sexta-feira, 7 de março de 2008

AMO este radinho

AMO os comentários sobre o texto do orkútis. Agora, entendi: o add é de soma. Quanto mais amigos somados, mais conta ponto, vírgula, travessão... Vou agora mesmo arranjar mais amigos, porque eu tenho acho que uns trinta, no máximo. É bem verdade que não pedi a ninguém pra me...somar?! Mandavam-me uns convites e eu clicava em sim, pra não ser mal educada. Mas olha que me arrependi de ter outorgado o título de amigo a algumas pessoas que não param de me enviar junk mail, quer dizer, spam. Que gente mais folgada!
No mais, o meu conceito de amizade é um pouco diferente do previsto ali. Eu sou do tempo em que programa era algo que se fazia, de preferência, no fim de semana, do tipo cinema, jantar fora...E também da época em que amigo era alguém que a gente conhecia face to face e não interface to interface. Alguém com quem a gente conversava, desabafava, que freqüentava a casa, que fazia, enfim, os tais programas que não eram Flash, mas dance.

Eu não acho, contudo, que o conceito de amizade tenha sido deturpado pelo orkútis. Acho que é um reflexo, apenas. Eu vi um filme russo, há alguns anos, em que o personagem dizia que, depois do fim da URSS, a amizade havia acabado na Rússia. Hoje, penso que, com a queda do muro de Berlim e o conseqüente expansionismo neoliberal, a amizade acabou no mundo inteiro. Noto as pessoas muito desconfiadas, sem tolerância para aqueles que, outrora, seriam chamados de amigos. Hoje, uma velha amiga, a quem muito cito neste blog, direta ou indiretamente, a Patricia, me escreveu um email, de LA, dizendo que pessoas que nos olham para além de nossos erros são os verdadeiros amigos. Esta minha amiga, desde adolescente, me disse, quando a fui visitar na Califórnia, através de uma passagem mandada por ela, que, quando você gosta de um amigo, você gosta até do que não é de se gostar. O resumo disto é o perdão e a tolerância. Além do fato de as relações serem fugazes no agora, outras que se estabeleceram num outro momento parecem se vulnerabilizar ante a lista de prioridades prescrita pela sociedade contemporânea, que passa ao largo do simples gostar. Eu queria escrever algo sobre o dia internacional da mulher, mas, ao ler o inteligente comentário do Beto, senti desejo de falar, outra feita, do orkut, e repensar alguns conceitos vetustos, que uma anciã do século XX, que viu foguetes chegarem à lua, ainda mantém no acervo afetivo. Não se trata de passadismo, again. Trata-se de um pensar sem muito norte. Simultaneamente, se, de um lado, a amizade pode vir a se circunscrever a um pedido de somar, acrescentar, acumular, bem ao sabor do capital voraz. Ela, do mesmo modo, assume contornos diferentes e talvez mais completos do que se possa supor.
E o encontro se faz. E a tribo se restabelece. Fiz muitos e bons amigos através deste instrumento. Fiz, da mesma maneira, alguns ferozes inimigos. Mas, graças a alguns amigos, como esta minha cyber filha, eu finalmente encontrei o rádio com que eu sonhara, há quase trinta anos. Quando eu trabalhei em rádio, eu adorei a interatividade que se estabelecia entre radialista e ouvinte. E eis que agora temos o nosso radinho de galena de volta. Onde torno a me surpreender com a inteligência que se manifesta no discurso de uma voz telefônica, numa carta...que aqui se pronuncia num comentário. Nunca acreditei, como alguns colegas de mass media, na passividade do público. Tampouco em sua pobreza intelectual. Sempre suspeitei que meus pares me ouviam e era tão somente para eles, este segmento que não aparece, claro, em pesquisas, que eu falava. Adorava quando um ouvinte me corrigia. Ou quando eu recebia um cartão muito inspirado. Alguns desses ouvintes se tornaram meus amigos e são amigos até hoje. Então, sinto-me um pouco como naquele tempo, ao ler comentários, que me fazem pensar e tecer novos encadeamentos, costuras, enleios e enlevos. Aqui esta comunicação é ainda mais instigante. Porque é uma troca legítima e porque a escritura de um blog é sempre um work in progress. Uma obra inacabada. Uma arte que se faz na hora. E quem lê é, do mesmo modo, um blogueiro, um autor... Então é uma conversa simétrica, equânime. A aldeia global de MacLuhan efetivada. Mas de um modo nunca sonhado por ele. Em seu primoroso, "O meio é a mensagem", ele defendia que a era dos mass media seria o oposto da Renascença. Concordo inteiramente. Mas este meio, que julgo feioso, que me dói os olhos, que me enche de LER e não-ler, não é a mensagem. É meio mesmo. E o tiro vai sair pela culatra, para os mass killer media. A massificação acabou.

Continuem escrevendo, queridos ouvintes, querido leitor, querido autor, querido amigo oculto revelado na palavra, no Verbo, princípio do Caos, de onde nascerá, como queria o ora desgastado Nietzsche, uma fulgurante bailarina.

Obrigada, amiguis!

Bacci,
Mathilda Mussum Corleone, manicure, barbeira e nerdis lerdis

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