sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Judith Bustos ou Yóka Ono?

Eis aqui a Yoko Ono da Amazônia. Como boa amazona, não precisa de nenhum Long John Lennon! Judith Bustos, do Peru, a tigresa do oriente, (verdadeiro zoológico ono-mástico) aparece aqui em dois momentos dignos de nota. NOTA DEZ!!!
Pela preservação da floresta púbica, num libelo gino-ecológico. Estamos com ela e não abrimos nossa biodiversidade pra nenhum inglês ver - ao contrário da japa que fisgou o seu através das artes plásticas. Bustos não tem silicone, tem peito do ciclo da borracha. Rainha dos seringueiros! Banquete dos borrachudos.


Chuá! Chuá!



Nada como um banho atrás do outro.

Sheila é cultura. Sheila faz bem pra pele. Este é o clipe do ano. Observem como ela é moderna. Usa cueca Calvin Klein. Sheila é gente! Mas também é água...

Assitam rápido, porque como todos sabem, as águas vão rolar!

Ponto G sempre falha na hora H


Há mais ou menos vinte anos, eu e uma parceira musical compusemos, num freqüentadíssimo e famoso sítio em Itaipava, uma canção que se iniciava com o verso acima. Isto porque nós, autoras outrossim do cult hit, celebrado no Colégio Freudiano, "Xô, orgasmo!", no qual proclamávamos: "o orgasmo é um tédio.", repudiamos com conhecimento de causa a tese sem nexo e sem sexo. Eram os eighties e eu, considerada formadora de opinião, prestava depoimentos aqui e ali, para a imprensa que me queria darling. Havia inteligência na mídia impressa e os mais bem-aquinhoados de massa cinzenta costumavam ser consultados, quando alguma notícia suspeita baixava às mesas dos editores. Assim foi que, quando indagada de minhas crenças religiosas, declarei: "acredito em tudo, menos no orgasmo vaginal." Pouco depois, veio a notícia de que o Ponto G, descoberto nos anos 50 por um médico alemão, desses que escaparam do julgamento de Nuremberg, havia sido redescoberto por um colega inglês. Daí em diante, filólogos do sexo saíram à cata desta letra escondida do alfabeto feminino, como verdadeiros Indiana Jones, em busca de uma arca e de um caso perdidos. A pesquisa de Gräfenberg, um homem que tem tremas no nome, mas jamais será Göethe, só pode ser mentirosa. Primeiro, porque as pesquisadas eram todas alemães. E todo mundo sabe que alemã nunca teve nem vai ter orgasmo. Se alemão gozasse, aquele país nunca teria sido palco da maior carnificina de toda a história da humanidade. Ou, por outra, se tem, ou tinha, era ante a visão do sofrimento humano. Portanto, mulher alemã, bem entendido, não goza. Nem com clitóris, nem com esta tal parte obscura da vagina. O que as pesquisadas tiveram provavelmente foi uma sensação semelhante a que todas as mulheres experimentam durante um exame de toque. Um susto! E aí pensaram, provavelmente induzidas pelo médico nazista, que era o decantado orgasmo vaginal. Nazismo é uma ideologia pertinente no caso. Porque o doutor em questão, não satisfeito em forjar a pesquisa, ainda concluiu que algumas mulheres são dotadas desta membrana, apêndice, ou aberração, que for, e portanto portadoras do ponto G, e outras não. Ou seja: entre as mulheres, existe eugenia. Umas são mais capazes de gozar. Outras, menos. Eu e minha parceira não engolimos este sapo. Unidíssimas, desde os treze anos de idade, afirmamos categoricamente que, não só nunca tivemos um orgasmo vaginal, como duvidávamos de sua existência. Imaginem a chatice. Os homens, crédulos por natureza, perseguiram as perseguidas, para ver qual delas era capaz de fornecer esta espécie de orgasmo, chamado adulto. Imaginavam eles que as mulheres iriam se contorcer como um rastejante, cheio de centros nervosos, e efetuar danças do acasalamento, dignas de um pássaro selvagem. Enfim, depois da ciência, da arte, da literatura, todas femininas, o bicho homem deu de inventar um dispositivo pra nos devolver à condição de répteis!

Quando eu já estava convencida de que esta onda neonazista havia passado, eis que ela volta, com toda a força, nestes tempos, claro, neonazistas, em que a mulher não é apenas o negro do mundo, como dizia Lennon, mas o judeu da humanidade. Em vez de pesquisar a cura da AIDS e do câncer, a ciência e a imprensa perdem tempo na pesquisa de uma estupidez, apenas para, mais uma vez, sacanear seres que pensam. E nós, mulheres, ainda pensamos. Não somos binárias, como o gênero oposto. Criamos subtextos. Lemos nas entrelinhas. E não vamos engolir nem o esperma nem a esparrela de nenhum nazista. Desta feita, os campos de extermínio ficarão vazios, porque nós vamos nos defender de toda e qualquer ideologia genocida, com nossa arma mais poderosa: a inteligência. Ter ponto G é como ter olhos azuis. Sinais de superioridade de uma "raça" sobre outra. Pior, de um gênero sobre o mesmo gênero.
Quem corrobora a pesquisa agora são os italianos, notórios misóginos, e, não por acaso, herdeiros do medíocre império romano, que usurpou e baniu do planeta a cultura grega. A mais rica que já nos visitou. Isto para não falar de Mussolini e outros parceiros fascistas dos nazis.
Como se não bastasse, foram, bem a exemplo de seus antecessores, procurar o ponto G em cadáveres. Isto é necrofilia, passatempo sexual favorito dos fasci-nazistas! Desde quando cadáver tem orgasmo, seja ele clitoriano ou vaginal?! Porém, com o curso que a história vem tomando, é possível que atinjamos o prazer pleno apenas depois de mortas. Como falou a judia Clarice Lispector: "talvez morrer é que seja o paraíso." Não dá mais pra suportar tanta burrice! É por isto que o obituário contemporâneo ostenta os nomes dos últimos gênios de nossa espécie. Estão morrendo de choque anafilático intelectual. Eu mesma já sinto palpitações perigosas, ante fenômenos tão desestimulantes. Mas o pior é dar voz a esta categoria que deveria ter sido mandada pro espaço, num foguete, pra não voltar nunca mais.
De uma vez por todas: o ponto G não existe! É invenção nazista. Que os homens advoguem sua existência, eu posso compreender. Mas as mulheres...Mulher misógina é como negro racista. Um paradoxo aterrador. E escrevo estas linhas apenas porque não quero que minha filha, com quem divido este banheiro, nosso esconderijo iluminista iluminado, cresça acreditando em mula sem cabeça e outros folclores. Ponto G, creacionismo...Darwin, help! Os imbecis estão tomando conta da Terra!
Que minha querida filha cresça, pois, acreditando na Fada Sininho, e não na foda sinistra, desta era retrógrada, em que nós, sílfides rebeldes, nos flagramos engaioladas pelos capitães-gancho, piratas da pica de pau, que nos impedem, homens e mulheres, de voar. Entretanto, as asas de nossa imaginação nunca serão podadas. E com elas alçaremos vôo para a terra do Nunca Existiu Orgasmo Vaginal, onde o gozo é humano, a libido, múltipla, e os seres não são superiores uns aos outros. Mas,apenas, diferentes.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Mãe, só tem uma!




Houve um tempo em q eu colecionava mães a torto e a direito, tinha uma para cada ocasião. Tornava as mulheres à minha volta minhas mães e elas me acolhiam como filha postiça. Não era um esforço consciente meu nem delas, era uma contingência emocional. Eu era a filha para quem quisesse adotar.

E eu escolhia mães, como quem adota cachorrinhos da vitrine. Tive uma mãe biológica, uma mãe na faculdade, uma mãe no teatro, uma mãe irmã, todas ao mesmo tempo. No quesito pais, parei na consanguinidade mesmo, já tenho 2 e tá ótimo.

Até que, feito Jeannie, um dia assisti o parto de minha mãe cósmica - não era a Baby Consuelo, nem a mãe Terra....

Mothern mother, vi a senhora se apresentar, num palco, lendo sua própria letra, mas sendo a única que sabia o q tinha ido fazer ali. Foi um lindo parto. E eu olhei pra vc na vitrine e falei: quero aquela ali! Podemos levar pra casa?

O conto de fada é bonito, e se olhar praquele dia na minha "mamória", foi quase assim. Nem precisei florear. Como toda carochice que se preze, o encontro tardou. Só fomos nos encontrar semanas depois, na festa bolsa nova q vc me convidou. Não lembro com que roupa fui. Lembro q levei meus pedais mágicos e q revelamos nossas músicas, elas tinham o mesmo DNArt. Vindo de algum lugar invisível q compartilhamos qdo mergulhamos nos jardins do pensamento.

Agora, o toalete e a zona nos lavam e lavram. Você atura meu bafo(n) e meu bode. Muito obrigada, por desobrigação de mãe.

Hoje, qdo vc me pergunta qtas conchas de sopa de couve tem no meu prato, eu respondo: Mãe, só tem uma!!!!

Bom dia, mom. O amor e o vapor nos unem.

Obrigada por deixar eu trazer minhas amigas pra brincar. Obrigada por deixar eu tocar guitarra de madrugada e obrigada por deixar eu não escovar os dentes todos os dias.



PS: Juno me emocionou, porque, todo mundo sabe que família a gente não escolhe: acontece!

Bjs, sua acontecida filha, de idade reprimida (oposto de avançada)!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cyber mother, sábia filha

Filha, com quem divido este boudoir, estes azulejos, este espelho...Não somos M.C. . Somos W.C. Estimulada por seu belo texto (algumas linhas abaixo), animei-me a ver "Juno", hoje. Ellen Page se parece com você. Já achei isto em "Hard candy" (Menina má.com). Como você, ela é um grande talento precoce. Pensei em como o filme discute as muitas formas de maternidade. Pensei em nós e nossa consangüinidade futurista. Pensei em nossas referências comuns. Nosso encontro. Aquilo que você falou sobre minha juventude ser a sua infância. E a interseção de nossos acervos afetivos ocorrer nos 80´s. Pensei no personagem dela que curte o que eu curtia. Pensei em como os yuppies vieram e se impuseram entre nós, com suas releituras sonic youth pasteurizadas, mas que estão valendo mais agora, na minha bolsa nova. Pensei em Diablo Cody, a roteirista, que poderia ter dividido uma mesa comigo no Cockrane e no Suburban Dreams, clubes de minha amiga Patricia Wuillaume. Pensei naquela época em que você se debruçava na janela para nos ver entrar no Crepúsculo de Cubatão, doida para se juntar aos darks de então. Pensei em como passou rápido. Em como a vida é curta. Em como não dá tempo e o tempo sobra. E quis lavrar isto no nosso encontro aqui. No nosso encontro no tempo que não tem tempo, nem hora, nem cronograma. Iggy Pop será sempre um moderno. E nós duas seremos sempre clássicas. Lembrei-me de seu cabelo pós-punk com reflexos cor de rosa e de minha franja curta, de um centímetro. Como disse o personagem do filme, no final, não nasci para ser comum. Nem você. Então, vou escovar meus dentes, antes de dormir, como fazem as pessoas comuns. Vou deitar e dormir, como faz a gente normal. Mas com a consciência de que sou diferente. E que, por ser diferente, como Juno, a deusa grega, nesta Já-Era, celebro no início o fim de tudo. E, no intervalo, converso com você no nosso banheiro. Sangue de meu suíngue. A mãe de Ellen Page, no filme, é substituída pela madrasta, que a ama mais que a mãe. A mãe do filho dela, por sua vez, é a moça que, mais que ela, podia e queria ser mãe. E, parafrasendo o pai, eu diria que mãe é quem aceita e ama a gente do jeito que a gente é. E filha também. A maternidade não é obra do projeto genoma. É produto da manufatura do afeto. A gente sempre espera que os pais nos aceitem e nos compreendam. E que os filhos nos perdoem. Mas este desejo não está inscrito no núcleo de uma célula. O DNAmor é dominante. E é ele que vai determinar as características comuns dos indivíduos incomuns. E assim duas Marias já fazem uma constelação. E o cosmos abençoa. Genes de gênio são sui generes... Bom dia!

"Não se assuste, pessoa!"


Neste endless revival, as gírias, maneirismos e jargões dos já limitados anos 70 voltaram, ou nunca deixaram de ser, posto que o que seria para enriquecer nosso extorquido tesouro vocabular, assoma como recurso salva-pátria de autóctones disléxicos. Não vamos perder tempo chorando as pétalas arrancadas da flor do Lácio. É que eu comentava com minha parceira, outro dia, ali na privada, algo que desejo tornar público: minha implicância com o uso impróprio do substantivo "pessoa". Nos seventies, esta mania pernóstica não chegou a colar, porque era coisa de hippie e quem se recusava, como eu, a sentar em almofadão indiano e regar samambaias choronas, não suportava bicho grilo. Na época, no entanto, a expressão era usada de uma forma diversa da que ora se verifica no cenário pseudo-alternativo-outsider-socialite- ou sociallete (socialite gillete). Os hipongos diziam assim: "qual é, pessoa?!" ou "Tudo bem, pessoa?!" Agora, é um pouco diferente. Pessoa é a pessoa para a qual a pessoa esteja falando pessoal e diretamente. Assim: "a pessoa veio ao Rio e nem me telefonou!" Aí, um incauto pode interrogar: "que pessoa?!" No caso, é você que está ouvindo, ou lendo, tal cretinice. Outro uso pode ser igualmente num comentário sobre a pessoa-você, do tipo: "a pessoa fala cada barbaridade." Comumente, proferido quando você diz uma banalidade qualquer, no idioma dos seres pensantes, e o interlocutor, uma pessoa sem cérebro, em geral, se choca. Mas a pessoa aqui não vai se ater a exemplos. Observo apenas que esta nomenclatura foi forjada no universo gay, que sempre nos forneceu interjeições preciosas, as quais reverencio. Porém, a pessoa que inventou esse papo de pessoa deve ser uma pessoa muito retrô. Porque já se foi o tempo em que, camuflada no armário, a pessoa gay dizia que estava saindo com uma "pessoa", sem definir o gênero, pra não dar pinta. Cheguei a comentar com minha companheira de blog e blague que parece que gay nunca é homem ou mulher. É pessoa. E cogitei da possibilidade de existir mesmo um terceiro sexo. Ao que, a senhora no bidé ao lado, aquiesceu, acrescentando que deve haver ainda um quarto, um quinto e um sexto. Seja como for, o terceiro é pessoa. Não é homem, nem mulher. Gostava mais quando era chamada coluna do meio, ou mesmo gillete, invertido, entendido, do babado...Pessoa é demodé. Os rumos que nossa amada língua pátria tem tomado são mesmo de lascar. "Pessoa", para mim, é o equivalente a "coisa", substantivo usado, na falta de outro. Quando jornalista, aprendi que nunca se usa "coisa" num bom texto. É preciso definir o objeto. "Essa coisa de..." é uma expressão muito inexpressiva. Mas eu acabei assimilando, de tanto ouvir, Zelig que sou. Estou, pois, a um passo de virar pessoa. De coisa a pessoa, deve haver alguma evolução darwinista. Já se falou muito também na terceira pessoa - olha ela aí, de novo! - ao se referir a si próprio: "ela não leva desaforo pra casa..." Ela, agora, é pessoa. Ele, idem. Ah, lembrei-me que, nos 70´s, também, ouve um movimento nos EUA, das feministas mais siderais, para que acabassem com os gêneros. Assim, não podia ser mais cowboy ou cowgirl. Tinha que ser cowpeo - de people - por exemplo. Foi o início do enfadonho politacally correct. Não pegou, do mesmo modo. Isto tudo faz parte de uma grande burrice que grassa pelo mundo hodierno e odioso, no qual, as mulheres lutam pelo direito de se tornar homens. Que coisa antiga, pessoa! Assim, poetisa tem que ser poeta. Actress, actor... Pessoalmente, acho um equívoco. Mas quem sou eu, senão uma pessoa do gênero feminino?! Uma espécie em extinção. Só me resta fazer ouvidos moucos, quando a terceira pessoa baixar no lugar da segunda. Ou simplesmente ser mais seletiva nas minhas andanças sociais. Porém, se eu continuar neste passo, vou acabar entrando para o sabadoyle do céu. O encontro na casa de Plínio Doyle, onde o português era castiço e a inteligência farta, que deve respirar agora no paraíso. Longe deste inferno de pessoas muito gente, que se comunicam com meia dúzia de vocábulos e chamam os loquazes de pessoa louca. Até compreendo: ouvir uma criatura falar uma língua, plena de palavras estranhas, deve dar a impressão de loucura. A pessoa não é normal. A pessoa pensa. A pessoa lê. A pessoa recusou capim na última festa. Bom, a pessoa agora vai ter que se despedir. Bye bye, crazy people, men and women and so on...

meus cabelos brancos


Queridos sobrinhos netos,
preparem seus óculos de vista cansada, para esta breve leitura dinâmica.

Meus cabelos brancos começaram a tomar conta da minha vida, como os gadgets eletrônicos com os que lido diariamente. Em proporção equivalente.
Levo meu Nintendo DS pro lavatório, e plim, outro cabelinho branco se aventura. Sim, a modernidade tem seu preço, você não sente o Tempo passar. Mas, que Ele vem, já foi! Sinto as rugas da livre expressão se rindo por dentro, a cada nova blogada, a cabeça acinzenta. Pode ser a própria massa cinzenta pedindo pra sair, como espaguete branco... Vai saber. As verrugas não tardam, já tô sabendo. Há como extraí-las, distraídas que são. Banho de cultura!

Mas, enquanto a idade da loba não vem, desabafo no bafo de outro banho quente, queridas crianças. Sou criança também, do tempo do onça, Juma Marruá.
O velhismo tem cura! Basta voltar às origens, uma horinha diária de banho culturete, para aniquilar as gorduras da tecnologia que nos empapuçam.

Fui ver "Juno" e remocei algns aninhos. Tanta adolescência, a gente acaba absorvendo. Sou muito absorvente.

Eu e minha mothern cyber mother vamos nos doar a vocês em pequenas pílulas. Tudo bem que minha dica foi meio óbvia, mas é melhor ir ver Juno enquanto está nos cinemas, porque se vc baixar pra ver no computador, não garanto que não lhe caiam pelancas - conexão ruim pode trazer até artrite.

Beijos babados, preciso de ar (pro)seco, então vou estar saindo do ar.
Câmbio!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Dançando no chuveiro ou... saudade não tem idade




French and Saunders são como nós: senhoras que não deixam a perereca cair.

Meu discurso no Oscar


Eu nunca consigo terminar o roteiro que irá me levar a receber o Oscar da categoria. Isto porque penso mais no vestido que vou usar na noite e no discurso, do que nos diálogos que irão me consagrar, finalmente, como roteirista internacional.
Ontem mesmo, eu só consegui escrever uma seqüência, para logo em seguida ceder à inconseqüencia e imaginar meu contumaz speech, que reescrevro a cada ano, desde 1972. Ele é mais ou menos assim:

Ladies and gentlemen, I won´t thank anybody except myself for this award... Se cheguei até aqui, não foi por obra de um deus ex machina, muito menos graças a meus colegas brasileiros. Se fosse pelo desejo deles, eu não receberia nem santo. Por falar nisto, eu comentei ontem com minha parceira de banheiro, que uma de nossas amigas, farta do mercado da música, resolveu seguir sua verdadeira vocação: ser mãe. De santo. Mas isto não vem ao caso...e não tentem desligar meu microfone, porque eu faço uma mandinga no terreiro dela pra cada um dos membros da Academia. Claro que devo, em parte, minha subida a este palco, à greve de roteiristas, que furei, porque, se eles reclamam do salário que recebem aqui, imagine eu, que não ganho nem um vigésimo e ainda levo cano. No Brasil, ninguém está feliz com minha premiação, porque alguns dos caloteiros que me contrataram, que eu não vou nem me dar ao trabalho de citar neste discurso, mas de que minha mãe-de-santo tem o nome e um chumaço de cabelo, inventaram que eu só fui capaz de granjear esta estatueta, graças ao fato de ter sido a única concorrente, uma vez que o resto está ali no tapete vermelho, fazendo piquete. Por essas e por outras, eu vou botar o oscar no saco e tomar umas e outras ali no backstage. Hemingway, Dorothy Parker e demais companheiros de profissão eram todos pinguços, como eu. Mas, que fique lavrado, eu sempre dou uma pro santo. Good night!

Livre


Duas mulheres enfezadas, condenadas à prisão de ventre, puxam a válvula da imaginação e despejam suas necessidades nos mares do cyberspace e cyberesgotam seus recursos anti-naturais, no primeiro show bathroom de toda a Histeria.


Em breve, num toalete perto de você.