terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cyber mother, sábia filha

Filha, com quem divido este boudoir, estes azulejos, este espelho...Não somos M.C. . Somos W.C. Estimulada por seu belo texto (algumas linhas abaixo), animei-me a ver "Juno", hoje. Ellen Page se parece com você. Já achei isto em "Hard candy" (Menina má.com). Como você, ela é um grande talento precoce. Pensei em como o filme discute as muitas formas de maternidade. Pensei em nós e nossa consangüinidade futurista. Pensei em nossas referências comuns. Nosso encontro. Aquilo que você falou sobre minha juventude ser a sua infância. E a interseção de nossos acervos afetivos ocorrer nos 80´s. Pensei no personagem dela que curte o que eu curtia. Pensei em como os yuppies vieram e se impuseram entre nós, com suas releituras sonic youth pasteurizadas, mas que estão valendo mais agora, na minha bolsa nova. Pensei em Diablo Cody, a roteirista, que poderia ter dividido uma mesa comigo no Cockrane e no Suburban Dreams, clubes de minha amiga Patricia Wuillaume. Pensei naquela época em que você se debruçava na janela para nos ver entrar no Crepúsculo de Cubatão, doida para se juntar aos darks de então. Pensei em como passou rápido. Em como a vida é curta. Em como não dá tempo e o tempo sobra. E quis lavrar isto no nosso encontro aqui. No nosso encontro no tempo que não tem tempo, nem hora, nem cronograma. Iggy Pop será sempre um moderno. E nós duas seremos sempre clássicas. Lembrei-me de seu cabelo pós-punk com reflexos cor de rosa e de minha franja curta, de um centímetro. Como disse o personagem do filme, no final, não nasci para ser comum. Nem você. Então, vou escovar meus dentes, antes de dormir, como fazem as pessoas comuns. Vou deitar e dormir, como faz a gente normal. Mas com a consciência de que sou diferente. E que, por ser diferente, como Juno, a deusa grega, nesta Já-Era, celebro no início o fim de tudo. E, no intervalo, converso com você no nosso banheiro. Sangue de meu suíngue. A mãe de Ellen Page, no filme, é substituída pela madrasta, que a ama mais que a mãe. A mãe do filho dela, por sua vez, é a moça que, mais que ela, podia e queria ser mãe. E, parafrasendo o pai, eu diria que mãe é quem aceita e ama a gente do jeito que a gente é. E filha também. A maternidade não é obra do projeto genoma. É produto da manufatura do afeto. A gente sempre espera que os pais nos aceitem e nos compreendam. E que os filhos nos perdoem. Mas este desejo não está inscrito no núcleo de uma célula. O DNAmor é dominante. E é ele que vai determinar as características comuns dos indivíduos incomuns. E assim duas Marias já fazem uma constelação. E o cosmos abençoa. Genes de gênio são sui generes... Bom dia!

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