segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Meu discurso no Oscar


Eu nunca consigo terminar o roteiro que irá me levar a receber o Oscar da categoria. Isto porque penso mais no vestido que vou usar na noite e no discurso, do que nos diálogos que irão me consagrar, finalmente, como roteirista internacional.
Ontem mesmo, eu só consegui escrever uma seqüência, para logo em seguida ceder à inconseqüencia e imaginar meu contumaz speech, que reescrevro a cada ano, desde 1972. Ele é mais ou menos assim:

Ladies and gentlemen, I won´t thank anybody except myself for this award... Se cheguei até aqui, não foi por obra de um deus ex machina, muito menos graças a meus colegas brasileiros. Se fosse pelo desejo deles, eu não receberia nem santo. Por falar nisto, eu comentei ontem com minha parceira de banheiro, que uma de nossas amigas, farta do mercado da música, resolveu seguir sua verdadeira vocação: ser mãe. De santo. Mas isto não vem ao caso...e não tentem desligar meu microfone, porque eu faço uma mandinga no terreiro dela pra cada um dos membros da Academia. Claro que devo, em parte, minha subida a este palco, à greve de roteiristas, que furei, porque, se eles reclamam do salário que recebem aqui, imagine eu, que não ganho nem um vigésimo e ainda levo cano. No Brasil, ninguém está feliz com minha premiação, porque alguns dos caloteiros que me contrataram, que eu não vou nem me dar ao trabalho de citar neste discurso, mas de que minha mãe-de-santo tem o nome e um chumaço de cabelo, inventaram que eu só fui capaz de granjear esta estatueta, graças ao fato de ter sido a única concorrente, uma vez que o resto está ali no tapete vermelho, fazendo piquete. Por essas e por outras, eu vou botar o oscar no saco e tomar umas e outras ali no backstage. Hemingway, Dorothy Parker e demais companheiros de profissão eram todos pinguços, como eu. Mas, que fique lavrado, eu sempre dou uma pro santo. Good night!

Um comentário:

Ana Baird disse...

Pessoa louca! Insana!!Maravilhosa!!
Eu não ensaio discursos do Oscar, mas toda vez que saio da terapia ensaio uma entrevista com a Marilia Gabriela...
Adorei!
Aninha Baird