segunda-feira, 31 de março de 2008

EMO diálise

Li agora o texto da Mary e vi o vídeo. Os EMOs não passam de darks com jogging. E os darks, por sua vez, eram os góticos, da era pós-punk, também conhecida como New Wave. Naquela época, havia muitas tribos urbanas: punks; pós-punks; new-romantic; darks; carecas - skinheads...e elas brigavam entre see (sic). Eu era psicodélica, pós-pop, como o Prince, guardando as devidas proporções. Mas não pertencia a nenhuma escola. Era, talvez, neo-dadaísta, como o pop se definia. Dizia que fazia um som pós-operatório, inspirado na perereca da vizinha. Nunca pertenci a nenhuma tribo. Mas sempre transitei por todas elas, com desembaraço. Agora, entretanto, nem isto. Acho muito legal todo esse revival, ainda que de jogging. Ao menos, os jovens estão mobilizados por alguma coisa, depois de quase duas décadas de caretice, yuppismo, mauricice...E acho mais bacana ainda o fato de ser conhecida de alguns desses grupos. Mary diz que as tribos dos oitenta têm sabor de infância pra geração dela. Neste caso, acho que Nina Hagen foi a Fada Sininho desses meninos. Emo, homo, whatever...qualquer coisa é melhor que baile funk. Eu não suporto hip hop. E funk pra mim ainda é o psicodélico do Funkadelic, de George Clinton. E a Mary pode ostentar alguns signos de sua geração, mas não a vejo inserida em nenhuma taba esteriotipada. Quem nasce independente não perde a pose. Eu sou clássica, como uma pizza de muzzarella. E minha Biba filha é classuda, como Audrey Hepburn.

Eu sou Emo Pê Bê!

Estava lendo o texto sobre Niterói q Math escreveu e lembrei da vez em q fui atração d um programa de entrevistas para web (q já evaporou no pinico q é a internerd), gravado em Nikity.
A primeira coisa q o rapaz entrevistadeiro (pq entrevistador é outra coisa) me perguntou foi: Mary Fê, vc é EMO?
-Bom, só se eu for EMO pê bê.

E eis q os astros se alinham e recebo hj o vídeo abaixo. Achei oportuno dividir com vcs.
EMO é muita emoção!



hare! hare!

domingo, 30 de março de 2008

Iê Iê Iê com Bette Davis

Aqui está, para fechar seu domingo e começar bem a semana, a garota de meus sonhos: Bette Davis. Capturamos este clipe fenomenal, depois de uma espionagem básica no orkut de outra garota muito original: Pree V. Ela pescou a moça mais elegante da elegantíssima Nova Inglaterra, num de seus micos mais hilários: cantando iê iê iê no show de Andy Williams, por ocasião do lançamento de seu Lp, cujovinil tive a sorte de encontrar num sebo em NY, há mais de 20 anos. E eis que fui brindada com esta pérola. Esta que, nos anos 40, tinha uma autoridade que nenhuma outra estrela lograva possuir, que decidia que papel iria interpretar, com que diretor e em que estúdio, agraciada ainda com o maior salário da profissão e a maior coleção de Oscars de seu tempo, aos 40 anos, entretanto, foi obrigada a colocar um anúncio no jornal que dizia: "Bette Davis, atriz, aceita qualquer papel em qualquer filme." Desde aquela época, era assim. Aos 40, Hollywood encosta as atrizes. Mas Bette ressuscitou através de Baby Jane, um de seus maiores personagens, vividos ao lado da pérfida Joan Crawford, com quem fazia, na imprensa, uma dobradinha à Emilinha e Marlene. A arqui-inimiga de Bette, contudo, foi Tallulah Bankhead, que só não teve a mesma projeção que a rival, porque tinha fama de ser ainda mais difícil e hábitos como cheirar cocaína. Alice Vergueiros, no concorrido "Tapa na pantera", parafraseia Tallulah, que dizia: "cocaína não vicia. Cheiro isto há dez anos e nunca fiquei viciada." Sobre Bette, ela disparou: " Se pudesse, arrancava um a um os fios daquele bigode." Mas ambas eram elegantérrimas e únicas. E Bette, mesmo pagando mico, carrega em seu porte a elegância intransferível e inalienável de New England. Não existe em um lugar no mundo sequer gente tão elegante quanto a que transita naquela região. A essência do WASP ganhou ali contornos inefáveis, traduzidos em seus produtos femininos, como Davis e Katherine Hepburn. Com vocês, de presente de Pree V, uma garota também muito elegante e antenada, Bette Davis em seu momento Chubby Checker, escarnecendo o personagem que a trouxe de volta à ribalta. Vale ver também os outros clipes, com a introdução de Andy Williams do programa e sua guest star.



Eu acredito no incrível

A semana foi intensa para mãe e filha, eis a razão de os posts teriam ficado post(s)poned. Mas, como diz Ellen DeGeneres, que mãe e filha adoram, "don´t wait for tomorrow. Procrastinate now." Minha tecnológica cyber filha está prostrada numa cama. Eu, noutra. Ela em sua casa. Eu, na minha. Já nos telefonamos algumas vezes, quebrando as regras de nossa família, que rezam comunicação predominantemente cyber. Mas é que ela foi dormir muito tarde. E eu, mais tarde ainda. Fui ontem assinar meu livro infantil, "A caixa de Pandura", ed. Rocco, com Suely Mesquita, no Salão de Leitura de Nikiti, minha terra natal maravilhosa, onde a Su constituiu família e construiu uma vida legal. Niterói é a verdadeira cidade maravilhosa. Sim. Os cariocas dizem que a melhor coisa da terra de Araribóia é a vista do Rio. E é mesmo a vista mais bela do Rio de Janeiro. Porque o Rio só é bonito de lá. De longe. Ontem, estava deslumbrante. Mas não é só o RJ do outro lado. É a Baía de Guanabara, da qual Niterói também faz parte. É uma beleza. Niterói é a Grécia daqui. Mikonos. Que privilégio ter sido criada em Icaraí, de cara aí, quer dizer, de cara pro mar da Guanabara. Eu passei a infância numa casa na Moreira César, que pertencia a meus avós, que, por sua vez, moravam naquele que foi o primeiro edifiício da Praia de Icaraí. Habitavam um apartamento gigantesco, com uma vista de tirar o fôlego. Eu e meus primos descíamos pra praia, cuja água era então cristalina, e ajudávamos os pescadores a puxar o arrastão, e eles nos pagavam com peixes fresquinhos, que levávamos orgulhosos pro apê de nossos progenitores. E fazíamos questão de fritá-los nós mesmos, para horror da cozinheira. Depois comíamos o peixe admirando o cenário, o mais lindo do mundo, sobre o qual o sol derramava o arrebol, felizes e recompensados, como dois autênticos pescadores da alta burguesia. Depois, eu me mudei pra um apartamento, muito grande também, de quatro quartos, três banheiros, duas salas, no prédio mais alto da cidade. Era um luxo ter tantos banheiros naquela época. E eu, com meu complexo de Cleópatra, tomava longos banhos, no meu box, do meu próprio banheiro, que era cheio de duchas laterais, uma grande novidade nos anos 60 que eram, e me sentia mesmo uma rainha. Sempre que meu primo vinha do Rio, eu ia pro aparatamento da Praia de Icaraí, que ficava a duas quadras do meu, e fazia um pseudo-programa de radio, na área interna do edifiício, intitulado "A rainha do Universo." Com uma voz de Dick Vigarista, eu me anunciava a rainha que iria escravizar os terráqueos, sob os apupos dos moradores e as risadas cúmplices de meu primo, que adorava incentivar meus micos e se divertir às custas da minha cara de pau. O "pgm" virou um hit no prédio e pontualmente, no final da tarde, eu enfiava minha cara (de pau) numa janelinha e minha voz ecoava pela torre: "Súditos rrrreaisss, eu sou sua rrrainha. A rrrainha do universo. E vocês me devem obediência." Já aos sete anos, eu era uma doidivanas, e eu e meu primo, muito influenciados pelo rádio, que ouvíamos às terças-feiras, em programação dupla: "Teatro de mistério", de Helio do Soveral, um noir no ar, no qual o Humphrey Bogart/ Sam Spade se chamava Inspetor Marques. E ainda "Eu acredito no incrível", que relatava fenômenos "reais", enviados em cartas, pelos ouvintes, tais como a extraordinária aparição do vampiro de Nilópolis. Será que era o Anísio Abraão David?!, ou a do bode vermelho em Madalena. João preferia o noir. Eu já gostava mais do fantástico. "Eu acredito no incrível, eu acredito no extraordinário, eu acredito no inacreditável..."

E o incrível aconteceu ontem, em Nictheroy. Encontrei-me, depois de vinte anos de tentativas, com Sérvio Túlio. O gênio que trouxe a música eletrônica para o Brasil, nos eighties, em sua banda Sahara Sahara. Sérvio está cada vez mais erudito, culto e brilhante. E eu tive uma noite sensacional, na minha cidade, em sua companhia e na de outras pessoas muito inteligentes e antenadas. Por falar em antena, eu e Sérvio descobrimos que temos uma antena implantada na mesma parte do corpo: o fêmur direito que, em ambos, é de titânio revestido de platina. Conheci mais facetas, sempre instigantes, do tabalho deste sérvio, que já esteve na Sérvia, a convite, para tocar. Nós, beatinikitis, somos os sérvios. Os cariocas, croatas. Mas o melhor é atravessar a ponte ao amanhecer. A conversa estava tão rica, na casa do Edil, filósofo-astrólogo, na companhia de Túlio e Lou, que eu perdi a noção da hora e saí dali às seis da manhã, sob uma deliciosa chuva. Parecia um sonho, em preto e branco. O Pão-de-açúcar surgindo entre as nuvens cinzentas, como uma aparição fantástica. E a cidade mergulhada na bruma, toda cinza. Metrópolis de Fritz Lang, como o skyline de NY, que eu via do Brooklyn, sempre do outro lado da ponte...destino de todo niteroiense que se preze. Que espetáculo! Agradeci aos deuses por aquele longo dia. O Rio amanheceu na minha frente, no vão central, e eu pensei que amo o Rio assim: deserto, cinza, de longe, do alto da ponte...eu acredito no incrível, eu acredito no extraordinário, eu acredito no inacreditável, no fantástico...a vida é radiofônica. Niterói é cinematográfica...deve ser por isto que ali está sediada a melhor escola de cinema do Brasil. Os astrólogos falam muito do céu de Niterói. Dizem que quem nasce sob ele está mais conectado com o resto do planeta e com o universo, do que outros brasileiros. Sou bairrista. Baiana da Baía de Guanabara, como meu amigo Paulo Fortes. Mas a diferença é que niteroiense não liga se falarem mal de sua cidade. Niterói, talvez por ser mais cosmopolita que sua antípoda, do outro lado da poça, por ter tido uma colonização de ingleses, italianos, japoneses e, principalmente, judeus, muito grande, tem esse auto-deboche, esse rir de si mesmo. Niterói é a cidade sorriso. E também a cidade riso. Os nikitinenses da gema são sempre muito engraçados. Gostam de rir de tudo o tempo todo. E têm sempre um parafuso a mais ou a menos. Influência dos discos voadores que todos inventamos, nos anos 60, que vimos. Eu inventei que vi uma nave espacial, em junho de 1969. Nós estudávamos em horário integral e estavámos no intervalo do almoço, olhando o céu. Era sexta-feira e a gente queria matar aula. Apareceu um balão. E nos pareceu uma ótima desculpa. Descemos do terraço, fingindo pavor, e dizendo que havíamos visto um disco-voador. A diretora do colégio era casada com o colunista social do Fluminense. Imediatamente, acionou a imprensa local. Por nossa feita, pedimos aos operários da construção ao lado, para confirmar a visão do OVNI. No dia seguinte, tive que voltar à escola, um sábado, toda uniformizada, para posar para a matéria sobre a maior mentira da década., confirmada tanto pelos obreiros vizinhos, quando por um maluco na barca.

O colégio era todo progressista, experimental. E eu sou resultado desta experiência e de outra, o CEN. E lá estava eu com meu uniforme jeans, uma inovação, bem avant garde, magra como um bacalhau, com meu jeito Emília, Marquesa de Rabicó, de ser, apontando para o céu. Depois, me pediram para desenhar o disco-voador no quadro. Uma vez que o que permanecia mais fresco na memória era a nave dos Incas Venusianos, de National Kid, não tive dúvida: desenhei aquele olho nipônico cheio de luzes, que figurou, ao lado de minha foto, na primeira página do Fluminense e numa página interna de O Globo. Meu primo, meu cúmplice nas doidivanices, quando olhou o desenho, no jornal nas mãos do meu avô, caiu na gargalhada e disse: "é mentira dela. Esse é o disco-voador dos Incas Venusianos..." Mas, àquela altura e autora, eu já era uma ficcionista inveterada, e, no empenho de convencer os outros, convenci-me a mim mesma de que tinha visto a tal nave. Caí em prantos. Minha mãe se precipitou em minha defesa: "vocês implicam com esta menina." Uma tragicomédia. Ferida em minha fidedignidade, recolhi-me à sala da televisão e mergulhei no espectar de outro science-ficiton obrigatório na época: Lost in space.

E agora, aqui, lost in cyberspace, pela primeira vez, depois de 40 anos, finalmente confesso: era tudo mentira, mas era tudo verdade, porque eu acredito no incrível, eu acredito no inacreditável, eu acredito no fenomenal, porque eu acredito na minha invenção, como Thomas Edison na lâmpada incandescente e Graham Bell, no telefone. Eu não passo de uma cientista maluca. Mas nasci em Niterói, e nascer em Nikiti sempre foi uma piada. Uma farsa. Mas, em verdade vos digo, as risadas que emiti e arranquei foram muito verdadeiras. Porque eu acredito no incrível, extraordinário e fantástico poder do riso.

terça-feira, 25 de março de 2008

Cleptomania intelectual

Tem gente que rouba carro. Tem gente que rouba dinheiro. Tem gente que rouba banco. Tem ladrão de galinheiro. Mas ainda não existe cadeia, pra bandido que rouba idéia. Cleptomania intelectual, psicopatia nacional...

Escrevi estes versos, há quase 20 anos. Agora, dizem que estou mais serena. Porém, jamais serei serena, porque Serena, pra mim, é a prima má da feiticeira. Não que eu aspire a ser boa, como a nossa querida Leila Lopes, mas eu tenho esta veleidade de ser chique. E a elegância prevê etiqueta, que significa pequena ética. No mundo das idéias, no qual eu e minha filha transitamos, e de onde tiramos nosso sustento, não existe ética. O patrimônio intelectual brasileiro é a casa da sogra. As pessoas entram, abrem a geladeira, sem pedir, e vão tirando o que querem e se fartando. Claro que neste transetê todo de pensamentos, mais de uma antena capta a mesma idéia. Quando eu conheci o Zeca Baleiro, e lá se vão 13 anos, ele foi ao meu apartamento e tocou uma canção, intitulada "Heavy metal do senhor", que era muito parecida com uma que eu havia composto pra Rita Lee "I love Lucifer", e que ela não gravou pra não dar pinta. Então, eu disse pra ele: " seu espião industrial. Você roubou minha música!" Na época, eu era mais conhecida que ele, porque já tinha sido gravada pela Rita, Fernanda Abreu, Marina, Luís Melodia, e outros famas. Ainda que eu seja irremediavelmente cronópio. Contudo, o Zeca, de fato nunca tinha ouvido minha música, nem eu, a dele. Chegamos à conclusão de que tínhamos tido a mesma idéia, tanto para letra, quanto pra música, e possivelmente ela nos teria chegado no mesmo dia, que foi algum dia de junho de 1992! Então, simplesmente nos tornamos parceiros, a partir daí. Meus amigos colaboram muito com idéias nos meus textos, e eu nos deles. Sou bastante cuidadosa com isto, porque eu não quero fazer com ninguém o que já fizeram comigo. Reza a lei que uma idéia, por si, não pertence a ninguém. Mas uma idéia formalizada, escrita, registrada em texto, seja poesia, roteiro, conto, romance...esta tem dono e a ele se devem direitos autorais.
Neste momento, em que os copywrights parecem dançados, sobretudo graças à internet, que é terra de ninguém, esta cleptomania de idéias virou instituição. Penso em relaxar com tudo isto e ficar serana. Mas acabo por me irritar e virar prima má. Afinal, sou uma autora. Vivo disto. Não sei fazer outra coisa, por enquanto. Ainda pretendo aprender, porque meu produto virou, como disse Ana Pinta, brinde. Nunca me importei de dar idéias, quando alguém me pede. Eu as tenho em profusão. Não porque eu tenha sido ungida pelos deuses, com o dom da criação. Mas porque eu fui treinada, tanto no Centro Educacional de Niterói, quanto em milhares de empregos e trabalhos, a criar rápido e em quantidades industriais. Por isto, meu cérebro pifa, de vez em quando, tanto quanto os tendões das bailarinas e dos atletas se comprometem com o uso abusivo, exigido pela profissão. Estamos mergulhados na socidade da cópia, desde Walter Benjamim, que já proclamava o fim da aura da obra de arte, com as técnicas de reprodução. Com o computador e os meios de produção e reprodução acessíveis a todos, a obra-de-arte parece estar fadada a não ter dono. Vivemos o obscurantismo do que Millôr chamou de Idade Mídia. Os autores estão cada vez mais escondidos. Hoje, a obra é o próprio autor e sua impressão digital, não digitalizada. Os livros que mais interessam são os autobiográficos. A ficção, por mais imaginativa e instigante, já não suscita tanto interesse. Eu tive a sorte, e o azar, de ter uma biografia única, muito original, que me garantiu um lugar no panteão das raridades. O que me daria muita solidão, se eu não tivesse encontrado meus pares, meus "conterrâneos de alma", ao longo do caminho. Entre os quais, a Mary. Pago um preço altíssimo para ser quem sou. Pensei em vender minha alma na esquina. Mas desisti. Porque eu estou, finalmente, satisfeita com este projeto inacabado que me fundou, e afundou. Não quero outro script. Nem outro personagem.
Recebo emails e mais emails de gente me pedindo idéias, sugestões, pitacos, palpites...normal. Havendo disponibilidade, eu faço isto com prazer. Mas realmente me sinto invadida e usurpada, quando alguém usa um argumento meu, já formalizado, com outros fins e não me dá o crédito. Acho canalhice. E, se fizer algo semelhante, me avisem. Porque, como disse o mesmo Millôr, a corrupção vicia. E este vício eu prefiro não ter, porque ele tem conseqüências muito sérias, prejudiciais não apenas ao bem comum, mas sobretudo à nossa consciência. Não acredito na existência do inferno. Mas acredito que, mais dia menos dia, temos um encontro com a nossa consciência, que irá nos cobrar. Eu já tive vários. Não se trata de culpa judaico-cristã. Se trata de lucidez, de cuidado, de revisão e, finalmente, do perdão. Para se perdoar ao outro e a si próprio, é preciso se valer da consciência. Eu errei, eu me perdôo. Você errou e eu te perdôo. Todos erramos. Todos fazemos merda. Mas o contato com o outro deve nos proporcionar o acesso a esta consciência, para que não viremos monstros civilizados. Déspotas esclarecidos. Somos todos pecadores inatos. Predatas. Vejo gente do pior caráter, hoje em dia, se autoproclamar ético. A ética é um conjunto de valores decidido por uma sociedade em acordo e de acordo com referências. Creio que, ao ligar um ar condicionado, o que faço diariamente, eu esteja compromentendo o meio ambiente e, portanto, ferindo a ética. O tempo todo, neste ponto de decadência da civilização, ferimos a ética.
Mas que a gente consiga, ao menos, manter a etiqueta. Espero ajudar meus parceiros nisto e que eles também me ajudem. Porque eu ainda não desisti de ser uma das dez mais elegantes do Ibrahim, ou do Ibrahímem, como diz Mary Fê. E pretendo desfilar minha elegância, na velhice, como uma velha dama, se não digna, justa e sem saia justa.

Berenice, se segura! Nós vamos explodir!


"Dados no universo digital vão explodir até 2011 e Brasil acompanha crescimento"

A manchete acima é uma das perspectivas de futuro mais engraçadas do dia. Uma vez Mathilda me falou q se todas as pessoas de Copacabana puxassem a descarga de suas privadas ao mesmo tempo, presenciaríamos a inundação q transformaria o Rio de Janeiro em uma nova Veneza. Fui criança em Copa, e sempre sonhava estar no meio da arrebentação pegando ondas gigantescas q invadiam o bairro.

Bom, o calendário Maia termina em 2012, a partir disso, NADA MAIS, Berenice! Meu palpite mãe Diná do dia é o seguinte: vão explodir os dados do universo digital em 2011 e não restará nada a fazer, a não ser mandar pelo ralo nossos obsoletos objetos tecnológicos. Assim q todos puxarem a descarga ao mesmo tempo, adeus planeta Terra, olá planeta Piscinão. Glub glub!! Eu vou navegar! Eu vou navegar nas ondas do mar eu voooou navegaaaar...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Marychandising...

Resolvi postar 3 videozinhos com os deliciosos desenhos do querido amigo Moidsch. Esses videos foram projetados numa tela dágua na Lagoa Rodrigo de Freitas, durante o PANamericano de Atletismo do ano passado. Acreditem ou não, nem eu nem ele assistimos o resultado, porque no dia q a gente pôde ir, caiu o maior toró! Se alguém por acaso filmou o ao vivo, avise pra gente nos comentários! haha





R.I.P. Memória RAM

Por mais q eu goste de máquinas - e elas sabem q as amo - tem uma hora em q preciso descer do meu portal e admitir: não sou uma delas mas, de tempos em tempos, eu também pifo.

Sou apenas um tipo humano, INTP (introvertido, intuitivo, pensador e perceptor) nas CNTP (condições normais de temperatura e pressão). Tenho me cobrado saber respostas demais, fazer trabalhos de q não gosto, cortar atividades d q gostava, rodar um monte de informações e não consigo sair do lugar. Quero construir um futuro com f maiúsculo. Acontece q o tal f está f..., se é q vcs me entendem.

Tudo isso me embotou. E as máquinas, sempre exigindo mais e mais, como eu. Meu computador exige q eu lhe troque a memória RAM, caso contrário, ele trava. Adoraria poder dar tudo pra ele, uma sobrevida saudável de máquina fresca, espaço pra rodar e dançar pelas placas maravilha, sem ferfer os circuitos. O fato é q estamos os dois fritando os miólos para cumprir tarefas q nem nos dizem tanto assim.

Qdo penso no futuro f de hj, ele não se parece em nada com o meu mundo d astronauta gravidade zero, d Artur C Clark e Phillip K Dick. Tá um Futuro F Click.

Espero conseguir sair desse tremendo bode hitech em q me desencontro, me divertir e não ficar presa às nossas programações sem graça das pessoas com "futuro brilhante".

Quero dançar com minhas juntas engraxadas, e porque não, desligar de vez em qdo.

In Gods and Godesses we trust

Você sabe que a vida inteligente está ameaçada num planeta, não exatamente quando os imbecis tomam conta, mas quando os inteligentes passam a virar rinocerontes de Ionesco, isto é, deixam-se contaminar pela burrice grassante. A humanidade realmente padece de uma ingenuidade sem fronteiras. Será que as diminutas cabeças pensantes que ainda habitam esta esfera não percebem o que se passa?
Os Estados Unidos, como já cansei de lembrar, fizeram da Segunda Guerra Mundial, o primeiro workshop de sua maior indústria: a armamentista. Tanto que a gerra já havia terminado, e eles largaram uma bomba em Hiroshima e outra em Nagazaki, pra demonstrar a eficácia do produto, que, graças ao Exército Vermelho, que ganhou a guerra, efetivamente, e invadiu a Alemanha, antes dos aliados, não pôde ser testado na Europa. Porque é assim que os norte-americanos funcionam. Pra acabar com uma guerra, eles inventam outra. Pra acabar com o holocausto, os americanos teriam aniquilado todos, os algozes e as vítimas. Desde a terceira grande guerra, portanto, a América se tornou uma grande potência, através de duas indústrias: a bélica e a cinematográfica. Ambas são as únicas indústrias daquele país. Americano não sabe produzir nada, a não ser filmes e armas. Aliás, melhor seria dizer, a indústria do entertainment. Eles aprenderam com os nazistas a propaganda. Importaram para seu país, de irlandeses obtusos, bem diferentes de Oscar Wilde e James Joyce, o que de melhor havia na Europa do ponto de vista cultural, e formaram um timaço de diretores de cinema, atores, músicos...todos refugiados de um continente ameaçado. De Strawinski a Billy Wilder, passando por Garbo e Dietrich, os americanos apostaram nos gênios da época e convocaram judeus cansados de vender sapatos, como o genial David O. Selznik, para administrar o business. De um lado, propagavam-se as maravilhas do American Way of Life, de outro, vendiam-se bombas atômicas, com a justificativa de que estas iriam assegurar estas maravilhas ao mundo. E, desde então, os EUA dependem desses dois pólos industriais para não entrar em recessão. O que acontece agora é que outra recessão monstruosa se avizinha. Na de 1929, eles partiram pra Segunda Guerra, como recurso. Ali, os lords da indústria bélica sacaram que teriam que deixar a guerra se prolongar por alguns anos. "Casablanca" é de 1942, por exemplo. E a Guerra é o pano de fundo. De um lado, a propaganda constrói uma aura de heroísmo aos aliados. De outro, a segunda e a maior indústria americana vende armas. E, no meio, morrem seis milhões de judeus, 15 milhões de russos, num total de 60 milhões de vidas, caracterizando o maior massacre vivido pelo homem em toda a sua história.

Agora, vai ter guerra a dar com o pau neste planeta. Alguém falou em Terceira Guerra Mundial? Acertou na mosca, com uma arma dessas que serão vendidas. No filme, "Fog of war", Robert McNamara conta como ele, um matemático com PHD, foi contratado para otimizar os lucros da Guerra do Vietnam, por Kennedy. Mesmo perdendo formalmente a guerra, os EUA saíram riquíssimos dela. E é o dinheiro que conta. In God we trust. Diz a cédula do país, que, a bem da verdade, deveria dizer: in Trust we are God. Porque, desde que os Trusts lucrem, o que são alguns milhões de vidas? Deus está do lado dos ricos. Deus os faz ricos, porque eles são merecedores. Deus são as corporações, o capital, o lucro... O resto é um bando de reles mortais. Nós! Então, vai ter guerra na América Latina. O mundo livre está ameaçado por Evo Morales e as farcs. Vai ter guerra no Tibete. Os monges estão ameaçados pela China e os bravos americanos vão salvar suas carecas. Vai ter guerra no mundo todo, em nome da liberdade e da venda cavalar de armas. Nada disto me impressiona. O que me impressiona é ver esta campanha pela salvação do Tibet, quando quem está ameaçada é uma espécie inteira. O Dalai Lama é a garota propaganda. O Tibet é o cenário. O produto: mísseis missionários. O lucro, de Wall Street.

Não partilho de nenhuma dessas religiões. Na nossa família, a minha e da Mary, somos politeístas gregos. Observem que os planetas do Sistema Solar, bem como constelações diversas, galáxias e que-tais, têm nomes de deuses gregos e titãs etc. E nós somos regidos por eles. Somos uma partícula deste imenso universo, nas mãos desses astros. E eu não vejo realmente a hora de Zeus e sua turma mandarem uns raios pra iluminar as cabeças pensantes mortais, antes que elas rolem de vez e deixem o mundo à mercê de idiotas. Enquanto isto não acontece, sento-me frente a este instrumento, Vulcano, que sou, sem ser Doutor Spock, mas o deus manco, do aço, no meu caso, titânio, filho de Hera e Zeus, nesta já-Era, pensando, ao lado de minha filha, uma sentada no bidé, outra na privada, bem helênicas, por que Prometeu ensinou o fogo a esses babacas?! Eles agora o usam uns contra os outros. Aquecem o mundo. E destroem a possibilidade que lhes foi ofertada por aquela primeira centelha, que lhe custou o fígado.

Os verdadeiros santos, como Cristo, Ghandi, Lennon, que experimetaram os pecados humanos, foram todos punidos, não por Zeus, mas pelos mortais. Porque queriam ensinar, não o fogo, mas o calor do amor universal. Esses que se proclamam salvadores da humanidade, em nome do mundo livre, não são sequer titãs, mas títeres consentidos nas mãos do demônio da ignorância.

Sai dessa lama, Dalai

Num programa de rádio que eu fiz com Pedro Montagna, ex baixista autista da banda Mathildas, e atual proprietário e responsável pela compra de CDs e DVDs, da Livraria da Travessa, nós elegemos o Dalai Lama o dono do maior ego do mundo e a pin up do Tibet. Eu me lembro, nos anos 60, na Feiticeira, quando a Endora desaparece, e Samantha descobre que ela estava no Tibet tomando chá com o Dalai Lama. Ora, esse monge é produto dos mass media. Ele só vai querer voltar pro Tibet, quando aquilo lá, com o aquecimento global e suas enchentes, se transformar num resort, num balneário, pra eles e seus asseclas ascetas encherem a burra de dinheiro. E toda essa propaganda pra salvar o Tibet da China é cagaço, porque os americanos, muito piores que os chineses, no que concerne a invasão de território, não estão suportando o fato de que seu país e todo o Ocidente vão perder o trono para o império chinés. Ás custas de uma mão de obra barata, os asiáticos vão levar a melhor. Você telefona prum banco na América e atende um indiano, em Kashimir. O Dalai Lama é ocidental. Socialite que toma chá com estrelas de Hollywood, assina best sellers e está muito rico. Assim como a Madre Teresa de Calcutá, que desviava todas as verbas de suas campanhas e missões beneficentes pro bolsinho do seu hábito de cânhamo. Incrível como ainda tem gente que acredita nestes falsos profetas, que usam o nome de Deus pra vender um paraíso que só existe pra eles, que o compram às custas de seus leitores e investidores. Não acredito na santidade do Dali Lama nem na de nenhum outro ser humano. Santa tem sido é a minha paciência, ora esgotada com tantos emails, apelando pelo Tibet. Dêem uma olhadinha debaixo da sua janela, pra ver a Calcutá que está o Rio de Janeiro. Hordas de miseráveis passeando entre dondocas de cabelos tingidos e saltos imponentes. Ninguém tá nem aí pra isso. Mas, oh, pobres tibetanos, à beira de perder seus templos e sua longevidade de 200 anos. Enquanto aqui tá todo mundo se matando de trabalhar, escravizado por esse sistema de merda, os monges só querem saber de rezar o dia inteiro e ainda reclamar. Não acho justo um país invadir outro. Mas a Ásia vive nisso. O Japão já fez miséria ali. Mas ninguém nunca falou nada. Mas a China é o terceiro poder. E os europeus e americanos estão apavorados. Com razão. Os chineses vão mesmo fazer picadinho da gente e vender nas churrascarias. Eles não fazem isto com os cães? Então, não precisam fazer campanha pra salvar o Tibet. Comecem já uma campanha pra salvar nosso pescoço, que também está a prêmio. Particulamente, tou cagando pro Tibet e pra tudo mais. Eu tenho cara de chinesa e manipulo um hashi como ninguém. Bom, a minha não é atravessada, mas vai ter muito cirurgião plástico pra dar jeito nisto. Esqueçam o Dalai Lama. Venham pra Mahatmathilda. Eu prometo uma salvação bem melhor do que a dele. A arte da felicidade não tem arte alguma. A arte é feita da mesma substância com que são feitas as guerras. A arte brota do conflito. Como disse Tennesse Williams, a felicidade é uma profunda falta de sensibilidade. O Tibet tá cheio de gente anestesiada por mantras. Isto não felicidade. Isto é alienação. Quem curtia muito essas filosofias orientalistas era um sujeito chamado Adolf Hitler. Se lembram? A suástica veio do hinduísmo pra matar milhões de judeus, russos, ciganos...Com ou sem Tibet, o ocidente se ferrou. Mas só Mahatmathilda salva. Mahamathilda é luz! E a conta desta energia vai ser alta, mas vocês podem pagar em suaves prestações. Ao menos, este holofote, este spotlight não estará virado para meu sari, mas para as vestimentas de cada um de vós, que se saberão, doutra feita, nus, no paraíso perdido de um planteta devastado. Amém! Sara Vah! Ademan que eu vou tibetar de ultraleve.

sábado, 22 de março de 2008

Come chocolates, pequena...

Ontem, passei muitas horas na companhia de minha cyber filha. Mas foram horas reais, ao vivo. Não gosto muito de blogs confessionais, que parecem diários sem cadeado. Mas senti vontade de falar, num tom algo confessional, talvez, característico da antiga crônica, ou do que eu costumo chamar de minhas crônicas anacrônicas, sobre este grande prazer que é conviver com Mary Fê. Eu sempre achei que ter filho era a maior egotrip da face da Terra. Nunca me considerei tão maravilhosa a ponto de desejar me reproduzir. E creio que, por mais que o DNA determine, ou a formação erigida no convívio, a filiação é da ordem do mistério, como aliás já mencionei em texto anterior. O reconhecimento da cara metade é algo inefável. Assim, muitas vezes nos enganamos, ao nos depararmos com o que poderia ser uma soul mate. Passamos a vida, como em Platão, à cata desta metade que nos foi tirada na origem. Mas o caso do reconhecimento de uma filha é outro. E ele, não raro, costuma falhar nas famílias. Canso de ver mães e filhos mergulhados nas dores da decepção. Porque filho é um projeto. E esta construção nem sempre se firma, segundo o desenho que imaginamos. Assim, a mágica sucede a realidade, quando topamos com alguém que, a despeito de todas as diferenças, guarda uma identidade tão irrefutável com o que somos, que só podemos nomeá-la filha.
Ontem, fomos a janela olhar uma procissão patética. Meia dúzia de gatos pingados. Os duros que não puderam deixar o Rio no feriado a carregar o corpo de Cristo pelas ruas da Gávea. Para mim, a Páscoa não signifa mais que um coelho de olhos vermelhos e pêlo branquinho e ovos de chocolate. Este sentido religioso me escapa, porque não tenho, nem nunca tive, nenhuma formação desta ordem. Sou simpática ao judaísmo e celebrei o Purim, com amigos judeus, e o rabino Nilton Bonder, que se vestiu de um personagem que criei pra ele, especialmente para comemorar o equivalente ao seu carnaval: Rebe Camargo. Ele teve a ousadia de comandar um serviço religioso, com uma peruca loura e um tailleur. Fizemos, ainda, com Soraya Ravenle, um texto meu e de minha amiga Joice Niskier, "A rabina rebelde", edição iídishe de "The sound of music". E eu pensei como a liturgia judaica é muito mais alegre que a cristã. Acho que o rabino Joshua Ben Josef, vulgo Jesus Cristo, não iria aprovar este chororô católico.
Por falar em judeu, hoje fui ver "I´m not there", filme sobre a obra de Bob Dylan. Simplesmente amei. Comentarei com mais pormenores em outro texto. Porque este é pra dizer que tive uma Páscoa ótima, que se iniciou no primeiro dia do ano astrológico, no Purim. Estendeu-se na sexta-feira santa, na companhia da Mary. Em seguida, Dylan e sua cabeça alucinada. Lancei há anos um CD de canções minhas em inglês, cantadas pela Katrina Geenen, uma americana genial, e produzido por meu parceiro Paulo Baiano. Fui comparada pela crítica de Nova Orleans a Bob Dylan. Female Bob Dylan me chamaram. Também me chamaram de Joni Mitchel e de Derridá, rsrs. Mas sabe que, guardando as devidas proporções, eu me acho parecida com Bob Dylan. Ele era um judeu que se fazia passar por um vagabundo de origem irlandesa. E eu sou uma vagabunda de origem indígena que se faz passar por judia.
Mary Fê, graças a Deus, herdou minha habilidade com as palavras e minha imaginação, mas não é louca e kamikaze como sua mothern. É uma mulher do século XXI. Pé no chão e cabeça no arco-íris. E esta é uma das razões que me fazem crer que ela irá dar forma ao nosso delírio congênito. E, quando ela tiver a minha idade, vai estar anos-luz à minha frente agora. Ela ainda não tem esta visão. Mas eu, que já estou no middle of the road, vejo claramente. A geração de Dylan inventou o sonho. A minha questionou o sonho. E a geração da Mary, esta vai realizar o sonho. Como disse John Lennon: o sonho não acabou. Ele ainda nem começou. A Era de Aquarius iniciou-se com as piores características do signo: individualismo, necessidade de projeção pública, leviandade. Mas agora o lado bom se nos afigura. A vanguarda, a revolução, a transformação, o novo, o futuro...Nós que nascemons na era de Aquarius somos todos aquarianos. Tanto para bem, quanto para mal. Os mais afoitos se adaptaram de cara à pior parte. Mas os desconfiados, como eu, engendraram sua insurreição à sombra. E agora empunham suas lanternas, para que os jovens pisem o caminho da harmonia, da compreensão, da confiança, da solidariedade, na certeza de que esta é a única escolha possível, para todas as crenças, credos, doutrinas, ciências, artes... Cheguei a duvidar, por instantes, na confiabilidade desta trilha. Mas, ao ver Mary Fê, Marie Feau, surgir na porta do meu apartamento, com sua mochila nas costas, e seu jeito aerodinâmico de se locomover, entendi que ela já estava pronta pra pegar a estrada e levar nos bolsos alguns bocados de uma alucinação que custou muito caro a nossas cabeças, que veio de muitas outras eras, até nós, através dos séculos. Para que alguém como ela guardasse e usasse toda vez que a força centrífuga da Terra e a força centrípeda do Universo estivessem ameaçadas pela realidade. "Come chocolates, pequena. Quem me dera comer chocolates com a mesma verdade com que comes." Se desaparecer mesmo a língua com que foram escritos estes versos, por favor, invente outra, e recrie a história...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Bobi Math, Bibo Mary

Cyber mãe e cyber filha se desencontram no tráfego carioca, mas conseguem se reencontrar no banheiro.

Sim. Eu voltava da fisioterapia, onde fui ajustar meus parafusos de mulher biônica, andróide andrógina, replicante implicante, quando entrei num táxi, com muita dificuldade, posto que as engrenagens desta máquina que inspirou Phillip K. Dick e congêneres mal consegue efetuar as quatro operações: andar, sentar-se, curvar-se, levantar-se. Então, levei mais ou menos uns 10 minutos pra conseguir entrar na viatura. Quando, já ofegante, pronunciei, resfolegando, o destino, o boçal disse que sentia muito, mas não levava. Com a maior placidez do mundo, conquistada graças ao esforço colossal com que, Frida Khalo pisado, me locomovo, respondi: só saio deste carro numa delegacia. Se o senhor não me levar, casso sua carteira de motorista. Com cara de quem iria puxar uma arma, o machão enfiou o rabinho entre as pernas, e dirigiu, todo solícito, quarteirão por quarteirão, dizendo que não podia falar, ao celular, porque estava num engarrafamento com uma passageira, mas que, tudo certo, era sua obrigação... Ter minha dignidade restituída, por mim mesma, por alguns minutos, arrefeceu as dores físicas de que padeço, a ponto de poder voltar a este veículo, bem mais seguro e confortável, para um colóquio lavatorial com minha única herdeira que, por sua vez, ficou detida no trânsito, em virtude de uma procissão de Semana Santa. Na hora do rush?! Isso só pode ser parada do Tinhoso! Em suma, não conseguimos nos cruzar neste inferno desta cidade. Mas Mary me avisou que havia postado novo texto e vim conferir.
Ao descobrir, assim, ao acaso, que ela é telespectadora do Big Brother, confesso que senti palpitações. Pensei em telefonar para minha psi, ou mesmo para um padre, me confessando e perguntando: "onde foi que eu errei?!" Mas, de repente, me dei conta de que minha reação se parecia com a de minha mãe, quando descobriu que eu gostava de ver filmes trash, como "A aranha", "A mulher de 15 metros", ou programas de auditório, menos Chacrinha, que sempre foi cult, mas programas como o Bolinha, de São Paulo, "Bambas e barbadas" e similares. Não, eu não quero reproduzir minha família de intelectuais xiitas, que não permitia que eu ligasse a TV, depois das 10, para assistir ao Sheik de Agadir, telenovela de Gloria Magadan, com Ioná Magalhães e Henrique Martins, passada na Legião Estrangeira, no deserto de saara das dunas de Cabo Frio.

Pois é. A gente nunca acredita que o trash de hoje será o cult de amanhã. Quando eu penso que joguei meus ray bans aviator todos fora, por achar que tinham se tornado bregas, e paguei uma fortuna para reaver um par, numa feirinha de antigüidades... Ainda bem que não sou dessas que se desapegam e tenho em meu poder, neste apartamento, o século vinte ilustrado, de cabo a rabo, em milhares de objetos-fetiche, além de roupas de todas as décadas, coleções e mais coleções de quinquilharias, que deixariam Andy Warhol humilhado. Quando entraram na townhouse de três anadares do artista, depois de morto, tinha tantos objetos, que contam que ele havia ficado confinado num de seus muitos quartos, porque era impossível transitar pela casa. Só de relógio de Mickey havia uns trezentos! Andy era uma espécie de Imelda Marcos do pop. E eu sou uma espécie de Warhol das Filipinas (?) E ainda que eu divida este WC limpinho com Mary Fê, clean jamais serei. Porque, pra mim, é coisa de hospital. E eis meu problema com o BBB. Aquilo me parece uma internação. Só que, ao contrário dos personagens de "O alienista", de Machado, por exemplo, ou mesmo os de "Um estranho no ninho", de Milos Forman, ou ainda de "Esse mundo é dos loucos", de um inglês de quem não me lembro o nome, aqueles personagens me parecem todos insípidos. A Emdemol, empresa holandesa, foi, como todo endemoniado - olha ele aí, de novo!, de uma crueldade sem par, ao pegar a metáfora de George Orwell, e a transformar em realidade. Cruel, porque inteligente. A maioria das pessoas que assiste ao Big Brother desconhece o fato de que ele existiu, num romance de 1948, no qual ele vigiava, não apenas um grupo, mas o mundo inteiro, através de câmeras de TV, com as quais controlava as pessoas e comandava seus destinos. O Big Brother foi recriado no cinema, não apenas na adaptação de "1984", em que a trama se passa, ou na alegoria "Brazil", de Terry Gilliam, mas no maravilhoso Farenheit 451 que, por sua vez, se baseou no romance homônimo de Kurt Vonnegut, já calcado no de Orwell. Isto para não falar em "O dorminhoco", a paródia de Woody Allen. Entretanto, nenhum desses autores suspeitava que o Grande Irmão, vilão de toda a nossa espécie, iria reencarnar num programa de TV, mistura de panóptico e coliseu romano, onde os gladiadores malham, como os do Império Romano, mas quem é pichado e atirado aos leões, no final, é o público. Quer dizer, Andrew Nicol imaginou o Truman Show, admitamos.

O BBB também lembra "A noite dos desesperados", filme de Sidney Pollack, inspirado no romance "They shoot horses don´t day", que transcorre durante uma maratona de dança, na depressão econômica americana de 29, em que o casal que resistir mais tempo dançando, e isto significa semanas, com mortes pelo caminho, ganha uma bolada, suficiente para matar a fome durante alguns dias. Eis a diferença: a fome daqueles desesperados era de comida. A fome, deste atuais, é de fama. Morre-se de fama, como provou Lady Di(e), tanto quanto se morre de fome dela e de outras iguarias, ambrosias do olimpo nosso de cada dia. Dali, deuses decaídos, atiramos nossos pares aos leões. Até mesmo os de ray ban! Não há novidade alguma nesta matemática, panis et circencis. A diferença, entre o espetáculo de hoje e o de ontem, é que o seu inventor lia George Orwell, tanto quanto eu e outros antes e depois de mim leram. Porém, eu entendi que o Big Brother criado por ele era um perverso. Já o criador do BB o domesticou. O Big Brother da Emdemol é o Frankenstein de Mary Shelley. O monstro maior que o médico. O mito maior do que o autor. Varou quase um século, como os objetos que repousam em minha casa, apagou George Orwell, com sua crítica ferrenha à falta de identidade da massa, e instituiu um anti-herói, aparentemente, inócuo. E, talvez, de fato, seja. E, talvez por isto mesmo, ele seja mais terrível que o Grande Irmão. O Big Brother de agora é anódino, inofensivo. Eu não posso dizer para minha filha desligar a tv, porque ela não é idiota. Vê o BBB através da lãmina da mesma fina ironia com que enxerga o mundo sem futuro que deixo pra ela. E o pior de tudo é que ela ainda me brinda com a isca mais perversa de todas: a sedução do BBBrit. Esses ingleses sabem seduzir como ninguém. Não por acaso Mary Shelley e Frankenstein eram ingleses. Fui fisgada pelo monstro britânico. Vou correr, com minha perna remendada de Frankenstein tupiniquim, pro youtube, pra acompanhar os passos da traveca engraçadíssima no encalço de seu casado de pele de gorila. O perfeito nonsense que só esses malucos da Inglaterra conseguem criar, com aquele jeito suave. O Big Brother original também nasceu na Inglaterra. Mas ele não tinha esta voz cativante de Iris Letieri. Vou, então, pegar o próximo vôo pra Londres. Vou me candidatar. Vou dançar até morrer na depressão econômica de 2009!

E todos vocês irão dizer: "at last, she was saved. She loved the Big Brother."

i-pottie


achei isso hj...
já pensaram se lançam no mercado!

i-toaletezona!
chique!

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Mudando de assunto:

Num sou noveleira, mas assisto o Big Brother, o q é uma tremenda contradição.
Big Brother é apenas mais outra novela, nem pseudo-real nem pseudo-ficção.
Mas é um tipo de novela feita ao contrário! O q torna a coisa mais interessante para quem vê, e, acredito, para quem faz.

No BB, primeiro existem um cenário e x personagens. Depois surgem os roteiros, a partir do q for feito e dito - na base do bota todo mundo junto "pra ver no q q dá". Os roteiristas assistem, escrevem o capítulo, o diretor vai arredondando as metas e guiando os editores nas seqüências e climas musicais. Pelo menos, eu penso q seja assim. Achismo puro. Sou brasileira e no Brasil, sabe-se lá o porquê, pode estar no nosso DNA nacional (eu justifico qualquer coisa com DNA, notaram?), enfim: todo brasileiro é técnico de futebol em potencial, ou roteirista de novela.

Eu confesso q gostaria de ir, só pra blogar do banheiro de lá. Mas, morreria de vergonha de usar o banheiro para qulaquer outro fim, logo, jamais poderia participar.

No Reino Unido, já tem Big Brother com ex-celebridades - q viram novamente celebridades ao aparecer no programa! Uma meta-linguagem do tablóide moderno, olha q engraçado!

Noutro dia assisti umas cenas do BBUK 4, Big Brohet United Kingdom 4. Sabem quem participava: um cantor q agora é dragqueen, Pete Burns! Pra quem não se lembra, ele entoava o hit You Spin Me Round (nos anos 80) e o hit Come Home With Me Baby (nos anos 90 com a banda Dead or Alive). Passou bastante no início da MTV Brasil, nas rádios. Pete resolveu concorrer ao prêmio porque uma de suas cirurgias plásticas foi mal sucedida e ele gastou o q tinha e o q não tinha pra consertar o estrago.
Era um personagem de sucesso: na terra da rainha, as rainhas mandam.

Fiquei imaginando quando farão o mesmo no Brasil. Colocar o Dimmy Kieer (q foi super votado este ano no site do BBB), ou a Rogéria pra gente ver nesta nova novela das ^dez^.

Enqto as drags não vëm, assistam Pete Burns no Big Brother UK, em 2006. Neste trecho ele está indignado porque seu casaco de pele de gorila sumiu. Isso sim é drama! hahaha

segunda-feira, 17 de março de 2008

31 minutos de silêncio!

31 minutos era meu programa favorito de televisão. Achei-o assim, num dia como outro qualquer, mudando de canal e foi como se achasse água no deserto!

Não consegui parar de assistir aquele telejornal apresentado por fantoches e objetos q falavam, envolvida por uma série d notícias absurdas e q realmente interessam muito à criançada - e às pessoas sensíveis como EU e minha cybermothern mom, claro. Lembro-me de telefonar imediatamente para Mathilda para q ela assistisse o programa!

31 minutos nasceu no Chile. Aqui no Brasil, passava dublado para o Português na Nickelodeon. A Nick deixou de exibí-lo em 2007 e até agora, ficamos sem a terceira temporada por aqui. :(

Raras vezes um programa infantil se dedicou a ter tamanha visão da vida: de que a imaginação fértil transforma qualquer coisa no assunto mais importante do mundo. Tudo pode ser e vai além do q vemos. Uma meia furada pode ser um super-herói, uma luva de box um repórter esportivo. 31 minutos é herdeiro dos Muppets, sim senhor como no?, mas, com a falta de recursos e o molejo q é peculiar ao terceiro mundo - e a magia q a invenção emana (hermana!).

O programa continua no Chile, sucesso absoluto, graças à Zeus! Por aqui é q não o vemos mais... Resta-nos torcer, fazer um lutinho de 31 minutos e clamar pela volta dos queridos fantoches à tv brasileira.

Os clipes musicais do Top 10 do jornal ainda podem ser votados diariamente no site official. As canções e os clipes são o máximo!

Abaixo, assistam "Minha boneca me falou" - o favortito da MathMothern. A canção é magnífica, qualquer dia desses faremos um cover! A tradução e dublagem são perfeitas.



Diente Blanco non te Vaias - o meu favorito. No idioma original, entende-se tudo. É um charme! ....Amigo ...Diente


E sem tardar, uma notícia de extrema importância...

Dj no dedal

Ando sumida do blog, estou levando diversos puxões d orelha aqui neste bidê. Peço perdão aos assíduos visitantes virtuais. A sauna embaça tudo e às vezes fica difícil escrever com tanto vapor! Mothern consegue, porque, ao contrátio de mim, não usa óculos. Tenho 6 graus de miopia, não enxergo um rolo de papel a frente do nariz.

Assim sendo, perigando perder as orelhas q seguram minha linda armação cor de rosa míope, hj decidi não tomar banho e postar no toalete.

Começo com este pequenino post.
Um mini DJ. Deve ser pra caber nos i-pods!
DJ Lejo!

domingo, 16 de março de 2008

Queridos leitores, obrigada pelos comentários.

O Ricky, depois de um longo pedido de desculpas, por me pintar como uma Lady Chatterley tardia, agora, insinua que eu seja uma Pinoxota, isto é, uma ditadora sexual. Então, quero deixar público e púbico, que minha vida sexual foi e é tão excitante quanto a da Madre Teresa de Calcutá. Como disse Marlene Dietrich: "não sei nada sobre sexo. Fui casada a minha vida inteira."

Todos os comentários aqui são de muita inteligência e ficamos muito felizes de encontrar esta interlocução.

Continuem comentando. É um prazer, superior ao sexual, lê-los!

Mathmom

sábado, 15 de março de 2008

Alexander Supertramp versus O Homem do Gelo

Ontem, eu fui ver "Into the wild", o filme de Sean Penn inspirado em livro homônimo, sobre um garoto rico que abandona a segurança burguesa para se jogar na estrada, rumo ao Alaska, e termina morto por envenenamento de ervas colhidas no desespero de uma fome selvagem, que o venceu, depois de semanas perdido no mato. Leitor dos maravilhosos Thorreau e de Jack London, ele queria, de fato, ser um homem de Rousseau. Mas este beau sauvage, edição norte-americana, esqueceu-se de ler um conto de London, intitulado "To light a fire." Jack London London reverenciava a natureza, mas não deixava de assinalar a pequenez humana diante de sua grandiosidade. A vulnerabilidade da espécie, frente a cenografia panteísta. Em "To light a fire", por exemplo, os personagens passam a narrativa inteira, desesperados, tentando acender o fogo, e acabam por morrer de frio. Alexander Supertramp padece da ingenuidade intrínseca de seu gênero: o americano. E, aos 23 anos, não acredita na sociedade, nem em Papai Noel, mas está convencido de que pode se embranhar na selva, sem GPS, depois de ter atravessado a vida entre os confortos industriais oferecidos pela sociedade mecanizada que ele rejeita.
Considero Sean Penn excelente diretor, mas o filme é uma bobagem. Minha amiga, Dulce Quental, o classificou como o Easy Rider dos anos dois mil. E concordo com ela. É um Easy Rider sem ideologia. Uma ode ao individualismo, mascarado de paixão pela liberdade, que tanto pode jogar um menino numa tremenda roubada, quanto lançar toda a humanidade ao caos e à barbárie. Porém, o pior é o excesso de turismo ecológico que a película exibe. É caiaque no Grand Canyon. É subida de morro, é acampamento no deserto, é rapel... Eu, que já fui eliminada há anos pela seleção natural das espécies, tenho verdadeiro horror a essas aventuras, e acho que, se Deus quisesse que vivêssemos deste jeito, não teria colocado tantos restaurantes na Big Apple, a única maçã que me tenta no paraíso urbano. Olhava, quando morava no Brooklyn, o skyline de NY, e para mim aquele era o Éden. Tanto quanto olho o crepúsculo na poluição de São Paulo e me sinto diante de uma obra divina. Sou movida a monóxido de carbono. Não tem jeito. Entretanto, sou amante da natureza. Gosto de admirar passarinho, horas, fazer meu exercício nefelibata diário, olhar a chuva batendo sobre as árvores. Mas tenho a consciência de minhas limitações de mulher do século XX(I) e não ouso desafiar os desínios do Criador, atirando-me a aventuras arriscadas. Por essas e por outras, o filme, que tem momentos pungentes e belíssimos, não me toca, a não ser pelos minutos finais. Draminha de família americana, Mom and Dad, também me entedia. Mas, em respeito ao ex de Madonna, eu fui conferir o rolo.
Ao chegar em casa, mergulhei em minha leitura favorita, Scientific American, e abri direto numa página sobre o Homem do Gelo. Achei uma coincidência incrível, porque o cadáver de 5300 anos, o mais bem preservado da história, foi encontrado exatamente no mesmo ano em que o corpo de Christian foi achado, no Alaska. Nas infinitas pesquisas, descobriu-se que Otzi, que também já foi chamado de Hibernatus, se alimentava de raízes e estava exemplarmente bem equipado para enfrentar o frio. Eu me lembro muito bem da matéria, na época, porque até escrevi uma letra de música em inglês, que se não me engano, vou conferir, se chamava Famous Mumy. Eu dizia na letra que toda esta busca insana pela celebridade, a fama contemporânea, tudo isto era inútil, porque, em milhares de anos, um simples pastor de ovelhas, pelo simples fato de ser uma múmia, seria celebrado e entraria pra História. O fato é que este pastor primitivo tinha muito mais recursos para lidar com a natureza, do que o norte-amaricano, com college degree. E ele não morreu, como seu sucessor, de inanição, mas atingido por uma flecha, numa disputa. Li fascinada a saga de Otzi e acho que sua vida daria um filme muito mais interessante do que o proporcionado pela de Alexander Supertramp. Ele, sim, era o Beau Sauvage legítimo. Ou o que mais se aproxima deste ideal. E, mesmo assim, enfrentou as geleiras com vestimentas muito bem elaboradas pra enfrentar a baixa temperatura e um conhecimento sobre plantas, que não constava do livrinho do rapaz. Christian virou cinza. E Otzi é mantido em criogenia. Quem sabe um dia este modesto camponês não ressuscite através da clonagem?! E o burguês americano, então, como tudo o que cultura de massa vem produzindo ultimamente, estará esquecido. Ninguém vai se lembrar de sua transcendência. De seu desejo de ser santo. Contudo, através de Otzi, talvez a gente se lembre de como éramos mais integrados a esta natureza que tanto depredamos. Um bando de pássaros atravessou minha visão da janela. Todo dia, em horas certas, eles se organizam neste mesmo precurso e fazem desenhos precisos no ar. E eu paro para observar. Assim como paro para observar minha espécie agonizante, em sua ignorância extrema, e me pergunto onde estará o meu bando. Este com quem ainda ambiciono alçar vôo e seguir ao alto, sem a onipotência juvenil de Christian. Mas a sabedoria de cinco mil e trezentos anos de Otzi e daqueles que, como eu, ainda acreditam em vôos coletivos.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Coro Come-Come

Soube que o Coro Come vai voltar. Minha cyber filha nem era nascida, quando eles se uniram, em torno do Dida, um tenor extraordinário, para entoar sucessos de Hanna-Barbera. Eram os anos 80 e, a exemplo dos 60 e dos 70, quanto mais porra-louca melhor. Só que a porraloucura daquela década era mais chique. Mais cosmopolitan. As pessoas já tinham mais acesso ao que se produzia em Londres, Berlim e NY. E deixavam o bicho-grilo no mato, pra construir uma identidade urbana, at last. Eu sou dos anos 80, mas, na época, eu achava uma merda. Sempre curti mesmo os anos 20. Anos do modernismo. Porém, eu montei uma banda, como quase todo mundo, então, que acabou assinando contrato com gravadora, e fazendo um certo sucesso cult, no eixo Rio-São Paulo. A Mathildas, que primeiro se chamou Mathilda Kóvak e os Lexotans. Depois, Mathilda´s Infermary. E, por fim, por sugestão dos outros membros, Mathildas. Não era egotrip minha. Era alter trip do resto, que queria que eu assumisse toda a responsa por aquela loucura toda, quando, na verdade, as idéias malucas ali presentes eram geradas por todo mundo. Eu apenas as dirigia. Pedro Montagna era o baixista autista, personagem que ele levou pro Conga, a mulher gorila, desta feita,de turbante. Eduardo Pálbebras era o guitarrista adquirido numa liquidação da APAE. Patrícia Wuillaume a sex symbol eunuca, que destestava sexo e adorava símbolos. Ivan Zigg usava máscara de Groucho Marx e era o MC, formado em hipocondria na John Hopkins University. Luc Bernard era um mendigo das ruas de Paris que, por se assemelhar fisicamente com Nastassia Kinsky, virou baterista do grupo. César Lobo era o figurinista e Bobs Hope, um apresentador que usava smoking e bóbis na cabeça. Ele também fazia papel de índia equatoriana, nos intervalos. Reg Murray era a empresária e divulgadora e se vestia de replicante pra fechar os contratos. A crítica adorava a gente e nós temos pilhas de matérias nos principais jornais tanto do RJ, quanto de SP. O que nos diferenciava das outras bandas engraçadinhas, entretanto, era o som, que até hoje, quando ouço, acho bem diferente de tudo e muito consistente, do ponto de vista musical. As letras também eram muito boas e ousadas. Mary Fê diz que esta seria uma banda pra agora. Sempre tive fama de estar adiante do tempo. Mas sempre, na verdade, fui passadista. E acho que o Mathildas, bem como outros projetos em que estive envolvida, não só se incorporava à pós-modernidade, como podia se encaixar na frase que Marlene Dietrich profere, em A Marca da Maldade, de Orson Welles, quando lhe perguntam que novidade era aquela (uma pianola). Ela responde: "it´s so old that it is new."
O que eu gosto mesmo é de viajar no tempo, tanto pra frente, quanto pra trás, e costumo dizer que o presente só existe para contar o passado ao futuro. Entretanto, Mary Fê é responsável, como já disse antes, por eu me antenar com o que acontece no planeta hoje. Não porque ela viva atrelada ao agora. Ao contrário, ela é muito culta e conhece coisas tanto do arco da velha, quanto do arco de Titã, o satélite de Júpiter.
Por falar nisto, não posso de todo recusar o título de avant garde, porque tenho andado muito pela Grécia Antiga, ultimamente, e estou convencida de que, se o Império Romano, não tivesse pasteurizado aquela cultura, nós viveríamos num planeta bem mais civilizado e inteligente. Isto para não falar no politeísmo grego. Este que também foi assimilado pelos romanos. Não é que somos mesmo regidos pelos deuses! São esses planetinhas que têm nomes de mitos greco-romanos que nos comandam. E, agora, até água nos canais de Marte, subterrâneos, é claro, descobriram. Com o global warming e a seca que se avizinha, podem ter certeza de que os graúdos já estão de malas prontas pra migrar pra lá. Se houver um marciano como David Bowie me esperando, eu vou na cola. Mas viver na companhia de bactérias não está nos meus planos. Agora, dizem que são elas as responsáveis pela produção do gás metano. E que, se continuarem a expelir tais gases, em alguns anos, Marte será o paraíso que a Terra, graças aos predatas que somos, deixou de ser. Marcianos, acautelai-vos! A corja vai invadir sua praia. Os farofeiros do espaço sideral: nós! Sim, porque os autores de sci fi erraram feio, ao pensar que seriam os E.T.s que nos invadiriam. Nós é que vamos ser os monstros de ficção científica que povoaram a imaginação de H.G.Wells e demais escritores do gênero.
Mas este prólogo prolixo foi para chegar a uma espécie de marciano de pelúcia, em homenagem também à minha cyber filha, que toca uma guitarra de pelúcia, tem um CD de pelúcia e me considera sua mãe de pelúcia também: o Cookie Monter, de Vila Sézamo.
No Mathildas, nós o citávamos e reputávamos a ele a criação do movimento punk. E, ao saber que o Coro Come, ia voltar, dei a sugestão que em vez de Come apenas, ele viesse, nesta edição two thousand, sob a alcunha de Coro Come-Come, que é o nome do monstrinho aqui. Parece que a idéia agradou. Pode ser pós-moderna também, mas ao menos é de uma pós-modernidade mais visceral. Confiram, pois, no clipe abaixo, o charme deste tipo raro, enquanto o coro não vem:

quinta-feira, 13 de março de 2008

My favorite movie

Acho que foi em 1964/65 que eu vi o musical "Música Divina Música". Ainda não era o meu sonhado "The sound of music", do qual eu já sabia de cor as letras, em inglês. Era uma versão brasileira, com Carlos Alberto, galã que fazia par com Yoná Magalhães, nas incipientes e então inofensivas novelas, Djenane Machado, filha de Carlos Machado, Norma Suely e um pequeno grande elenco, do qual fazia parte Paulo Tomaz Lopes, filho de Rosita, que me deu, há alguns anos, o roteiro da peça, com a assinatura de todos os atores. Um presentaço pra mim, que os vi, criança, na companhia de Marcelo, filho de Carlos Alberto, que morreu num acidente estúpido de automóvel, há tempos. Quem assina a versão em português das canções é ninguém menos que Billy Blanco, em parceria com Marise Murray. Na capa, tem um símbolo do quarto centenário da Guanabara, rabiscado a esferográfica vermelha pelos meninos. Naquela época, os filmes chegavam ao Brasil com ao menos dois anos de atraso. E eu já estava apaixonada por este que se tornou o filme da minha vida. Eu morava em Niterói, quando ele estreou no Palácio, na Cinelândia. Atravessei de barca, algumas vezes, para enfrentar fila de caracol e a decepção de ouvir a bilheteira anunciar que a lotação estava esgotada. Voltei derramando minhas lágrimas pela Baía, com rosto na janela, infeliz, algumas semanas seguidas. Até que um dia: a glória! Aleluia, Maria Von Trapp! Era a minha vez de ver "A noviça rebelde" e cantar, num inglês meio macarrônico de criança, as músicas que ouvi centenas de vezes. Vi três sessões seguidas do musical, que tinha quatro horas de duração. Ou seja, passei o dia todo no cinema, com minha mãe, a mãe da Ilana, a Ilana, Edna e outro Marcelo. Meus amigos de infância judeus, como Rogers&Hammerstein II, autores do libreto. Foi ali que eu tive certeza de que queria fazer música e cinema. Queria ser autora de musicais. Porque eu acreditei piamente que a música era capaz de vencer o nazismo. E que, toda vez em que eu cantasse "My favorite things", todo o mal que consome o homem desapareceria e só haveria sobre o planeta alegria e canções.
Acho oportuno trazer de volta "The sound of music", neste momento em que o mundo parece atestar que os perdedores da Segunda Guerra saíram, de fato, ganhando. Nunca se viveu num mundo de ideologia tão nazistóide. O genocídio não é de apenas um povo. É da humanidade inteira. A humanidade no homem. Todas as mulheres agora são louras, como queria Adolf Hitler. Os americanos, que tiveram na segunda guerra, seu primeiro show room de armas, continuam lucrando com a indústria iniciada ali, às custas de 60 milhões de vidas. E os intelectuais judeus, como Susan Sontag, morrem dia a dia, de desgosto. Isto para não levar em conta que a nossa espécie nunca esteve tão bela e anatomicamente correta, mas também nunca esteve tão burra! Mais nazi, impossível!
Mas a menina em mim que se recusa a morrer ainda acredita na Música, Divina, Música. E no seu poder de nos salvar das garras da brutalidade.
Muita gente viu "The sound of music". Mas poucos viram a peça, com atores quase todos morenos. Um edição morena de "The sound of music." Foi tão inesquecível quanto o filme. E talvez mais precioso, porque o único registro que ficou foi o de nossa memória pueril.
Não sei como será esta "A noviça rebelde." Nunca gostei do título em português, porque eu já era metidíssima, aos cinco anos. Então, me parece que já sai fazendo concessões à burrice. E, a julgar pelo casal que vi nos jornais, deve ser mesmo noviça rebelde. Embora existam atores que eu conheça, que fazem parte do elenco, muito bons. Claro que estou mordida, porque não sou eu que vou fazer o papel de Maria Von Trapp. Acho que todas as mulheres da minha geração se sentem assim também. Até mesmo K.D. Lang.
No mais, é impossível imaginar outra Maria, que não seja Julie Andrews que, depois de dublar Audrey Hepburn, em "My fair Lady", e Deborah Kerr, em "The king and I", pôde finalmente sair de trás das cortinas, no melhor estilo singing in the rain, e se exibir por inteiro, como a melhor cantora de musical de todos os tempos do cinema. Sempre muito inglesa, mesmo depois de se estabelecer na América, e casar com Blake Edwards, Julie Andrews é tímida ao falar de Maria Von Trapp, e de sua outra grande Maria, Mary Poppins. Mas não há ninguém que tenha cantado no cinema como ela. Talvez ela devesse voltar, encarnada em Maria Von Trapp, na terceira idade, indignada com o mundo. E nos ensinar, outra vez, que, ao pensar em nossas favorite things, não haverá nazista que nos roube a humanidade. Mas, ainda que ela não o faça, teremos sempre o consolo de sua imagem e de sua voz, cercada de crianças lindas, de bochechas cor de rosa, entre as quais, Angela Cartwright, ídolo nosso também, via "Perdidos no Espaço". Assim eram o sixties. Stones, de um lado. Julie Andrews, de outro. Esses ingleses maravilhosos e suas máquinas musicais voadoras...E, nós, crianças do mundo, entre ambos, de olhos arregalados e ouvidos atentos para o som da música, que é a manifestação divina do humano em toda a humanidade.

quarta-feira, 12 de março de 2008

O 171 do 1808

Mas o que é que há para comemorar na transferência da corte de Dom João VI para o Rio de Janeiro?! Já não basta o que a gente passa nesta cidade, desde então?! O Rio vive mergulhado na nostalgia da corte. Às vezes, este saudosismo migra da corte para a capital, que se mudou para o planalto central. Eu não sei como seria o RJ se tivesse sido poupado de ser corte, mas, por ter sido, vive a ilusão de que ainda o é. Incrível como os cariocas se julgam superiores aos cidadãos do resto do Brasil. Claro que me refiro ao carioca da gema, o carioca que freqüenta praia, sobretudo o da Zona Sul. Minha querida filha é carioca e não tem esse cabeça (cari)oca. Tenho alguns amigos aqui que também são mais cosmopolitas. Mas o espírito da cidade é este: o da corte. Então, o que é ser corte? É não fazer nada pela cidade, porque aristocrata não trabalha. Julga-se ungido pelos deuses, legítimo representante do Altíssimo na Terra. Então, para quê se mexer, enquanto sua cidade cai aos pedaços?! Haverá um momento em que um deus ex machina entrará em cena e resolverá tudo!

Aqui, tudo funciona movido a megalomania. A corte está sempre desembarcando e, com ela, um carnaval monumental, jogos panamericanos panteístas, o melhor futebol do mundo...E toda esta existência superlativa é propagada pelas networks, sediadas na corte, para o resto do país, para que ele saiba que é o melhor do mundo, tanto quanto o Rio é a cidade maravilhosa, a mais linda... Só que estas hipérboles encontram na realidade outros recordes quebrados: o maior índice de morte por assassinato numa cidade que não está em guerra declarada; o maior índice de analfabetismo em cidade grande; a maior incidência de dengue no mundo...etc etc.
Mas os cariocas continuam a acreditar que moram na corte de Dom João VI, que maqueou a cidade, para se instalar nela, do mesmo modo que o prefeito César, o czar da cafonice, o faz para receber os gringos que aqui aportam nos megaeventos produzidos por ele com os tributos cobrados ao povo. E este aplaude, nos estertores de sua saúde mal atendida, de sua qualidade de vida sem nenhuma qualidade.

O Rio obedece a estrutura da corte portuguesa, desde o século XIX. De um lado, temos os cortesãos, com seus privilégios, enaltecendo as maravilhas da cidade. Do outro, os fodidos, que fingem acreditar nelas, para não desagradar a corte. A corte adora o povo. E o povo adora a corte. Samba e carnaval são coisas típicas de socialite. É o momento em que a corte saúda o povo, comunica sua cumplicidade com ele, mas sempre distante, do camarote. As networks, por sua vez, fazem o papel do arauto, da matraca, que divulga, para o resto da colônia imperial penal, os acontecimentos culturais urdidos na corte, todos bem ao gosto popular. A corrupção, o jeitinho, as armações, "filho bastardo? ah, faz um banco do Brasil pra ele!", continuam representados tanto na administração pública quanto no narcotráfico, protegido por ela.

E é claro que toda corte tem seus loucos. Profetas das ruas. Mendigos que se proclamam nobres. Aos montes. Cada vez mais.

A miséria é santa. E a corte é pobre.

E alguns, como eu, fazem o papel de imprensa analítica, camuflados em suas casas e casamatas, atirando seus projéteis de alvo certeiro e mira aguçada. Aparentemente inócuas, as palvras são donas de estranha potência. Nossas palavras não são balas perdidas que derrubam os inocentes nas ruas. Nossas palavras são tiros da desobediência civil, que vai mandar a corte pra puta que pariu!

terça-feira, 11 de março de 2008

Shokkk cultural

ANTES de mais nada, mothern, preciso de um irmãozinho! Ser filha única é um peso tremendo, tudo eu, tudo eu!
:)

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Estava comentando com um colega hj durante o cafezinho pós-almoço, q li reportagem de Maria Bethânia contando como em certa ocasião, ao entrar para cantar durante um festival em Cuba, causou tremendo impacto. Entrava logo depois de um grupo de dança q bailara equilibrando bacias dágua. Como sempre canta descalça, a Abelha Rainha levou um tremendo choque ao pisar numa pocinha dágua q lá ficara de lembrança da apresentação anterior. Entrou e se estatelou, mas continuou cantando! Ninguém percebeu o motivo, mas, mais tarde, vários comentavam sua entrada digamos... chocante!

Bom, isso me fez lembrar de um já famoso vídeo do youtube, preciso dividir com vcs do toalete. Lasier Martins é repórter e cobria a festa da Uva, quando... AIII AAAI

domingo, 9 de março de 2008

Domingo com Mãe&Filha

Como sou uma mulher geneticamente antiga, que sempre detestou a vida contemporânea não importava a época em que ela se passasse, não sei se estou fazendo certo neste blog, ou se estou mesmo me comportando como a imbecyber que sempre fui. Não acho minha cyber sábia filha, pra ela me explicar direitinho esta ciência. Mas, enquanto não me dão um corretivo, eu vou fazer o que me dá na telha. Gosto de ler os comentários e os comentar. Então, hoje, dei uma passadinha aqui pra ver a repercussão deste encontro Mãe e Filha, e gostaria de esclarecer ao leitor, Ricky, que escreve muito bem e que me conhece melhor ainda, mas nunca em sentido bíblico, uma vez que ele sabe bem que sou muito transparente em meus desejos e que foi, diante dele, em Paquetá, que pedi a mão de sua esposa, em casamento. Ela recusou. O Ricky disse que finalmente Mary Fê me levou a democratizar o acesso ao meu cérebro, já que ao sexo já estava bem democratizado e outras barbaridades. Isso é coisa que se fale pra uma filha minha?! Eu sou uma mulher tradicional e de ilibada re-puta-ção. (acho que me atrapelhei na hifinização...) Assim, ela vai pensar o quê?! Que é filha de chocadeira?! Então, antes que ela leia, se é que já não leu, porque sumiu há dias, eu quero que ela saiba, primeiro, que se trata de uma calúnia vil. Segundo, que ela nasceu do amor desta mulher aqui pelos irmãos Marx. O.K., teve Jerry Lewis, Lucille Ball, Woody Allen, Dorothy Parker, Fran Lebowitz e alguns outros no meio. Mas eu os amei com igual intensidade. E todos são responsáveis por sua paternidade. Então, filha, você não é filha de uma mulher desonrada, que tentam difamar. Você é minha filha com todos esses palhaços a quem você puxou na inteligência, embora deva a esta sua genitora a aparência irresistível.

Tenho recebido muitos elogios ao blog, via email. Todos muito inteligentes e egressos de renomados intelectuais. Então, ainda que eu e Mary Fê venhamos a ser alvo de difamadores, façam como o Ricky, excelente escritor, rabisquem suas opiniões, ainda que elas não sejam as mais encomiosas. Pichem, porque a vaia consagra o artista. E aplaudam, porque o aplauso também estimula. Não se acanhem. Estamos aqui pra dizer e para ouvir. E responder, quando for o caso, mas sempre com muito sense of humor, porque esta é a marca registrada de nossa família.

Família lambra mãe, mãe lembra filha, e ontem eu li uma matéria, a propos, sobre os descendentes de escritores que lutam por seus direitos de herdeiros. Pus-me a pensar que, entre criadores, a genética funciona de uma forma subjetiva, quase imponderável. Os herdeiros biológicos de um escritor nem sempre são seus herdeiros legítimos. Aliás, não são. Concordo em que eles devam receber todos os royalties de seus pais, avós, antepassados...Mas um autor vive num planeta paralelo: o da imaginação. E, nele, a procriação é exercida de maneira muito diferente da que conhecemos. Eis por quê Mary Fê é minha filha com aquela gente toda. Assim como sou filha de Clarice Lispector com Chacrinha, segundo li outro dia alguém comentar. Assim, a árvore genealógica do artista vai desenvolvendo suas ramificações. Artista hereditário é algo inexistente. O DNArte é uma descoberta ainda em pesquisa. Mas já dá pro notar que filho biológico de artista, em geral, é uma toupeira. Existem exceções, claro. Vamos ver...ahn...ahn...sim, Maria Fernanda é ótima atriz e filha de Cecília Meireles. Mas ela não se meteu a poeta. E também não há dúvidas de que Guto e Moacy Franco são farinha do mesmo saco. Joan e Melissa Rivers, idem. Mas ainda não inventaram filiação biológica mais adequada do que a de Judy Garland e Liza Minelli. Liza foi tão talentosa quanto a mãe. Entretanto, seu medo de acabar igual a antecessora era tão grande que a empurrou para um destino semelhante, antes que ela pudesse provar ao mundo seu talento descomunal, mais que atestado em dois filmes "Cabaret" e "New York New York". Com apenas 20 anos, dirigida exemplarmente pelo gênio de Bob Fosse, Liza deixou e deixa a todos de queixo caído, com sua extraordinária atuação, sua voz divina e sua interpretação delirante. Em "NY NY", ela não faz por menos, sob a batuta de Scorcese. Talvez Liza tenha também incorrido no erro de fazer papéis mais próximos de sua época, do ponto de vista cronológico. Mas sua época era a de sua mãe, do glamour, da fantasia, da golden age de Hollywood, que matava as atrizes de estafa, enchia-as de anfetamina, para emagrecer, mas arrancava, na base do chicote, performances imortais. E o que é uma vida mortal diante da eternidade?! Liza morreu em vida. O que prova que esta é uma alternativa ainda mais triste. Por medo de morrer, morreu. Ao contrário de sua mãe, que flagrou o pai, gay, com sombra lilás nos olhos, e se atirou no álcool e nas pílulas, optando por perecer fora das telas, mas viver para sempre nelas. Então, neste domingo, em que procuro minha filha perdida e não acho, deixo vocês com dois clipes: um de Liza cantando "Copacabana", de Barry Manillow, com os Muppets, escolhido por Mary Fê, e outro de Judy, cantando "Smoke gets in your eyes", de um jeito inaudito e esfumaçado. Ei-las. De Mãe e Filha, Mãe e Filha, com DNArtístico testado e aprovado.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Mamãe Noel, Playmate da Páscoa

Antes de iniciar meu texto-manifesto sobre o dia internacional da mulher, eu preciso recomendar, efusivamente, que vocês leiam, algumas linhas abaixo, o da Mary. Não é por ser minha filha, mas essa moça ainda vai me garantir uma velhice muito confortável, com direito ao melhor vagão do Orient Express. Ali, ela expõe pontos de vista, que nenhum comentarista político ousou aventar. Vocês vão ver as eleições americanas sob as lentes de uma mulher incomum, que defende sua tese original, com erudição despretensiosa e muito sabor.

É impossível não comentar, na efeméride presente, o embate Hillary versus Obama. Monteiro Lobato, segundo me contou a atriz e diretora, Joice Niskier, escreveu um único romance adulto, que versava sobre a disputa das eleições americanas, no futuro, entre um negro e uma mulher. E, de fato, a contenda é entre a mulher e o negro. McCain é só perfumaria. Os republicanos estão fora do páreo. Mas pode ser veado, pode ser negro, pode ser muçulmano, pode ser até travesti, mas mulher não pode. Esta é a eleição mais importante, nos Estados Unidos, em muitos anos. Muito mais do que a que disputaram Bush e Gore. Bush e Karry. Pela primeira vez na história, uma mulher pode disputar o lugar de presidente de um país super poderoso.

Mesmo que os filósofos considerem o feminismo a única grande narrativa do século XX, a mulher continua, como lembrou Mary Fê, a ser o negro do mundo, previsto por Jonh Lennon e Mussum, que era neguinha. A cultura negra é muito machista. Tanto quanto a asiática. O mulherio sofre na mão desses cabras macho. E, de tanto apanhar, canta: "I love my man." Mais ou menos como as brasileiras. O Brasil é tão machista quanto países da África, da Ásia, e eu costumo dizer que aqui a mulher só não usa véu porque inventaram o fio dental.

Foi justamente nos EUA, que as mulheres se organizaram e exigiram direitos iguais, há mais de um século. Nos anos 60, a feminista judia norte-americana, Gloria Steinem, aproveitou-se de seus atributos físicos e se imiscuiu entre as playmates, a fim de fazer uma matéria sobre a exploração das coelhinhas pela e pelo Playboy, Hugh Heffner. Foi um escândalo. Ele a ameaçou de morte. A imprensa gostava de cercar Steinem, em entrevistas coletivas, para lhe descer o cacete. Mas ela cruzava aquele par de pernas fenomenais que, somado a seu discurso coerente, firme e insólito, fazia com que o cacete ficasse duro, mas não saísse da cueca. Gloria era uma glória. Mais simplória, a dona-de-casa, Betty Fridan, foi duramente atacada pela imprensa tupiniquim, que ignorava Steinem, que era linda, e a colocava em evidência, porque, menos radical que a colega, Fridan não era bela.

Passadas algumas décadas, avalia-se que o feminismo possa ter trazido mais deveres que direitos às mulheres sobretudo de países como este nosso. Para o homem brasileiro, foi sopa no mel. Não precisa mais sustentar a família, não raro, é sustentado pela mulher e nem por isto vai lavar louça. Mas, enfim, os homens podem ser o que for. Tou me lixando. Afinal, estou na manicure internet. O problema são as brasileiras. Eu fui casada 25 anos com um homem que me sustentava, cozinhava, dirigia, incentivava minha carreira e fazia todas as minhas vontades. Um dia, ele se cansou, jogou o avental no chão e disse: - Vou me embora! Você nunca elogiou minhas panquecas. Eu sofri horrores, principalmente na hora de trocar a primeira lâmpada. Mas não me arrependo dos estatutos feministas que formulei especialmente para o Brasil, que aqui tentarei resumir.

Já foi até tema de escola de samba, uma tribo africana, pasme!, onde as mulheres comandavam os homens, que trabalhavam para elas o dia inteiro, enquanto as chefas só tinham por obrigação se enfeitar. Vi uma palestra, na Universidade de Colúmbia, de uma antropóloga que demonstrou com documentos muito fidedignos que esta foi considerada, durante toda a história, a sociedade mais equilibrada e feliz, tanto para homens, quanto para mulheres. Como temos uma geografia antropológica semelhante a dos países africanos, eu acho que este seria o modelo ideal de sociedade pra gente. As mulheres se ocupariam de se enfeitar e pensar. Os homens, de agir. Testosterona serve, afinal, pra quê? Só pra jogar futebol? Tenho a mais profunda convicção de que, adotado este modelo, nossos índices de pobreza, analfabetismo, doença, mortalidade infantil, distribuição de renda injusta, violência...esses recordes que batemos nas olimpíadas do terceiro mundo, iriam ser controlados, erradicados, banidos.

Homem, convenhamos, desses mais comuns, o eterno masculino, em geral, é enfadonho. As mulheres são muito mais divertidas. Pois eu vejo amigas minhas pararem para ouvir o discurso de seu macho, que nunca consegue falar, se tiver alguém falando simultanemaente, e pedir silêncio, no século XXI, não é na Idade Média, para ouvir o fulano narrar como consertou o pneu do carro, como quem ouve o filho contar que desenhou um coelhinho, ou coelhinha, na escola. Então, o que temos, entre os mortais autóctones é: de um lado, as nossas gueixas sem queixas; do outro, os senhores feudais e sua gleba, na qual, elas plantam, colhem, cozinham, levam à mesa e pagam a conta.

Mas o mais irritante é receber emails e similares, parabenizando-nos por este único dia. A exemplo do Natal e do Ano Novo, em que pessoas que brigaram e se sacanearam o ano inteiro ficam imbuídas de um espírito cristão, que nunca tiveram, e saem a distribuir votos de felicidade. Então, nós, mulheres brasileiras, somos uma espécie de coelhas da Páscoa, playmates, ou Mamães Noéis, e temos que ficar muito agradecidas de saber o quanto somos importantes apenas neste dia, o quanto somos seres pensantes, ou belos, vivos, mesmo. E não babás de marmanjos. Então, não me mandem flores. Não me parabenizem. Eu tenho vergonha deste dia. Vergonha de o atravessar no Brasil. Vergonha dos homens e mulheres brasileiros, que não saíram das ocas, ou, se saíram, foi pra evoluir pra algo pior.

Lembro-me de que, há alguns anos, uma TV me entrevistou para falar do dia internacional da mulher. A campanha era a de que as mulheres dirigiam melhor que os homens. Perguntaram o que achava. Respondi: eu acho que mulher não deve dirigir. Deve ter motorista fardado.

Quanto às eleições norte-americanas, eu acho que o Obama Bin Laden deveria era virar motorista da Hillary. Não porque ele seja negro, que eu também sou neguinha. Mas porque ele é homem. E ela, uma dama. Será possível que ninguém aprendeu nada com a Rainha Elizabeth I, que fez da Inglaterra o país mais rico do mundo, durante 500 anos, e poupou o Reino Unido das misérias da inquisição, além de instituir o período elisabetano, com seu renascentismo agnóstico?!

Sim, as mulheres são excelentes rainhas. Bess I e Cleópatra, antes dela. E, se eu fosse a Hillary, eu iria acabar com a democracia e instituir a monarquia. E coroar toda mulher americana, judia, negra, latina, brasileira, chinesa...porque nós somos todas rainhas.

So Goddess save the queens in all the world! Today and forever.

Queen Math, mothern of Queen Mary

AMO este radinho

AMO os comentários sobre o texto do orkútis. Agora, entendi: o add é de soma. Quanto mais amigos somados, mais conta ponto, vírgula, travessão... Vou agora mesmo arranjar mais amigos, porque eu tenho acho que uns trinta, no máximo. É bem verdade que não pedi a ninguém pra me...somar?! Mandavam-me uns convites e eu clicava em sim, pra não ser mal educada. Mas olha que me arrependi de ter outorgado o título de amigo a algumas pessoas que não param de me enviar junk mail, quer dizer, spam. Que gente mais folgada!
No mais, o meu conceito de amizade é um pouco diferente do previsto ali. Eu sou do tempo em que programa era algo que se fazia, de preferência, no fim de semana, do tipo cinema, jantar fora...E também da época em que amigo era alguém que a gente conhecia face to face e não interface to interface. Alguém com quem a gente conversava, desabafava, que freqüentava a casa, que fazia, enfim, os tais programas que não eram Flash, mas dance.

Eu não acho, contudo, que o conceito de amizade tenha sido deturpado pelo orkútis. Acho que é um reflexo, apenas. Eu vi um filme russo, há alguns anos, em que o personagem dizia que, depois do fim da URSS, a amizade havia acabado na Rússia. Hoje, penso que, com a queda do muro de Berlim e o conseqüente expansionismo neoliberal, a amizade acabou no mundo inteiro. Noto as pessoas muito desconfiadas, sem tolerância para aqueles que, outrora, seriam chamados de amigos. Hoje, uma velha amiga, a quem muito cito neste blog, direta ou indiretamente, a Patricia, me escreveu um email, de LA, dizendo que pessoas que nos olham para além de nossos erros são os verdadeiros amigos. Esta minha amiga, desde adolescente, me disse, quando a fui visitar na Califórnia, através de uma passagem mandada por ela, que, quando você gosta de um amigo, você gosta até do que não é de se gostar. O resumo disto é o perdão e a tolerância. Além do fato de as relações serem fugazes no agora, outras que se estabeleceram num outro momento parecem se vulnerabilizar ante a lista de prioridades prescrita pela sociedade contemporânea, que passa ao largo do simples gostar. Eu queria escrever algo sobre o dia internacional da mulher, mas, ao ler o inteligente comentário do Beto, senti desejo de falar, outra feita, do orkut, e repensar alguns conceitos vetustos, que uma anciã do século XX, que viu foguetes chegarem à lua, ainda mantém no acervo afetivo. Não se trata de passadismo, again. Trata-se de um pensar sem muito norte. Simultaneamente, se, de um lado, a amizade pode vir a se circunscrever a um pedido de somar, acrescentar, acumular, bem ao sabor do capital voraz. Ela, do mesmo modo, assume contornos diferentes e talvez mais completos do que se possa supor.
E o encontro se faz. E a tribo se restabelece. Fiz muitos e bons amigos através deste instrumento. Fiz, da mesma maneira, alguns ferozes inimigos. Mas, graças a alguns amigos, como esta minha cyber filha, eu finalmente encontrei o rádio com que eu sonhara, há quase trinta anos. Quando eu trabalhei em rádio, eu adorei a interatividade que se estabelecia entre radialista e ouvinte. E eis que agora temos o nosso radinho de galena de volta. Onde torno a me surpreender com a inteligência que se manifesta no discurso de uma voz telefônica, numa carta...que aqui se pronuncia num comentário. Nunca acreditei, como alguns colegas de mass media, na passividade do público. Tampouco em sua pobreza intelectual. Sempre suspeitei que meus pares me ouviam e era tão somente para eles, este segmento que não aparece, claro, em pesquisas, que eu falava. Adorava quando um ouvinte me corrigia. Ou quando eu recebia um cartão muito inspirado. Alguns desses ouvintes se tornaram meus amigos e são amigos até hoje. Então, sinto-me um pouco como naquele tempo, ao ler comentários, que me fazem pensar e tecer novos encadeamentos, costuras, enleios e enlevos. Aqui esta comunicação é ainda mais instigante. Porque é uma troca legítima e porque a escritura de um blog é sempre um work in progress. Uma obra inacabada. Uma arte que se faz na hora. E quem lê é, do mesmo modo, um blogueiro, um autor... Então é uma conversa simétrica, equânime. A aldeia global de MacLuhan efetivada. Mas de um modo nunca sonhado por ele. Em seu primoroso, "O meio é a mensagem", ele defendia que a era dos mass media seria o oposto da Renascença. Concordo inteiramente. Mas este meio, que julgo feioso, que me dói os olhos, que me enche de LER e não-ler, não é a mensagem. É meio mesmo. E o tiro vai sair pela culatra, para os mass killer media. A massificação acabou.

Continuem escrevendo, queridos ouvintes, querido leitor, querido autor, querido amigo oculto revelado na palavra, no Verbo, princípio do Caos, de onde nascerá, como queria o ora desgastado Nietzsche, uma fulgurante bailarina.

Obrigada, amiguis!

Bacci,
Mathilda Mussum Corleone, manicure, barbeira e nerdis lerdis

A muié é o nêgo do mundis!


a foto é um lembrancinha de Nosso Senhor do Bom Fist

Neste reveillon, conversando com recém conhecidos numa festa, eu disse q Obama venceria a eleição. Quase fui açoitada porque meus papeadores fuzilavam-me com a máxima "impossível, americano não vota em negro". Bom, eis uma afirmação do tempo do onça q já está sendo devorada pelos panteras negras.

Pensei, "ano novo, cabeças velhas". Nem discuti. Eu SEI q sou um gênio da paranóia e q minhas teorias fazem todo o sentido do mundo!!!! Vamos montar aqui agora um novo quebra-cabeças? Venham comigo. É só prestar atenção um pouquinho nas dicas q se seguem.

Já notaram q a indústria cultural americana está cada vez mais black power? Astros e estrelas de cinema, música, hip hop ou pop, clipes, reality shows, programas de auditório: só negão e negona. Tão aí a Oprah e o Timbaland q não me deixam passar por mentirosa. E o q isso significa? Q a grana agora é preta. E onde há bufunfa, há voto.

Vem se construindo uma imagem nova de América (até esse título eles pegaram pra eles, deixando pro resto d nós o termo Latinos) com enorme tendência a colorir-se. Pudera! Depois d um presidente *busha* branco azedo e bananão, quem pode simpatizar com o whitetrash? As agências de notícia passam adiante as manchetes, vejam q curioso, colocando Obama em destaque, sempre, mesmo qdo está atrás nas votações. Hillary estava na frente e o q se lia e ouvia era "Obama está alcançando", "Obama cada vez mais próximo da liderança". Peraí. Quem está na frente é a moça, então, porque destaque ao segundão?

O tom das notícias só pendeu pra Hillary novamente, quando Obama apareceu vestido de *não-protestante*. Aí, pros EEUU é demais, num pode né gente?
///EEUU é uma sigla extremamente autocentrada. Hmmm, makes sense.///

Será q mulher ainda causa mais medo q negro macho?

Reza a lenda das teorias da conspiração q a cada "n" mandatos, um presidente deles morre tragicamente. Algo tipo, fizeram um acordo com o demo e tem q pagar com sangue. Essas coisas sinistras q sociedades secretas gostam. E, olha q coincidência! O próximo eleito tem q entrar no saco. Será q assim, deixam o Obama ganhar? Sinistro, mano!

Bom, se eu acertar minhas previsões, aposentem a mãe Diná.

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Apêndice City:

Esse negócio de ser super-americanizado é um saco, eu sei. Mas, cresci assim, ouvindo Madonna, comendo Cheetos e vendo seriado. Mas na minha época, pelo menos as reprises ainda eram em idioma local. A minha Feiticeira não era Bewitched - nem vendia AB stretch do PoliShop - e eu não era obrigada a ouvir o locutor dizer "pssssaiic" qdo o q eu leio é psique. Todos os canais à cabo são anglófonos, os nomes dos programas de tv nem são mais traduzidos para o Português. Inclusive os canais e programas nacionais tem nomes no idioma saxão: MultiShow, GloboNEWS, e tome big-sister. Por aí vamos. A invasão já está completa.

Desde o Tropicalismo a gente deixou de ser caipira pra virar cowboy. Mas, cowgirl??? Ah, é vacalouquice.

Só sei q por aqui, as coisas eram mais interessantes quando o Lampião tinha uma Maria Bonita porreta.

O mundo anda muito constipaded...

Kisses, digo, bacci. (sou carcamana, mano)

No Dia Internacional da Mulher a gente podia ganhar uma viagem internacional.

Sing singing in the shower com Celso e Hillary


Para não nos chamarem de alienadas, aqui vão dois momentos políticos, que folgo em comentar. Um é a candidatura de Hilária Clinton. Outro, a louvável ação de Celso Amorim, que pôs um bando de espanhóis pra correr daqui. Até que enfim alguém dá o troco a esses europeus xenófobos, que vêm pra cá, usurpam nossas índias, comem nossos curumins, exploram nosso pau...Brasil, e ainda têm a cara de pau - Brasil - de nos barrar em aeroportos. Este Rei Juan Carlos merece tomar no cu. Desculpem a expressão chula. Mas isto é lá coisa que se faça? Ora! Aplausos para o Ministro. Eu sou fã dele, apesar daquele corte de cabelo que o faz se assemelhar a um porco-espinho. Muito bem! Bravos! Vivas! Para cada brasileiro barrado, que um europeu seja catapultado daqui, de volta àquele continentezinho, dono de muitos encantos, mas que os deve sobretudo a nós. Os ingleses, então, de quem descendo por parte de minha avó materna, Maria Isabel Watson, são os piores. Financiaram a revolução industrial com o ouro brasileiro. Então, agora, façam o favor de nos recompensar, abrindo as pernas e as portas de seus países, para aqueles - e olha que são intelecutais sem jaça e com muita graça - que quiserem usufruir de sua história antiga e de sua avant garde contemporânea, e ainda oferecer nossa inteligentsia a suas universidades, sejam bem recebidos e reverenciados. Ao contrário da estrangeirada de merda que migra pra cá, os brasileiros que ensinam na Europa, entre os quais, meu maravilhoso primo, professor da USP, Marcio Silva, merecem ser acolhidos com tapetes vermelhos, porque nossa realeza não é de títulos comprados, mas estudos granjeados durante décadas, com fineza e requinte, que nenhum nobre europeu logra ostentar.

Agora, Hillary: desde Zélia Cardoso de Mello, nunca mais confiei numa mulher que usa tailleur. Sobretudo, uma mulher que engoliu a porra do marido, que, por sua vez, foi parar no gogó de Monica Lewinsky. É muita frieza em nome do poder. Mas eu tenho cá um otimismo feminista que me faz desejar que ela seja presidente dos EUA e faça uma revolução sem precedentes na história. Que não reproduza Margaret Thatcher, nem Condoleeza Rice - já repararam como a Rice se parece fisicamente com a Zélia, até no dentinho separado?! Torço, pois, para que Hillary vença e convença o mundo de que o futuro é mulher. Dizem que é, como Eleonor Roosevelt, sapa. Tanto melhor. Só não arrange uma secretária cunilíngüe, pra fazer escândalo. Que mande Clinton inalar no mato e o irmão corrupto pra Sing Sing. E aproveite aquela cara que ela tem de Shirley Jones, née Família Dó-ré-mi, e faça do planeta o que os norte-americanos sabem fazer de melhor: um musical! Beijos!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Tratamento da Orkútis

No nosso programa de cultura de pele, vamos hidratar e tratar um pouco, antes de dormir, do tema orkútis. Orkútis é um site soçaite, isto é, pra fazer social, sem precisar cuidar da cútis, fazer pés e mãos, escovar as melenas e toda aquela sorte de cuidados que você tem que ter para se apresentar em público. Minha filha me confidenciou, esta semana, que não lê meus scraps, porque considera o orkutícula um negócio pra lá de adolescente e ela não é mais adolescente, embora eu, sua cyber mothern, tenha uma alma púbere. Isto porque eu passei uns quarenta anos na infância. Pela ordem natural das coisas, a adolescência é o passo seguinte.
A idéia de entrar no orkut veio de uma amiga que me contou que havia uma comunidade ali com meu nome. Mas que eu não teria acesso a ela, a menos que ingressasse no sítio. Então, entrei, e fiquei simplesmente horrorizada com o que vi: o flower power de volta, depois do flower powder. Isto é: com a velocidade do pó. Um tal de todo mundo se amar muito. "ADORO!" "AMO"...e eu fiquei a refletir cá com meus botões e teclas de onde vinha tanto amor?! Foi só pesquisar um pouco mais para perceber que tais declarações despudoradas de afeto não vinham senão dos contumazes anglicismos infelizes da internet - internet não parece nome de manicure?!" hoje vou fazer as unhas com a internet. Ela é uma pessoa muito especial. Amo." E a linguagem da internet, não raro, tem esse tom de esmalte, ou seja, de salão de beleza. Por isto, proponho aqui a mudança do nome orkut para orkútis, ou orkutícula... Como todo salão que se preze, o orkut é o lugar perfeito pra você bisbilhotar a vida alheia e fazer fofoca. Mas voltando às expressões inexpressivas acima: a explicação é óbvia. Elas vêm dos scraps anglo-saxônicos, que terminam em LOVE. Só que, como toda a tradução de quinta deste meio, adulterou-se-lhe a origem. O "love" que encerra cartas, bilhetes, emails e, claro, scraps, é AMOR. E não "amo." Vem de with love. Outra deturpação que faz qualquer criatura minimamente alfabetizada se chocar é o "adicionar." Mas o que é isto? Add, no caso, vem de Address, seus cabeças-de-bagre! No máximo, poderia ser traduzido como acrescentar. Adicionar é pra açúcar, sal, pó royal...esta receita de bolo cuja troca cabe bem num salão de beleza. Eu bisbilhoto o orkut com o mesmo interesse com que assisto à entrevista de Leila Lopes, uma de nossas certinhas. Para ver até onde a inspiração humana pode ir a ponto de se transformar numa jóia rara, como é o caso de nossa darling. Esta é maravilhosa. Uma pessoa especial, como todas do orkut, segundo os depoimentos ali expostos. Todo mundo é uma pessoa muito especial. Se todo mundo é muito especial, então, ninguém é especial, porque especial designa algo que se destaca do resto. Mas é injusto comparar Leila Lopes com a maioria especial de usuários do orkut. Porque ela é mesmo uma original. Nunca vi nada que se lhe assemelhe. E o seu sex appeal, como disse uma amiga, que mora em L.A., e que amou seu depoimento, ao vivo aqui, e não ao orkútis, é pra membros de toda e qualquer comunidade, dentro e fora - do orkut - levantar e aplaudir de pé, sem precisar de viagra. Leila diz que tudo o que quer na vida é ser boa. Se Aberlado Barbosa estivesse vivo iria anunciar:"minha filha, vai ser boa assim lá em casa!" Chego a desconfiar que LL faz um freela redigindo depoimentos de orkut. E eu mesma penso em encomendar um a ela, para "adicionar" ao meu orkut de pessoa muito especial. Sempre achei que internet era coisa de hippie. Mas não é verdade. Eu e minha filha não somos hippies e estamos aqui, n´est pas?! Então, é o orkut que é coisa de hippie. Refiro-me, claro, aos quarentões adolescentes. Porque os adolescentes mesmo curtem o que é pra curtir. Um diário sem cadeado! Eu iria adorar uma coisa dessas na minha adolescência. Arrombei tantos cadeados de diários de amigas minhas e tive uns outros tantos igualmente arrombados! Porém, o conteúdo era bem semelhante ao que se lê nos scraps. Só que a gente, hiper anglicinada, escrevia mesmo LOVE. No que concerne a línguas e pessoas, ainda prefiro as originais.
E agora, que meu sonífero começa a fazer efeito, eu deixo vocês, com um depoimento de orkut e orkútis:

Mathilda é uma pessoa Espacial. Se alguém souber do paradeiro de sua Nave, favor se comunicar com este blog, porque ela não vê a hora de voltar a seu planeta, onde deixou, há dois mil e oito anos, um homem assando no forno com uma maçã na boca, e está convencida de que ele está quase pronto. Obrigada!