao Criador, quando lembro que Schopenhauer proclamava que o mundo era um lugar habitado por demônios e seres atormentados, quando rememoro Pitágoras, que sustentava ter Ele criado a luz e o homem, enquanto o Outro houvera criado a treva e a mulher...chego a achar que somos um pouco de ambos e que o negócio é a gente saber usar as porções do jeito mais positivo possível. Evitar os pecados capitais, principalmente, os pecados do capital, mas "pecar na viola", como Servio Túlio diz, citando Dietrich na impagável interpretação de "Luar do Sertão". Pequemos, pois, na viola, como Mick. Oremos, outrossim, como Madonna. E assim tudo há de se resolver em paz.

Falei demais? E porque sou, como Madonna e Mick, muito bicha! E muito bicha louca!

Beijos, cherrie, amore, amado, amada, quérida, darling, sweetie...