sexta-feira, 14 de março de 2008

Coro Come-Come

Soube que o Coro Come vai voltar. Minha cyber filha nem era nascida, quando eles se uniram, em torno do Dida, um tenor extraordinário, para entoar sucessos de Hanna-Barbera. Eram os anos 80 e, a exemplo dos 60 e dos 70, quanto mais porra-louca melhor. Só que a porraloucura daquela década era mais chique. Mais cosmopolitan. As pessoas já tinham mais acesso ao que se produzia em Londres, Berlim e NY. E deixavam o bicho-grilo no mato, pra construir uma identidade urbana, at last. Eu sou dos anos 80, mas, na época, eu achava uma merda. Sempre curti mesmo os anos 20. Anos do modernismo. Porém, eu montei uma banda, como quase todo mundo, então, que acabou assinando contrato com gravadora, e fazendo um certo sucesso cult, no eixo Rio-São Paulo. A Mathildas, que primeiro se chamou Mathilda Kóvak e os Lexotans. Depois, Mathilda´s Infermary. E, por fim, por sugestão dos outros membros, Mathildas. Não era egotrip minha. Era alter trip do resto, que queria que eu assumisse toda a responsa por aquela loucura toda, quando, na verdade, as idéias malucas ali presentes eram geradas por todo mundo. Eu apenas as dirigia. Pedro Montagna era o baixista autista, personagem que ele levou pro Conga, a mulher gorila, desta feita,de turbante. Eduardo Pálbebras era o guitarrista adquirido numa liquidação da APAE. Patrícia Wuillaume a sex symbol eunuca, que destestava sexo e adorava símbolos. Ivan Zigg usava máscara de Groucho Marx e era o MC, formado em hipocondria na John Hopkins University. Luc Bernard era um mendigo das ruas de Paris que, por se assemelhar fisicamente com Nastassia Kinsky, virou baterista do grupo. César Lobo era o figurinista e Bobs Hope, um apresentador que usava smoking e bóbis na cabeça. Ele também fazia papel de índia equatoriana, nos intervalos. Reg Murray era a empresária e divulgadora e se vestia de replicante pra fechar os contratos. A crítica adorava a gente e nós temos pilhas de matérias nos principais jornais tanto do RJ, quanto de SP. O que nos diferenciava das outras bandas engraçadinhas, entretanto, era o som, que até hoje, quando ouço, acho bem diferente de tudo e muito consistente, do ponto de vista musical. As letras também eram muito boas e ousadas. Mary Fê diz que esta seria uma banda pra agora. Sempre tive fama de estar adiante do tempo. Mas sempre, na verdade, fui passadista. E acho que o Mathildas, bem como outros projetos em que estive envolvida, não só se incorporava à pós-modernidade, como podia se encaixar na frase que Marlene Dietrich profere, em A Marca da Maldade, de Orson Welles, quando lhe perguntam que novidade era aquela (uma pianola). Ela responde: "it´s so old that it is new."
O que eu gosto mesmo é de viajar no tempo, tanto pra frente, quanto pra trás, e costumo dizer que o presente só existe para contar o passado ao futuro. Entretanto, Mary Fê é responsável, como já disse antes, por eu me antenar com o que acontece no planeta hoje. Não porque ela viva atrelada ao agora. Ao contrário, ela é muito culta e conhece coisas tanto do arco da velha, quanto do arco de Titã, o satélite de Júpiter.
Por falar nisto, não posso de todo recusar o título de avant garde, porque tenho andado muito pela Grécia Antiga, ultimamente, e estou convencida de que, se o Império Romano, não tivesse pasteurizado aquela cultura, nós viveríamos num planeta bem mais civilizado e inteligente. Isto para não falar no politeísmo grego. Este que também foi assimilado pelos romanos. Não é que somos mesmo regidos pelos deuses! São esses planetinhas que têm nomes de mitos greco-romanos que nos comandam. E, agora, até água nos canais de Marte, subterrâneos, é claro, descobriram. Com o global warming e a seca que se avizinha, podem ter certeza de que os graúdos já estão de malas prontas pra migrar pra lá. Se houver um marciano como David Bowie me esperando, eu vou na cola. Mas viver na companhia de bactérias não está nos meus planos. Agora, dizem que são elas as responsáveis pela produção do gás metano. E que, se continuarem a expelir tais gases, em alguns anos, Marte será o paraíso que a Terra, graças aos predatas que somos, deixou de ser. Marcianos, acautelai-vos! A corja vai invadir sua praia. Os farofeiros do espaço sideral: nós! Sim, porque os autores de sci fi erraram feio, ao pensar que seriam os E.T.s que nos invadiriam. Nós é que vamos ser os monstros de ficção científica que povoaram a imaginação de H.G.Wells e demais escritores do gênero.
Mas este prólogo prolixo foi para chegar a uma espécie de marciano de pelúcia, em homenagem também à minha cyber filha, que toca uma guitarra de pelúcia, tem um CD de pelúcia e me considera sua mãe de pelúcia também: o Cookie Monter, de Vila Sézamo.
No Mathildas, nós o citávamos e reputávamos a ele a criação do movimento punk. E, ao saber que o Coro Come, ia voltar, dei a sugestão que em vez de Come apenas, ele viesse, nesta edição two thousand, sob a alcunha de Coro Come-Come, que é o nome do monstrinho aqui. Parece que a idéia agradou. Pode ser pós-moderna também, mas ao menos é de uma pós-modernidade mais visceral. Confiram, pois, no clipe abaixo, o charme deste tipo raro, enquanto o coro não vem:

3 comentários:

Ana Maria Santeiro disse...

eta, prólogo prolixo! mas sempre interessante coomo você vai concatenando as idéias. Aliás, por falar nelas, boa idéia essa da gente invadir Marte!

beijo

(elimina essa verificação de palavras!)

Ricky disse...

os marcianos não tem com o que se preocupar... a humanidade estará extinta antes mesmo de invadir a esquina... quanto mais metano terão os marcianos, menos gas terao os humanos... eu mesmo já ando totalmente sem gas...

bem, eu disse que os marcianos nao tem com o que se preocupar mas me esqueci de já foram invadidos... pela beth carvalho!

se pela menos tivessem levado uma gravação do mathildas para tocar naquela maquininha que se arrasta pelo solo vermelho o futuro do sistema solar seria outro. os mathildas eram muito mais coisinhas bonitinhas do pai, principalmente depois que o pai operou e trocou de sexo.

agora é tarde
para arte em marte

Anônimo disse...

Não conta pra ninguém.

Estive numa festa do Coro Come outro dia, ali no Cosme Velho. Um banco de cinquentões no Cosme Velho. Dizem que naquela casa ensaiavam quando era Cosme Novo. E eles tb.

Estão ensaiando sim, é verdade, mas no showzinho particular mal conseguiam lembrar as letras.

Só conseguiram cantar direito "Alguém cantando" e o hino internacional dos arquitetos. E eu estava perto dali.

Botaram a culpa na cerveja e no uísque. Mas eu interpretei como sendo "doença de ALL Zaimer".

A comida estava ótima, no entanto.