sexta-feira, 11 de abril de 2008

Luís Capucho, a nossa Julie Andrews

Histéricos e histéricas: volto a este banheiro, para dar uma mijadinha, pra não ficar tudo assim meio parado no tempo e no ciberspaço.
Amanhã, tem Luís Capucho na Casa Grande e Senzala de Clara Sandroni, a última Sinhazinha carioca, para não dizer, a última Laurinda Santos Lobo do Rio. Digo isto como elogio, é claro, Clara. Estarei lá, para ver meu amigo e parceiro tocar e cantar suas músicas sempre desconcertantes. Não sei se ele vai tocar "Máquina de escrever", uma composição nossa já gravada por Pedro Luís e a Parede, Patricia Ahmaral, ele e eu. Nossa, acho que nem "My funny valentine" teve tantas versões...

Virei uma noite outro dia, youtubando no surf virtual. E o objeto de minha pesquisa madrugal e madrigal foi ninguém menos que a maravilhosa Julie Andrews. K.D. Lang disse que você sabe se uma mulher é chegada a um velcro - bom eu sou do tempo do flanelógrafo, e não sei se ainda se usa falar assim, porque, afinal, as mulheres agora são skinheads, se entendem o que quero dizer, mas a cantora canadense afirma que gostar de Julie Andrews aponta uma tendência ao sáfico. Eu acho que ela está certa, porque Julie suscita na maioria das mulheres uma paixão capaz de fazer virar a noite. E eu me lembro que fiz minha avó rodar os Estados Unidos inteiros, na década de 60, atrás de uma boneca Mary Poppins. Minha avó, depois de uma odisséia em department stores, conseguiu a tal boneca, na Disneylândia, claro. E eu chorei de emoção quando recebi minha Julie Andrews de celulose.
Chorei agora, de novo, ao assistir a um especial sobre "The sound of music" e um programa em que Julie conta, para um sarcófago de Barbara Walters, a tragédia que foi perder a voz. Pra quem não sabe, ela fez uma cirurgia, em 1996, para extrair um nódulo da laringe e acabou, por barberagem médica, levando um bisturi nas cordas vocais. Na entrevista, logo depois que a notícia veio a público, via Blake Edwards, marido de Julie, você sente toda a dor desta mulher que, aos 13 anos, cantou para a rainha da Inglaterra e foi a cantora mais perfeita do teatro musical. Eu acho que este médico deveria ser apedrejado em praça pública. Julie Andrews ainda cantava muito, quando sofreu esta operação. Minha amiga, Claudia Barbosa, a viu na Broadway, em "Victor or Victoria", e me disse que, mesmo com todas aquelas cantoras fantásticas, que só a Broadway tem, ela está no topo, porque é única, inventou um estilo, que dizem que foi meio chupado da Marni Nixon, mas que eu considero uma invenção dela, porque ela é superior. Discutimos outro dia, eu e Servio Tulio, se era Nixon ou ela quem dublava Audrey Hepburn, em My Fair Lady, e Deborah Kerr, em "The king and I". Servio me provou que foi Marnie, através de pesquisa no Google. Mas eu vi um documentário, há anos, sobre "My fair lady", em que Julie aparece dizendo que todo mundo sabia que não era Audrey, mas ela que a estava dublando. Nos créditos, não há nada, porque queriam que a Audrey ficasse com os louros todos. A Audrey canta lindo também. Basta ver "Breakfast in Tiffany´s", onde ela entoa "Moon River", de Henry Mancini. Mas belting ela não faz. Eu só sei que impedir Julie Andrews de fazer o que é vital pra ela é um crime, que merece a pena capital.
Depois, vi outra entrevista dela, já mais conformada, e dando a volta por cima, ao se transformar em autora de livros infantis. Ela até brinca, dizendo que pensa em gravar "Old man river", com essa voz rouca que ela tem agora.

Então, penso em Luís Capucho, que também perdeu sua voz, no mesmo 1996, em outras circunstâncias e no sofrimento que foi pra ele. Do mesmo modo, ele se transformou em escritor. É, para mim, o grande romancista contemporâneo brasileiro, comparável a Machado e Lucio Cardoso. Mas ele foi muito determinado e voltou a cantar. Reinventou-se. Luís agora se firma como o nosso Bob Dylan, não apenas pela qualidade poética de suas canções, mas pelo jeito de cantar, que lembra muito Dylan, no início da carreira. Melhor, quando se tornou elétrico. Acho que Julie também irá se reinventar, em breve, e reaparecer como uma bluseira das melhores, da mesma maneira com que Doris Day é uma cantora de jazz tão poderosa que Ella Fitzgerald se dizia influenciada por ela.

Abaixo, dois momentos de Luís. Um antes. Outro depois. Tenho meu favorito, que é o depois, porque é mais rock´n roll. Como se ele tivesse feito a mesma trajetória que seu brother norte-americano. Aliás, eu sou uma, antes de Luís. E outra, depois dele. E acho que ele pode dizer o mesmo de mim, porque em arte, como dizia Mario Quintana, não há influência, mas confluência. E eu me sinto o contrário do que diz a letra de uma de nossas canções:"eu estou muito Luís..." E ele, não sei se está muito Mathilda, mas noto algumas semelhanças, sobretudo na sua postura agora mais conservadora na vida, no melhor sentido. Mas fiquem com o antes, "Velha", e o depois "Sucesso com sexo", meio cabotinagem minha. Não é uma questão de ego, porque como disse outro dia em resposta a uma interlocutora, não é meu ego que é fenomenal. Sou eu! Aos homeclips, pois, ambos realizados por Pedro Paz:



2 comentários:

luiscapucho disse...

obrigado, Mathilda!
Vou tocar, sim, Máquina de Escrever.
Ontem, fizemos nosso último ensaio. Dessa vez, Naldo Miranda apresentará algumas de suas músicas, dividiremos o show.
Mamãe adora esse vídeo da Velha que fizemos. Ela vê chorando. E ficou toda boba por você ter colocado ele aqui.
um beijo,
luís.

Renan Sanves disse...

Eu também choro um pouquinho quando vejo ''Velha''. E ''Sucesso com sexo'' é instiga minha veia humorística. Ah, eu estou Luís e Mathilda. hehe