quarta-feira, 2 de abril de 2008

A Queda da Pastilha ou Glen Closet (sic)

Alberto Moravia, quando esteve no Rio, no final dos anos 60, comentou que a aquitetura da cidade era uma das mais feias que ele já havia visto na vida. O Rio, até 1948, era uma Paris com mar. Linda! Mas a especulação imobiliária destruiu nosso art nouveau e déco e instituiu o art decoco, de que a síntese, ou célula-mater, se traduz na abominável pastilha. A pastilha foi caindo, com o passar dos anos, e sua queda conferiu à paisagem carioca um aspecto decadente, ou deca-dente, isto é, banguela. Nos anos 70, no bojo da pastilha, vieram o vidro fumé, o mármore branco e as esquadrias de alumínio. Tal combinação só perde para o Memorial da América Latrina (sic) em SP e o World Trade Center, cujas torres devem ter sido derrubadas por algum esteta furioso. Os apartamentos construídos, da década de setenta pra cá, portavam os piores materiais de construção existentes, bem como apregoavam as maravilhas da suíte, dos lavabos e do closet, para Gáudio, sem Gaudí, dos (art) nouveau riche.

O Rio de Janeiro é, pois, agora, uma cidade constituída de pastilhas caídas e closet people. Todo mundo entrou no closet, seja por covardia, por pudor, ou por imposição social. E não me refiro à orientação sexual, apenas. Refiro-me ao élan de cada cidadão. A ousadia. A audácia do bofe, do Boff, e de demais outsiders. Que agora são insiders, inside de closet. Puseram uma grande burca no RJ, esta cidade onde as mulheres só não usam véu, porque inventaram o fio dental. E esta burca, por sua vez, é um armário. O Rio entrou no armário. E fechou o paletó.

Já fiz, em texto antigo, a apologia da bicha louca, via eleição de Clodô. Trarei oportunamente este texto de volta, em nosso lavabo, oops! Eu amo as bichas loucas! Fui criada por um bando delas, que me apresentaram a Judy Garland, Esther Williams and so on. Sou bicha louca, mulher veada, sim, senhor...senhor...a. E não suporto mais divisar minhas plumas trancadas no armário.

E também não suporto mais closet gays, que advogam a misoginia, por não se saber ou não triunfar em seu empenho inconsciente de ser mulher. Vejo as mulheres serem maltratadas no Rio, por homens e mulheres, como nunca. Eu me sinto na Tunísia, onde os homens andam de mãos dadas e se beijam na boca, e as mulheres apanham feito boi ladrão, ou vaca profana. Não estou me fazendo de vítima, porque isto seria ser o reverso do algoz. Tou só de ovários cheios, d´après Fellini. Misoginia só topo a dele e a de Millôr Fernandes, porque a inteligência de ambos é feminina, e seu machismo um elogio à mulher. O resto eu desejo que, na impossibilidade de sair do armário, engula alguns tabletes - ou pastilhas - de naftalina, e passe bem pro andar de cima, de paletó fechado e calcinhas de renda de nylon.

E que nos deixem, nós, bichas loucas e mulheres, mulheres bichas loucas, loucas muito bichas, fazer não o carnaval caetanal, mas o nosso rock´n roll na avenida da cosmópole, Glen or Glenda, de angorá, agora, out of the closet...

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