sexta-feira, 25 de abril de 2008

Causando em Sampa e arredores

Pessoal, voltei pro Rio!
Mas, Mathilda acelerada e incansável, continua em sampa, virada em plena virada cultural.

A breve passagem por terras paulistas trouxe terremoto, sumiu com o padre noviço voador, deu disco voador em São José dos Campos e acabei de descobrir uma nova diva musical paulista a quem assisti numa tarde dessas do interior paulista. Só faltava essa: Marcia Goldschmidt em versão diva dance estaca. Bate estaca nela!

http://www.last.fm/music/Marcia+Goldschmidt

quinta-feira, 17 de abril de 2008

De Dalborga a Simonal, o mundo é trash e nós a-do-ra-mos!

Nosso banheiro acaba de ser brindado com a colaboração inestimável de nossa parceira, Patricia Wuillaume, diretamente de Los Angeles. Instigada pelo link que a Mary nos enviou do impagável Alborghetti, o popular Dalborga, que veicula seu "Cadeia Nacional", via esta máquina do tempo, que Julio Verne teria amado, se vivo. Dalborga continua dando porrada com seu cacetete infalível. Ele tinha o estilo do rádio, trash, de programas como "A cidade contra o crime" e "A patrulha da cidade", que trouxeram para o nosso vocabulário palavras como "meliante" e "indivíduo", para se referir - qual é mesmo o nome politicamente correto? - aos bandidos.
Patrícia revidou à altura com o vídeo abaixo: um clipe do maravilhoso de "Na onda do iê iê iê", com Wilson Simonal mandando a inefável "Mamãe passou açúcar ni mim." Precursor do samba-soul, Simona, como era também conhecido, foi catapultado para o ostracismo, pela esquerda festiva de então. A mesma que hoje se locupleta às nossas custas. Aproveito para lavrar aqui meu protesto. Gostaria de saber por que tenho que pagar indenização aos caras do Pasquim? Que censura eles sofreram, se na minha casa se comprava o Pasquim toda semana e eles ficaram todos famosos e ricos?! Ora, vai tomar no cu. Não dá pra dizer menos. Chega desse papo de vítima da ditadura. As vítimas da ditadura morreram na tortura. O resto foi pra swinging London passear, ou pra Paris, estudar. Que castigo horrível, né?! Também quero! Me exilem, por favor! Sempre, desde aquela época, implorei pelo degredo. Mas isto era privilégio dos radical chic. Nós, humildes representates da classe média, não gozamos de tal regalia. E o Simona dançou, com fama de dedo-duro. Uma mentira deslavada, lançada por essa mesma turma do Pasquim. Quem tinha que ter indenização era ele, que foi difamado a troco de nada. Fazia um dos melhores sons do Brasil. Ajudava a alinhar o Brasil com os países de verdade, como dizia Millôr. É por isto que a cultura nacional não sai da Idade da Pedra Lascada. A gente tem que aturar até hoje esses caipiras nouveau riche, que educaram seus filhinhos na Europa e ainda choram miséria. Porrada neles, Dalborga.
Mas vamos a este momento inesquecível de nossa cultura, antes da ditadura, cujo mal maior foi a instituição dessas vítimas oportunistas. Além de Simonal, temos ali Silvio César, galã cheio de aginomoto, num momento fossa iê iê iê, na boate enfumaçada, com aparência de tikki bar dos Trópicos. Clara Nunes em momento Elisete.
E os Trapalhões, Dedé Santana e Didi Aragão, os inventores do vídeoclipe nacional. O filme é imperdível. Não sei se a Patrícia se lembra, mas nós o vimos no hometheatre de César Lobo, há duas décadas. Tem José Augusto Branco, Wanderley Cardoso, Nestor de Montemar, Wilton Franco, bem antes de "O povo na TV", e, pasme, minha querida Mary, a nossa Leila Lopes, nos seus tenros vinte aninhos. Chacrinha também está presente, na película, emitindo uma de suas frases imemoriais, para uma chacrete boazuda, de formas violoncélicas e calipígia:"minha filha, vai ser boa assim lá em casa." Ei-lo, pois, o trecho exportado de L.A., via youtube (atentem para a presença do The Brezilian Bitles, no acompanhamento, como se dizia:

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Tou também com Silverman e não abro!

Esta minha filha é mesmo a cara do pai. Sim, Jerry Lewis, que ela homenageia abaixo. Foi com ele, sim. O problema é que nós dois somos tão trapalhões que tropeçamos na casa inteira, quebramos vasos da dinastia Kóvak e tivemos que fugir batidos, sem trocar telefones. Ficou esta lembrança de um romance clumsy. A filha palhaça de dois palhaços.
Recomendo a leitura dos comentários deste blog. Edgard Westwind continua nos enriquecendo com seu tesouro de informações preciosas. E Guilherme não é de Serpa, mas Scarpa. Perdão! Dislexia de uma imbecyber. Mas é que eu achei que ele tinha a fidalguia de uma Julieta de Serpa, em seus comentários igualmente oportunos e corteses. Porém, Scarpa lembra os escarpins do Chiquinho, e é, do mesmo modo, muito chique. Além do quê, tanto Westwind quanto Guilherme são produto de nossa Londres, nossa Mikonos, nossa Nictheroy sur mere. Mas parei aqui com o intuito de dizer exatamente o que Mary disse antes: eu também não consigo fazer mais nada, além de ver Sarah Silverman. Esta judia de New Hampshire, que, como eu, toma antidepressivos, tem o humor mais corrosivo da cultura norte-americana contemporânea. Sarah demole o politacally correct e não deixa pedra sobre pedra desta censura vernacular disfarçada. Fala mal de todas as minorias, inclusive da que ela pertence. Já foi até caricaturada com bigodinho de Hitler, mas ela é apenas uma iconoclasta, que vive num país em que o humor desapareceu, em virtude, virtude! bah!, da patrulha do politicamente correto. Sarah ataca tudo isto, depois que Howard Stern fez uma cirurgia plástica e virou um fascista sem graça. Sarah encarna apenas a menina má. E eu me identifico muito também com ela, porque sinto pela humanidade, maiorias e minorias, ódio semelhante. Não sei se isto é efeito dos antidepressivos, mas o fato é que só posso apoiar a atitude de Sarah, porque ela nada mais faz do que desmascarar a hipocrisia grassante. Então, a Mary me aplicou de Sarah ontem e eu fiquei Sarah cotiando o dia inteiro no youtube, e madrugada adentro idem. Em tempo: ela é muito bonita e elegante. Isto ajuda bastante, porque às vezes descamba pra grosseiria, mas a gente perdoa tudo naquela sua silhueta de Oona O`Neil. Canta pra chuchu também. Aproveito o Pessach, pra transcrever uma gag by Silverman: ela diz que não entende como os judeus podem dirigir carros alemães. Lembra que a Mercedes, a Porsche e a Volkswagen foram indústrias deslanchadas com o apoio dos nazistas. E os judeus são os principais compradores destes carros. Diz que se surpreende mais ainda com os alemães, que mataram seis bilhões de seus principais consumidores. "if they had talked to a jew before, he would say: don´t do it, it´s bad for the business." Porém, querida Sarah, você é a prova definitiva de que os alemães dizimaram grande parte de seu povo, mas não conseguiram exterminar seu humor, que, na minha opinião, continua a ser o melhor do mundo. So happy passover, Jewish readers! Que o mar vermelho da platitude abra alas pra o seu sense of humor passar ontem, hoje e sempre. Amen!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Viciada na prata da Sarah

Desculpem o sumiço. Estou totalmente viciada em assistir videos da Sara Silverman e não consigo fazer mais nada q envolva outras funções cerebrais, tais como lembrar o login e senha do blog.

Sei q falhei como bloguista, mas quem nunca falhou q atire o primeiro post.

E na verdade, estou sem assunto para dividir, o q é diferente da falta de assunto total. Sim, tenho diversos assuntos, MAS são todos secretos.

Inclusive Sarah. Se quiserem, procurem-na. Eu deixo com vcs, meu ídolo mór!

Jerry Lewis!

sábado, 12 de abril de 2008

Comentários de muito espírito

Antes de sair pra balada, esta escriba badalada, externa aqui seu contentamento com os comentários inteligentíssimos contidos neste banheiro-blog. Obrigada, Servio Tulio, Renan, Ricky, Guilherme Serpa, Luís Capucho, Anônimos... Um texto inteligente não vale nada sem uma interlocução genial.
Este showbathroom da histeria é o triunfo de interatividade! Adorei o comentário de Edgard Westwind sobre a arte de extrair verrugas. Não percam! Também amei seu comment sobre a tia fina e a tia grossa. Uma verdadeira crônica, muito bem escrita. Renan e Luís também afinados e surpreendentes. Ricky sempre a me puxar as orelhas! (prefiro que me puxem as orelhas a que me puxem o saco, de que sou desprovida!)

Sergio deixou um comentário muito engraçado sobre o filme dos Stones, chamando-os de Queóps, Quefrem e Miquerinos...mas registro aqui o corolário desta observação: sim, eles podem ser tão velhos quanto estes faraós, mas, tal como as pirâmides em que se encontram enterrados, farão parte da lista dos maiores colossos da humanidade. E, quando nós todos estivermos extintos e esquecidos, os livros de história falarão sobre Jagger, Richards, Watts e Wood, e eu, que ainda não desisti de ser a Nefertiti do rei Mick, também serei citada, como a última farani de sua saga.

E, Mary, você amanhã vai ficar sem sobremesa, por aquele comentário atrevido!

Beijos e merci, queridos!!!!!!!! Keep writing! I love to read all of you!!!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Naturalmente fina, naturalmente grossa

Meu Tio Al costumava classificar as pessoas entre naturalmente finas e naturalmente grossas. Eu gostava desta brincadeira. Ficávamos horas a fio elaborando as listas. Só que, creio, meu conceito de finura e grossura, ou finesa e grosseria, não era muito semelhante ao dele. Porque eu acho que latino-americano não é naturalmente fino. Existem exceções, como minha filha, Mary Fê. Ela é aquele tipo de pessoa que, se prender o dedo na porta, você nem vai saber, tamanha a sua discrição. Mas ela não é travada, nem tímida. É fina, mesmo. E não vou dizer que tenha puxado à mãe, porque meus cascos são conhecidos internacionalmente. Entretanto, quando eu era criança, minha avó, que era nobre de família, dizia que eu era sua pequena lady. Segundo ela, foi a psicanálise que me transformou numa "punk", que ela pronunciava com "u". Porém, a palavra inglesa, que significa "delinqüente", não denota nem conota o que sou: um cavalo. Uma interlocutora, outro dia, me disse que este blog, salvo a delicadeza natural de minha filha, era como eu: elegante por fora, mas cheio de merda por dentro. Fiquei flattered, porque Coco Chanel ainda é meu paradigma de elegância. Mas discordo: eu acho que sou deselegante por fora. Mas algo elegante por dentro. E isto passa por minha classificação de naturalmente finos e grossos. Eu acho que sou um pouco elegante, por dentro, porque, numa sociedade cada vez mais hipócrita, eu digo o que penso, o que sinto, e não deixo pra ninguém o benefício da dúvida. Isto não significa que eu não mude de opinião. Porque, como dizia meu adorado, Paulo Francis, um gentleman, só os idiotas não mudam de opinião. E, além disto, eu tento respeitar a etiqueta, no que ela tem de mais verdadeiro e etimológico: a pequena ética. Não é que eu seja ética. Porque ninguém é ético, no Brasil. Nem no resto do mundo. Desde que nos levantamos até a hora de dormir, agredimos a ética, ao ligar um ar condicionado e aumentar, por exemplo, os gases atmosféricos. Ou a calefação a carvão, idem. Então, não existe mais ética no mundo. Este conjunto de valores que pressupõe respeitar o próximo e a natureza. Mas acho que conservo uma certa etiqueta. Não é etiqueta de loja. Não é grife. É, por vezes, gafe. Sou gaffeuse. Eu não ligo pra dizer que vou chegar atrasada. Eu costumo chegar na hora. Mesmo de táxi, agora que não tenho mais carro, dou carona. Quando posso, incluo amigos em tudo o que faço. Sou provinciana. E provinciano obedece a etiqueta, porque, numa cidade pequena, se você não faz isto, você nunca mais vai ficar em paz com a sua consciência, porque todo mundo faz, porque todo mundo se vê e se reconhece. A cidade grande brutaliza as pessoas. Ainda assim, há cidades, como São Paulo, que preservam a etiqueta, inserindo na metrópole um jeitinho caipira de ser. Refiro-me aos paulistas, mesmo, porque o pessoal de fora, com raras exceções, não tem este protocolo. Isto é coisa de quatrocentão e de quem cresceu ali. Eu adoro São Paulo e os paulistanos. E ali moram duas amigas finíssimas: Joice Niskier, que é carioca, mas adotou SP, e Valeria Dressano, paulista. As duas são naturalmente finas.
Acho que isto é um mistério tão insondável quanto a origem da vida. Quanto o fenômeno do gênio, que ninguém explica. Por que algumas pessoas nascem finas? Claro que a educação familiar contribui. Mas existe um fator imponderável.

Em compensação, do outro lado de Gotham City, a gente vê pessoas ostentando o título de bien née, que melhor fariam em comer feno. Entendo que aristocrata não tenha mesmo educação. Educação é troço burguês. Mas o que noto, salvo poucas criaturas, como as ladies supracitadas, é que a cavalgadura anda solta. E o que é pior: disfarçada. Acho que faz parte da novilíngua, de Orwell. Guerra é paz. Ódio é amor. Grosso é fino. Fino é grosso. Eu tenho uma amiga que antigamente eu chamava de "Os brutos também amam." Ela dava patadas nas pessoas a torto e a direito. Mas eu a achava fina, porque ela era nobre de sentimentos, de ações, de etiqueta. Agora, parece que ela entrou pra socila do boteco 66 ou 666, e virou uma lady às avessas. Fala fino. Voz suave. Polida. Mas internamente tem um ser que me parece muito distinto daqueles brutos também amam. Como se ela tivesse sido reeducada num reformatório e tivesse aprendido a exibir um verniz, que mascarasse as navalhadas levadas a ferro, fogo e força. Minha amiga era uma lady, quando era bruta. Porque não era bruta, era rude. E aí reside a diferença.
Agora, o pior exemplo que tenho desta deturpação é uma velha conhecida. Ela parece uma inglesa. Anda com passos de gazela. Parece que olha o mundo do belvedere de seu nariz. Mas é naturalmente grossa. Nasceu grossa. Só que aqui no Rio, principalmente, cidade muito jeca, as pessoas confundem magresa com fineza. E eu tenho outra amiga, gordinha, que eu considero a grande dama de todas as artes, a nossa Peggy Guggenheim. Elegante, por dentro e por fora.
Sabemo-nos macunaímas, heróis sem nenhum caráter, mas não custa aprender com os bons exemplos, que são exceções. Eu derrapo nos meus cascos, sobretudo quando eles me doem, como ultimamente - aliás, viva a indústria farmacêutica, estou experimetando um alívio balsâmico com uma droga nova. Porém, tenho como paradigmas minha listinha, que não divulgo, para não pecar na etiqueta. Quando penso nas listas que fazia com meu tio Al, que, por sua vez, era um cavalheiro, segredo a ele, que se foi deste planeta sem educação, aos 47 anos, num dezembro de 1978, estes nomes que aqui omito. Esses são meus naturalmente finos. Eu não sou um deles. Nasci naturalmente grossa. Mas quero aprender a transitar no mundo com a graça de uma bailariana e a força de uma guerreira, não na superfície, mas na passarela do espírito, sob os holofotes da consciência, esta provinciana vizinha, que não me deixa passear pela vida, sem lhe pedir licença.

Claudia, Ilana, Clarices, Patricias, Sandra, Nina, Guida, obrigada por me ensinar os primeiros passos, na cidade de Niterói, onde todo mundo sorri, mesmo sem razão.
Boa noite! Durmam bem! Sonhem comigo e não caiam da cama.

Luís Capucho, a nossa Julie Andrews

Histéricos e histéricas: volto a este banheiro, para dar uma mijadinha, pra não ficar tudo assim meio parado no tempo e no ciberspaço.
Amanhã, tem Luís Capucho na Casa Grande e Senzala de Clara Sandroni, a última Sinhazinha carioca, para não dizer, a última Laurinda Santos Lobo do Rio. Digo isto como elogio, é claro, Clara. Estarei lá, para ver meu amigo e parceiro tocar e cantar suas músicas sempre desconcertantes. Não sei se ele vai tocar "Máquina de escrever", uma composição nossa já gravada por Pedro Luís e a Parede, Patricia Ahmaral, ele e eu. Nossa, acho que nem "My funny valentine" teve tantas versões...

Virei uma noite outro dia, youtubando no surf virtual. E o objeto de minha pesquisa madrugal e madrigal foi ninguém menos que a maravilhosa Julie Andrews. K.D. Lang disse que você sabe se uma mulher é chegada a um velcro - bom eu sou do tempo do flanelógrafo, e não sei se ainda se usa falar assim, porque, afinal, as mulheres agora são skinheads, se entendem o que quero dizer, mas a cantora canadense afirma que gostar de Julie Andrews aponta uma tendência ao sáfico. Eu acho que ela está certa, porque Julie suscita na maioria das mulheres uma paixão capaz de fazer virar a noite. E eu me lembro que fiz minha avó rodar os Estados Unidos inteiros, na década de 60, atrás de uma boneca Mary Poppins. Minha avó, depois de uma odisséia em department stores, conseguiu a tal boneca, na Disneylândia, claro. E eu chorei de emoção quando recebi minha Julie Andrews de celulose.
Chorei agora, de novo, ao assistir a um especial sobre "The sound of music" e um programa em que Julie conta, para um sarcófago de Barbara Walters, a tragédia que foi perder a voz. Pra quem não sabe, ela fez uma cirurgia, em 1996, para extrair um nódulo da laringe e acabou, por barberagem médica, levando um bisturi nas cordas vocais. Na entrevista, logo depois que a notícia veio a público, via Blake Edwards, marido de Julie, você sente toda a dor desta mulher que, aos 13 anos, cantou para a rainha da Inglaterra e foi a cantora mais perfeita do teatro musical. Eu acho que este médico deveria ser apedrejado em praça pública. Julie Andrews ainda cantava muito, quando sofreu esta operação. Minha amiga, Claudia Barbosa, a viu na Broadway, em "Victor or Victoria", e me disse que, mesmo com todas aquelas cantoras fantásticas, que só a Broadway tem, ela está no topo, porque é única, inventou um estilo, que dizem que foi meio chupado da Marni Nixon, mas que eu considero uma invenção dela, porque ela é superior. Discutimos outro dia, eu e Servio Tulio, se era Nixon ou ela quem dublava Audrey Hepburn, em My Fair Lady, e Deborah Kerr, em "The king and I". Servio me provou que foi Marnie, através de pesquisa no Google. Mas eu vi um documentário, há anos, sobre "My fair lady", em que Julie aparece dizendo que todo mundo sabia que não era Audrey, mas ela que a estava dublando. Nos créditos, não há nada, porque queriam que a Audrey ficasse com os louros todos. A Audrey canta lindo também. Basta ver "Breakfast in Tiffany´s", onde ela entoa "Moon River", de Henry Mancini. Mas belting ela não faz. Eu só sei que impedir Julie Andrews de fazer o que é vital pra ela é um crime, que merece a pena capital.
Depois, vi outra entrevista dela, já mais conformada, e dando a volta por cima, ao se transformar em autora de livros infantis. Ela até brinca, dizendo que pensa em gravar "Old man river", com essa voz rouca que ela tem agora.

Então, penso em Luís Capucho, que também perdeu sua voz, no mesmo 1996, em outras circunstâncias e no sofrimento que foi pra ele. Do mesmo modo, ele se transformou em escritor. É, para mim, o grande romancista contemporâneo brasileiro, comparável a Machado e Lucio Cardoso. Mas ele foi muito determinado e voltou a cantar. Reinventou-se. Luís agora se firma como o nosso Bob Dylan, não apenas pela qualidade poética de suas canções, mas pelo jeito de cantar, que lembra muito Dylan, no início da carreira. Melhor, quando se tornou elétrico. Acho que Julie também irá se reinventar, em breve, e reaparecer como uma bluseira das melhores, da mesma maneira com que Doris Day é uma cantora de jazz tão poderosa que Ella Fitzgerald se dizia influenciada por ela.

Abaixo, dois momentos de Luís. Um antes. Outro depois. Tenho meu favorito, que é o depois, porque é mais rock´n roll. Como se ele tivesse feito a mesma trajetória que seu brother norte-americano. Aliás, eu sou uma, antes de Luís. E outra, depois dele. E acho que ele pode dizer o mesmo de mim, porque em arte, como dizia Mario Quintana, não há influência, mas confluência. E eu me sinto o contrário do que diz a letra de uma de nossas canções:"eu estou muito Luís..." E ele, não sei se está muito Mathilda, mas noto algumas semelhanças, sobretudo na sua postura agora mais conservadora na vida, no melhor sentido. Mas fiquem com o antes, "Velha", e o depois "Sucesso com sexo", meio cabotinagem minha. Não é uma questão de ego, porque como disse outro dia em resposta a uma interlocutora, não é meu ego que é fenomenal. Sou eu! Aos homeclips, pois, ambos realizados por Pedro Paz:



terça-feira, 8 de abril de 2008

The bad seed

O youtube é a maior invenção dos últimos anos. Curvo-me diante do responsável por este portal do paraíso. Acabo de descobrir uma pérola: "The bad seed." Vi este filme em L.A., há dois anos, em meio a muita zombaria. O filme, de 1956, hoje é um prestigiado camp movie. Mas, naquela época, era seríssimo. Adpatação de um sucesso da Broadway, ele narra a estória de uma serial killer de oito anos. Dirigido pelo excelente Mervin Leroy ele advoga que a maldade é hereditária, com uma base toda psicanalítica maluca. A atuação é ótima. Super caricatural. O filme é uma peça filmada e obedece a marcação original. O mais engraçado é o personagem central, interpretado por uma atriz, que hoje, aos cinqüenta e muitos anos, vive de dar palestras sobre este seu único sucesso juvenil, que a alçou à condição de diva, no universo gay. Eu vi uma entrevista com ela, na TV, e ela parece que não entende que é pura gozação trash. Ela conta que tinha que pintar o cabelo de um louro muito brilhante, para que ficasse com uma aparência meio angelical. Mas ela fica mesmo é sinistra. Dá medo. Eu ri muito vendo. O mais gozado foi que a peça terminava com a insinuação de que a pequena assassina iria escapar e continuar matando. Mas a censura da época achou um pouco forte e encomendou aos roteiristas um final mais adequado: ela, em vez de escapar, morre fulminada por um raio. Este filme mereceria passar numa dessas maratonas trash de cinema. Mas, por enquanto, vocês o podem ver inteiro no youtube. Confiram o trailler:

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Verruga ou não verruga: eis a questão!

Falei, alguns posts atrás, sobre o problema da calvície precoce em músicos. Agora, neste momento orkútis, internet, a manicure-vedete, faço outra reflexão, desta feita, sobre um fenômeno que me intriga do mesmo modo: a presença de verrugas nos rostos das jovens atrizes. Não me recordo de ter visto, no rosto de uma Ava Gardner, de uma Rita Hayworh, de uma Heddy Lammar, muito menos de uma Ingrid Bergman, uma única verruga sequer. E, mesmo depois da golden age de Hollywood, nunca vi nada parecido no semblante de Diane Keaton, por exemplo, ou no de, mais para cá, Naomi Watts... Agora, reparem em Natalie Portman. Ou aqui, no Brasil, aquela filha da Angela Leal...Mas com homens também: apesar de Cary Grant apresentar uma pinta cabeluda na face, a profusão de verrugas nos rostos masculinos deu-se depois de Kevin Costner. Será que foi por isto que ele sabotou Madonna?! Não que eu tenha nada contra verrugas. Ao contrário, elas me exercem certo fascínio. Tanto que escrevi uma hitória pra criança, intitulada "O ladrão de verrugas." O problema é justamente este. Elas me atraem tanto a atenção que não consigo me concentrar em mais nada. Então, não posso ver filme com atores ou atrizes portadores de verrugas, porque não consigo acompanhar a narrativa, tão fixada fico nelas. No caso de um intelectual, de um escritor, isto não tem a menor importância. Margueritte Yourcenar que o diga. Mas a gente não lê romances, pensando nem na cara, nem nas verrugas do autor. Não sei se isto é influência da corte dos Luíses, de volta nesta corte sem luzes, ou se praga do Álvaro Vale, mas a juventude anda apresentando uma profusão de verrugas nunca dantes testemunhada. E eu temo por minha saúde mental, porque sinto ganas de pular em cima de uma verruga e lhe arrancar o pêlo, quando vejo na tela do cinema. Minha obsessão por esta cartilagem é tão forte, que já houve uma época em que pensei em fazer, em sociedade com Patrícia Wuillaume, um cabeleireiro de pintas cabeludas. Ficamos horas concebendo cortes: chanel, rasta, moicano...e, no caso da verruga, uns dreads também cairiam bem. Poranto, eu rogo às atrizes e atores que extraiam suas verrugas, para que eu, cinéfila inveterada, possa ver filmes sem a aflição ameaçadora desta visão tentadora. Obrigada!

Filha, olha como ele é lindo!!!!!

Desculpem a insistência no tema, mas Marcio Paschoal, crítico de música, que teceu niagaras de elogios tanto à mãe quanto à filha, em seus respectivos trabalhos musicais, reconhecendo nossa linhagem em meio a tanta galinhagem, me enviou o clipe, que ora posto aqui. Trata-se do encontro de John Lennon, Eric Clapton, Mitch Mitchel e Keith Richards, no lendário Rolling Stones Rock and Roll Circus. Dá pra se pensar que, ali, naquele circo doido, Lennon estava muito mais em casa do que na companhia de alguns de seus parceiros, mais travadinhos. Mas o melhor é a apresentação de Mick Jagger, com Lennon com um prato de sopa, ao lado. Isso, sim, é roquenrol.

Filha, give Mick a chance, olha que lindo:

Possuída por Mick, exorcizada por Madonna

Contei pra minha cyberfilha um cyberfenômeno que testemunhei, depois do post sobre os Stones. Talvez tenha parecido ali que eu estivesse fazendo a apologia do demo, ou o contrário. Nem uma coisa, nem outra. Mas o fato é que, assim que postei a elegia stoniana, recebi um email ameaçador, que jurava me tirar do ar, no mesmo instante, e observei que o número, na caixa postal era 666. Brrrrrr! Ou foi uma dessas sincronicities, advogadas por Carl Jung, ou cutuquei mesmo a besta com vara curta. Então, como não sou mulher de retirar o dito por medo, prefiro, antes, explicar:

Nos anos 60/70, revoluções ocorriam a cada minuto. Recentemente, Catherine Millet, considerada a sucessora de Foucault, comentou que as revoluções daquela época derrubaram padrões para instituir outros. Isto é, viraram instituições rígidas, como as que almejavam demolir. Assim, você era obrigada a perder a virgindade, a se drogar, a ser de esquerda, a ser hippie, enfim, uma patrulha ideológica chatíssima. Mas, ao mesmo tempo, havia quem andasse ao largo disto. Os Stones nunca carregaram bandeira. Eis por que sempre os preferi aos Beatles, que tinham aquela máscara ideológica, do tipo, abram alas para nossa limusine passar, porque nós acreditamos na luta de classes. Já os Stones queriam apenas ser. Na época, o tinhoso estava em baixa. Mesmo as religiões diziam que ele não existia. Porque, com o (desodorante) avanço da ciência, quem é que iria acreditar numa criatura com chifres, rabo, e pés de cabrito?! Então, se dizia que o que se lia na Bíblia era simbólico. Foi assim, creio, que tanto Raul Seixas, que afirmou ser o diabo o pai do rock, quanto Jagger, com seu "Simpathy for the devil", brincaram com fogo, no melhor estilo Brasinha.

Mick esteve no Brasil, nos sixties, e adorou um ponto de macumba que ouviu na Bahia. Assimilou o ritmo e fez esta que é uma de suas canções carro-chefe. Em "Gimme Shelter", concerto que fez em Altamont, durante a execução da música, um Hell`s (brrrr!) Angel, responsável pela segurança da banda, esfaqueou um sujeito da platéia, e o gesto foi considarado o fim do flower power, porque, dali em diante, os shows passaram a ser em palcos distantes da multidão que, antes, ficava colada a ele, juntinho dos ídolos. Não raro, subia um no palco e agarrava Mick (ai, o que eu perdi!!!!)etc. Mick Jagger repudiou o ato e teceu duras críticas aos Hell´s Angels, que o juraram de morte. Dizem que foi tudo obra da música, que tanto garante até hoje o sucesso do grupo, quanto o obriga a se apresentar, já sexy-agenário, em tours gigantes.

Como neoiluminsta que sou, tendo a repudiar estas crendices. Acho que, se é pra acreditar nos mitos defendidos pelas religiões oficiais, então, há que se crer em mula-sem-cabeça e que-tais, posto serem tão inverossímeis quanto. Mas Jung já explicava e defendia a força dos mitos e símbolos. Então, a palavra com sua estanha potência é capaz de portar e transportar toda a energia de uma simbologia antiga e causar alguns estragos. Portanto, lavro aqui minhas desculpas ao oculto, seja ele quem for, e espero não pronunciar seu nome em vão, doravante. Não sou grande como Mick Jagger, para mexer com tais mitos e me safar, vitoriosa.

Contei tudo isto a Mary que me aplicou, no sábado, obras completas de Madonna, para me purificar. Observei que Madonna evoluiu muito como performer e personalidade. Mas eu curtia mais o som que ela fazia no início. Ela cresceu muito como atriz e foi conquistando formas muito interessantes, do ponto de vista audiovisual. Mas sou mais fã de suas letras antigas. Acho que Madonna é uma grande atriz, uma estrela, como Marlene e Marilyn, mas ela foi sacaneada por Hollywood, só porque falou mal de Kevin Costner, membro da máfia hollywoodiana. Então, não se fez de rogada. Tratou de criar seu próprio cinema, maravilhoso, que podemos ver nos DVDs. Mick sofre a mesma descriminação. Os machões que tomaram Hollywood, de uns tempos pra cá, transformando-a numa fábrica de tédio, não querem bichas, como Busby Berkeley, Cecil B. De Mille, Esther Williams...Mick e Madonna. Então, fica esse troço enfadonho de homem. Qualquer dia, a gente só vai ver futebol no cinema. O mundo todo está se masculinizando, ao contrário do que nós, dos 60/70, imaginávamos. Então, louvo, muito, a existência de uma Madonna que, ainda que vítima de uma musculatura masculina, e de uma certa atitude macha, é muito fêmea e mulher. O mesmo digo de Mick. E é interessante notar como eles são antíteses que, um dia tocadas, possivelmente farão a síntese, por que todos nós, mortais, esperamos. Mick é tão macho que pode se vestir de mulher, rebolar, o diabo, oops, que ele abre a boca e sai aquele vozeirão de bofe, que não deixa dúvidas sobre sua virilidade. Madonna, por sua vez, por mais que faça o bofão, tem uma silhueta tão feminina, que não deixa dúvidas de que é a mulher, em seu eterno feminino. Bem que eles podiam fazer um filme juntos!

Enfim, quando penso que Nietzsche decretou a morte de Deus e morreu pedindo perdão ao Criador, quando lembro que Schopenhauer proclamava que o mundo era um lugar habitado por demônios e seres atormentados, quando rememoro Pitágoras, que sustentava ter Ele criado a luz e o homem, enquanto o Outro houvera criado a treva e a mulher...chego a achar que somos um pouco de ambos e que o negócio é a gente saber usar as porções do jeito mais positivo possível. Evitar os pecados capitais, principalmente, os pecados do capital, mas "pecar na viola", como Servio Túlio diz, citando Dietrich na impagável interpretação de "Luar do Sertão". Pequemos, pois, na viola, como Mick. Oremos, outrossim, como Madonna. E assim tudo há de se resolver em paz.

Falei demais? E porque sou, como Madonna e Mick, muito bicha! E muito bicha louca!

Beijos, cherrie, amore, amado, amada, quérida, darling, sweetie...

Despeitados

Quem é mais despeitado neste clipe?

(dica do pessoal do celga)

domingo, 6 de abril de 2008

Amanda Lear or Liar?

Nosso letradíssimo e ilustradérrimo interlocutor, Edgard Westwind, aplaudiu a escolha de Dalida, pinçada pela Mary, e trouxe à baila outra diva: Amanda Lear. Musa de Salvador Dali, amante de David Bowie, moldelo de Mary Quant, nos anos 60, disco queen, na década de 70, foi ela quem inspirou, igualmente, o personagem de Joanna Lumly, em Absolutely Fabulous, e, tal como na paródia, seu sexo permaneceu indefinido e indecifrável, ao longo de muitas décadas. Até que começaram a espocar comentários, que redundaram em provas irrefutáveis e uma quase confissão dela mesma em um de seus álbuns, de que o jovem Alain Tapp trocou de sexo no Marrocos e virou Amanda Lear. Seja como for, o fato é que ela foi namorada do rolling stone Brian Jones, e ainda faturou Brian Ferry, no Roxy Music, de quem foi uma espécie de Nico.

Confiram, pois, esta jóia rara, em um de seus momentos mais showbicha, defendendo com unhas, dentes e luvas, o hit "Give a bit of hmm to me":

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Graças a Zeus, os Stones desceram do Olimpo para mim, ou Brenda, I love you

Hoje, eu acordei soltando fogo pelas ventas. Não foi conseqüência apenas do climatério vivido em pleno global warming. Nem do sonho terrível que tive com Pedro Montagna, no qual nos víamos cercados numa casa, cuja dona havia sido executada com um tiro na testa, na nossa frente. Eu acordei puta por despertar no século XXI, no Rio de Janeiro, onde isto acontece a toda hora, e já aconteceu com uma grande amiga minha, há oito anos. Depois, me levantei e fui me deparar com um monte de pentelhações que iam de meu celular perdido num táxi até negociações de trabalho e, como desgraça pouca é bobagem, a sucursal do inferno na Terra: banco. Não fico em fila, porque sou portadora de deficiência física, mas sou obrigada a encarar os portadores de doença mental que nos atendem atrás dos guichés. Vou ao caixa eletrônico e constato que as operações efetuadas por outro cliente, no caixa ao lado, estão aparecendo no meu monitor, aviso aos responsáveis pela manutenção, mas eles não se ligam, porque se vêem muito ocupados, discutindo um jogo de futebol cretino. Saio dali bufando. Cruzo com a mulher de branco, que me sorri cúmplice. Em seguida, com uma renomada dramaturga carioca, que me comunica que andam falando bem de minha obra, na secretaria de cultura. Sorrio, tentando esconder minha raiva, e, como tenho um sorriso fácil, convenço. Mas olho pro céu e imploro que os deuses me dêem sinal de sua existência e coragem para prosseguir em minha provação terrena. E, então, eis que o Olimpo responde. Lá no alto, nos letreiros da programação de cinema, cintilava o título que iria me devolver à condição de imortal: "the Rolling Stones shine a light. " Título mais sugestivo não poderia haver. Eles, os deuses, em pessoa, melhor, em celulóide, acendiam sua tocha divina para mim. Não tive dúvida. De bermuda, sem bolsa, mancando, como Vulcano, corri para o quarto andar do shopping da Gávea, o playground das peruas da zona sul, e invadi o cinema, esbaforida. "Me diga quanto é. Eu pago. Sento até no chão." Mas os deuses não fazem por menos. Ninguém havia comprado ingresso pra sessão das quatro e eu podia escolher um lugar, de frente pra Mick Jagger, só pra mim. Aiiiiiiiii!!!!! Fiz o cara abrir a sala e entrei como se precisasse pegar lugar. Sentei-me bem no meio, no melhor lugar da casa. O ar condicionado a toda. E eu, de short, congelando. Mas o pior era ouvir a bossa nova, essa musak carioca, entrando pelas caixas. Tudo pelos Stones, pensei e agüentei. Aos poucos, foram chegando uns coroas e eu assim me perguntando se havia entrado na sala certa, até que um deles, careca, falou pra outro, ainda mais velho: "tomara que aumentem o som, porque Rolling Stones tem que ser no último volume." Expirei, aliviada. Ao todo, havia uma meia dúzia na platéia. Começa a sessão e eu tenho que aturar um comercial mentiroso da Vivo, vivíssima, patrocinadora da sala e operadora com a qual eu discuti a manhã inteira. Passados os trailers e aquela chatice que antecede os filmes agora, o logo, com a inscrição Shangri-lá, tomou a tela. E as portas do horizonte perdido se abriram. Eu simplesmente vi o melhor filme de rock´n roll de todos os tempos, com a melhor banda de todos os tempos, sem ter ninguém, nem bancário burro, nem atendente da Vivo, nem carioca que não saiu da oca, nem todo esse peso que é viver neste século XXI imbecil, nem a dor no quadril, nada a me incomodar, porque eu estava diante de uma obra-prima. Martin Scorcese, ao contrário do que fez com Bob Dylan, rendeu-se ao irrefutável fato de que the Stones are not history. The Stones are! E então ele desistiu de filmar uma tournée e fazer um documentário como de costume e, sabendo-se diante de gênios que nunca deixaram de ser, ao contrário de Dylan, que foi e se esqueceu como é, fez o filme mais primoroso de sua carreira, posicionando-se no palco, como um dos músicos, num único show, no Beacon Theatre, um teatro lindo da Broadway, que eu tive o prazer de freqüentar, como quem vai ali, no shopping da Gávea, onde vi seres tocados pelos deuses, mas que não podia imaginar que seria palco dos deuses mesmos do Olimpo, em uma de suas visitas ao planeta. Minha amiga e parceira, Marcia Medeiros, teve esta idéia, há mais de vinte anos: entrou no palco do Circo Voador, e se posionou nele como um músico, pra filmar a banda Urge, que tinha à sua frente esta minha amiga, que dançou pelas mãos de um assassino filho da puta. Margot Mahnada talvez tenha sido a última artista com talento genuíno de superstar, mas ela não tinha Keith Richards de parceiro, nem o Circo Voador era o Beacon Theatre, e ela ainda teve a má sorte de viver numa cidade que não a soube proteger. Já Marcia Medeiros, esta é tão grande quanto Martin Scorcese. E eu ainda hei de viver para vê-la filmar shows mundo afora, como só ela sabe fazer no Brasil, porque é musical como nenhum outro videomaker brasileiro. O fato é que, pela primeira vez, eu vi os Stones assim, dentro do palco. Vi as obturações de Mick Jagger. A dentadura de Keith Richards. Mas nada me demoveu da idéia de que me via diante dos deuses, em sua forma mais humana. O que faz com que Mick Jagger seja o homem mais tesudo do mundo, aos 64 anos? E Keith Richards, o mais elegante? E Ronnie Wood, o mais brejeiro? E Charlie Watts, o mais charmoso? Uns dirão que foi pacto com o demônio. Mas isto não é verdade. Mick Jagger nunca fez pacto com nada. Porque ele é Lucifer himself. E Lucifer significa "que se faça a luz." The Stones shine a light. O diabo é o pai do rock. Mas vender a alma ao diabo é uma burrice. Coisa de gentinha. Her Satanic Majesty não está interessada em comprar barato alma de plebeu. Eu tive a sorte de ver Stones ao vivo quatro vezes. Duas em NY, no Shea Stadium, onde a arquibancada quase caiu e eu, com ela, feliz da vida. E duas no Brasil. A primeira naquele que foi seu melhor show, segundo Jagger, no Maracanã. Fui no backstage, com minha então parceira, Rita Lee. A Rita ia abrir o show e estava muito nervosa. Então, me pediu pra ir no carro, segurando sua mãozinha. Fomos no automóvel: eu, a Vivi, irmã da Rita, Eduardo, meu ex-marido, e o motorista, errando o caminho, enquanto eu falava sem parar, sobre beagles e outros assuntos nada a ver com aquilo, pra relaxar. Até que, por fim, entramos rampa adentro do Maraca, com a multidão urrando em cima da gente. O camarim cheio. E eu implorando à Rita que me levasse até o camarim dos deuses. A Rita entrou, voltou e me disse que era verdade, que eles adoravam o diabo, porque viu velas vermelhas acesas e uma foto de Mefistófeles. Mas devia ser mais uma ilusão de ótica de uma criatura míope, que é bem chegada a uma lorota. E ela ainda completou: "se você quiser entrar, tem que falar com o Roberto. Eu não tenho o menor cartaz com eles. O Roberto é que é amigo de Mick Jagger. Tá todo mundo sendo barrado na porta..." Todo mundo, menos Lucia Turnbull. Lucia é a edição feminina de Keith Richards. E, ela, sim, é a maior roqueira do Brasil. Aos 13 anos tocava nos bares de Londres, deixando os bêbados ingleses perplexos. Mas era fã dos Mutantes. Escreveu pro Arnaldo Baptista e ele disse pra ela voltar pra São Paulo, que eles estavam loucos pra conhecê-la. Voltou e, aos quinze, já tocava com eles. Aos 18, com a Rita, que aprendeu a tocar e a cantar rock com ela. A Rita gostava mesmo era de Brigitte Bardot, seu ídolo até hoje. A voz, o jeito de cantar, que a consagrou, são de fato criações de Lucia Turnbull que, como seu par inglês, Richards, só queria saber de se divertir e tocar, sem ligar pra royalties. E Rita Lee, ao contrário de Jagger, é muito burra. Ela, como boa brasileira, achava que o negócio era se dar bem, a qualquer preço. Então, se livrou da parceira, com quem ela estava fazendo um rock´n roll tão poderoso, quanto o que os Stones faziam, e, ao lado de quem, ela teria conquistado, não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro, ao invés de pagar mico no Rock in Rio, com Lincoln Olivetti pasteurizando ainda mais o trabalho já bem chatinho com o marido, e enterrando uma carreira internacional, aos 35 anos. O resultado disto está na cara. Dorian Gray não perdoa. Deforma o semblante mais belo e o exibe pro mundo a máscara despida. Vender a alma ao diabo é uma roubada. Porque esses diabinhos que povoam a Terra são de quinta, e dos quintos dos infernos. Lucia também vem de luz. E ela pertence a essa categoria de anjos decaídos, que são muito queridos de Deus, melhor, Zeus. E, como Jagger&Richards, não envelhece. Ela pega a guritarra e tem 20 anos de novo. E ainda vai encontrar seu Ronnie Wood e seu Mick Jagger. Mick, suspeito, será Luís Capucho. Ronnie deve aparecer no bojo. Semana que vem, vou ver de novo The Stones shine a light, com a luz de Lucia ao lado. Vou ver muitas vezes. Até a grana acabar. Cheguei em casa e dei este dever de casa à minha filha. Ela não entende o que eu vejo nesse tal de roquenrol, quer dizer, nesse tal de Mick Jagger. Minha mãe, por sua vez, acha que, pra mim, Quasímodo seria um padrão de beleza. Eu desafio as duas, avó e neta, a ver o filme e não me dar razão. Mick Jagger foi e ainda é o homem mais bonito do mundo. O mais sexy e gostoso. Foi uma gritaria no cinema. Se alguém entrasse, desavisadamente, ia achar que era uma enfermaria: seis pessoas urrando. Eu decidi que vou perder os dez quilos que ganhei, voltando a fazer rock. É a ginástica de Mick. E ele tem um corpinho...Outra decisão que tomei é que serei celibatária, até ele descobrir que eu sou a mulher de sua vida. Afinal, eu me parecia com a Bianca, quando eu era mais nova, ao menos, me diziam alguns. E ele não corre o risco de ter outro filho bastardo brasileiro. Sei que isto vai ocorrer, só quando ele estiver lá pelos cem, e eu, pelos oitenta. Mas minha família é super longeva. Meu avô morreu com 103. Então, com oitenta, eu vou estar uma gatinha. E ele, cada vez mais tesudo e lindo. Recomendo, não só este glorioso filme, mas o documentário "Being Mick", disponível no youtube, que me foi indicado por Antonio Saraiva, outro stonemaníaco. Mick Jagger é um xamã. Eu o vi comandar dois milhões de pessoas na praia de Copacabana, numa suíte a convite de uma amiga. O mar ficou calmo. O público entregue. Não houve violência, nem furto, nada. A paz e a alegria, que os sacerdotes pregam mas não sabem instituir. Ele sabe. Os Stones poderiam insituir a paz no Oriente Médio. Os Stones poderiam fazer deste planeta o melhor lugar do universo. Mas a Rainha Elizabeth I os convocou antes, há 500 anos. E eles vieram ingleses. Então, Mom, eu quero ir pra Londres. Não quero ficar aqui e bater cabeça pra MPB, como todo roqueiro se vê obrigado a fazer pra entrar no mercado. Eu não quero entrar em mercado. Eu quero entrar na alcova de Mick Jagger e ser sua gueixa, pra sempre.
Saí do cinema, com menos 40 anos, fui saltitando pelas escadas rolantes, minha pele esticada, linda, como se depois de uma trepada. E foi mesmo a melhor trepada da minha vida. Eu me olhei no espelho e vi uma adolescente. Botei a bengala debaixo do braço e saí pela rua pulando e dançando, como se eu tivesse visto Fred Astaire pela primeira vez. Mas eu estava era vendo os Stones pela primeira vez. Porque é sempre assim com eles. Eles tocam como se fosse a primeira vez, com o mesmo tesão. E a gente ouve a mesma música como se fosse a primeira vez. Mick Jagger foi meu primeiro amor. E será também o último. E eu vou levar minha filha pra conhecer Madonna, que pra ela é o que Mick é pra mim. Mas nem eu, nem Madonna, existiríamos se não fosse ele. Foi ele que inventou tudo isto, filha. Ele se inspirou em Little Richard, que inspirou também Prince. Mas foi ele que provou, com suas letras simples e muito criativas, que o rock podia ter inteligência. Foi ele que inventou o balé do rock. Foi ele que foi o Nijinski do fim do século.
Os deuses desceram à Terra, na Gávea. Na sala ao lado, Marianne Faithful também arrasa como atriz, em outro filme. Ela foi o pivô da briga entra Mick e Keith, que romperam por seu amor. Os dois cantam "As tears go by", depois de um comentário irônico de Jagger, no filme. "Deixamos outra pessoa gravar, porque achamos esta música embaressing." A outra pessoa era Marianne Faithful. Dizem que os dois stones não se falam desde então. O amor por ela acabou. Mas Mick e Keith têm um pelo outro um sentimento que se chama paixão, que o Paulo Rônai diz ser o ódio às avessas. E talvez por isto eles estejam juntos há mais de 40 anos. O casamento deles continua cheio de tesão na cama, que é o palco. É ali que eles trepam. E é ali que trepamos com eles. Um amigo me diz que eu ouço Stones como quem ouve Beethoven. Mas, claro, eles são um clássico. Mas eu os vejo como quem vê filme pornô. Se eu estivesse sozinha no cinema, acho que me masturbava ali mesmo. Meus companheiros de sessão, homens e mulheres, emitiam gritinhos iguais. Porém, houve momentos em que verti lágrimas de emoção. Não era a emoção nostáligica, que nos toma ao ver um ídolo do passado. Era uma emoção nova. Renovada. A emoção que a gente sente quando vê quatro deuses empunhando suas tochas e dizendo pra você: "Está vendo. Nós não te abandonamos. Nós estamos aqui pra iluminar seu caminho." E a luz se fez. The Stones shone a light...

Filha, olha como ele é lindo:

1 2 3 4 Locomova-se


Hoje é sexta-feira, dia universal de sair pra dançar. Pode dançar sem sair também, como é o caso aqui deste toalete.
Sintam como é ótimo dançar escorregando nos azulejos! O espelho embaça e tudo.

E nada melhor q se abanar um pouco pra espantar o calor. Coisa q esses rapazes do Locomia fazem sem pudor. Aliás, reparem só no nome de um dos membros (sic) da bunda, ops, banda na foto abaixo! (clicando com o bt direito do mouse, abra em nova janela a foto ampliada)



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Aquecidos, partamos para uma session disco-bidé. Precursora de Madonna, a incrível Dalidá, egípcia francesa q era incapaz de envelhecer. Vejam q linda com seus bailarinos! Haja muito secador de cabelo!



Bravo!

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At last, but not least, Madonna. Eu sou mega fanática por Madonna, fiquem atentos porque o novo clipe já foi lançado nos EUA, deve estar passando na MTV daqui a pouco...
Uma prévia com qualidade baixa, mas, boa pra matar a curiosidade, abaixo.



O fim de semana promete!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A Queda da Pastilha ou Glen Closet (sic)

Alberto Moravia, quando esteve no Rio, no final dos anos 60, comentou que a aquitetura da cidade era uma das mais feias que ele já havia visto na vida. O Rio, até 1948, era uma Paris com mar. Linda! Mas a especulação imobiliária destruiu nosso art nouveau e déco e instituiu o art decoco, de que a síntese, ou célula-mater, se traduz na abominável pastilha. A pastilha foi caindo, com o passar dos anos, e sua queda conferiu à paisagem carioca um aspecto decadente, ou deca-dente, isto é, banguela. Nos anos 70, no bojo da pastilha, vieram o vidro fumé, o mármore branco e as esquadrias de alumínio. Tal combinação só perde para o Memorial da América Latrina (sic) em SP e o World Trade Center, cujas torres devem ter sido derrubadas por algum esteta furioso. Os apartamentos construídos, da década de setenta pra cá, portavam os piores materiais de construção existentes, bem como apregoavam as maravilhas da suíte, dos lavabos e do closet, para Gáudio, sem Gaudí, dos (art) nouveau riche.

O Rio de Janeiro é, pois, agora, uma cidade constituída de pastilhas caídas e closet people. Todo mundo entrou no closet, seja por covardia, por pudor, ou por imposição social. E não me refiro à orientação sexual, apenas. Refiro-me ao élan de cada cidadão. A ousadia. A audácia do bofe, do Boff, e de demais outsiders. Que agora são insiders, inside de closet. Puseram uma grande burca no RJ, esta cidade onde as mulheres só não usam véu, porque inventaram o fio dental. E esta burca, por sua vez, é um armário. O Rio entrou no armário. E fechou o paletó.

Já fiz, em texto antigo, a apologia da bicha louca, via eleição de Clodô. Trarei oportunamente este texto de volta, em nosso lavabo, oops! Eu amo as bichas loucas! Fui criada por um bando delas, que me apresentaram a Judy Garland, Esther Williams and so on. Sou bicha louca, mulher veada, sim, senhor...senhor...a. E não suporto mais divisar minhas plumas trancadas no armário.

E também não suporto mais closet gays, que advogam a misoginia, por não se saber ou não triunfar em seu empenho inconsciente de ser mulher. Vejo as mulheres serem maltratadas no Rio, por homens e mulheres, como nunca. Eu me sinto na Tunísia, onde os homens andam de mãos dadas e se beijam na boca, e as mulheres apanham feito boi ladrão, ou vaca profana. Não estou me fazendo de vítima, porque isto seria ser o reverso do algoz. Tou só de ovários cheios, d´après Fellini. Misoginia só topo a dele e a de Millôr Fernandes, porque a inteligência de ambos é feminina, e seu machismo um elogio à mulher. O resto eu desejo que, na impossibilidade de sair do armário, engula alguns tabletes - ou pastilhas - de naftalina, e passe bem pro andar de cima, de paletó fechado e calcinhas de renda de nylon.

E que nos deixem, nós, bichas loucas e mulheres, mulheres bichas loucas, loucas muito bichas, fazer não o carnaval caetanal, mas o nosso rock´n roll na avenida da cosmópole, Glen or Glenda, de angorá, agora, out of the closet...